Boletim interno da Direção Nacional da
tendência petista Articulação de Esquerda
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1.Pauta da próxima reunião da executiva nacional
Vamos debater o balanço do PED, nossas indicações para DN/CEN, o texto base do X Congresso da AE e nossa tática no encontro nacional do PT. A reunião será presencial, no dia 31 de julho, as 18h00, em Brasília. Integrantes da Dnae que puderem estar devem participar. Endereço: contatar Daniela.
2.Primeira parte da reunião da direção nacional
Vamos debater nossa tática no encontro nacional do PT, bem como socializar e debater o que for necessário dos demais pontos debatidos pela executiva nacional. A reunião será presencial, no dia 1 de agosto, das 9h00 às 13h00. Toda a delegação ao encontro nacional do PT está convidada a participar. Local: Auditório do SINDSEP – Setor Bancário Sul (SBS), quadra 1, bloco K, 17º ANDAR
3.Segunda parte da reunião da direção nacional com a delegação ao encontro nacional
Será presencial, no local do encontro (Centro de Convenções Brasil 21), em sala a confirmar.
4.Programação do encontro nacional do PT
Será de 1 a 3/8 em Brasília. Assim que possível divulgaremos à programação. Haverá uma atividade prévia, organizada pela Fundação Perseu Abramo.
5.Próxima edição do Página 13
Textos devem ser enviados até o dia 8 de agosto.
6.Conferência Sindical Nacional da AE
Será no dia 27/11 (dia todo) e 28/11 (manhã).
7.Congresso nacional da AE
Será nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2025, em São Paulo capital. O regulamento está disponível no OM 473. A pauta do X congresso será a seguinte: i/situação politica e tarefas; ii/balanço do PED e desafios do PT depois do PED; iii/plano de trabalho e eleição da nova direção nacional e comissão de ética. Os congressos de base podem ser realizados entre os dias 29 de setembro de 2025 e 23 de novembro de 2025.
8.Programação do congresso da AE
A programação tentativa, sujeita a alterações, é a seguinte: dia 28 sexta as 19h00 abertura. Dia 29, sábado, manhã e tarde, situação política e tarefas. Noite de sábado, livre. Dia 30, manhã, balanço do PED e desafios do PT depois do PED. Dia 30, 12h00, aprovar plano de trabalho, eleição da nova direção nacional e comissão de ética. 13h30, encerramento. Recomendamos que reuniões setoriais nacionais da AE sejam feitas no dia 28 de novembro de tarde ou no dia 30 de novembro de tarde.
9.Projeto de resolução
Está em debate na direção nacional da AE o seguinte projeto de resolução. Esperamos concluir o debate até o dia 1 de agosto, para poder circular logo em seguida ao encerramento do encontro nacional do PT. Pedimos que todos leiam e façam emendas antes dessa data, para podermos levar em conta no debate da Dnae. Emendas devem ser enviadas para a Dnae.
O X congresso nacional da tendência petista Articulação de Esquerda vai ser realizado presencialmente, nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2025, em São Paulo capital.
A pauta do X congresso será a seguinte: i/situação política e tarefas; ii/balanço do PED e desafios do PT depois do PED; iii/plano de trabalho e eleição da nova direção nacional e comissão de ética.
As propostas de resolução ao X congresso, referentes a cada ponto de pauta, serão aprovadas pela direção nacional da AE e divulgadas até o dia 28 de setembro de 2025. O que segue é um anteprojeto para discussão na Direção Nacional da AE.
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SITUAÇÃO E TAREFAS
1.Hoje, mais do que nunca, é necessário iniciar a análise da situação política a partir dos conflitos mundiais, cujo epicentro está no movimento que os Estados Unidos fazem com o objetivo de ser “grande novamente”. Existem divergências táticas e estratégicas, na classe dominante dos EUA, acerca de como executar este movimento. Por este motivo, mas também porque Trump é caricato, há quem subestime suas ações ou as trate como manifestações idiossincráticas. Trabalhamos com outra hipótese: em momentos de crise profunda do capitalismo nada mais normal que uma parte da classe dominante apele para o populismo de direita. O ataque aos trabalhadores migrantes, um contrassenso do ponto de vista econômico, só ganha sentido quando observado a partir desta chave política. Seja como for, os objetivos gerais do governo Trump não diferem dos objetivos defendidos pelos Democratas: derrotar a China, requintalizar a América Latina, recuperar liderança industrial e tecnológica, chantagear militarmente o mundo. Ademais, sob Trump ou sob os Democratas, não se deve subestimar o inimigo. Vale lembrar o que dizia o velho Mao: do ponto de vista tático, o imperialismo não é um tigre de papel.
2.A União Europeia nasceu e continua até hoje sob domínio do neoliberalismo. As diferentes famílias da esquerda europeia não conseguiram até agora oferecer uma alternativa. Um dos motivos disso é que parte da esquerda europeia aderiu ao neoliberalismo, contribuindo para que parte da classe trabalhadora aderisse à extrema-direita. O “progressismo neoliberal” é incapaz de barrar o avanço do fascismo. E o keynesianismo militar, que pretende recuperar o protagonismo industrial europeu produzindo armamentos, aponta para um futuro de mais e mais guerra. A cúpula europeia fala abertamente que estariam muito próximos de uma guerra geral da OTAN contra a Rússia. De forma diferente, mas no mesmo sentido, marcha o Japão, em acelerado processo de rearmamento, tendo como alvo óbvio a China.
3.Impedir a guerra, deter o fascismo, derrotar o neoliberalismo, são tarefas inseparáveis do enfrentamento ao imperialismo e ao capitalismo. Por isso as movimentações autointituladas “progressistas” e/ou “democratas” podem ser importantes, mas são insuficientes. O futuro imediato e de médio prazo da humanidade depende das batalhas que estão sendo travadas pelas classes trabalhadoras e pelos povos, dentro dos países capitalistas centrais e nos diferentes países da Ásia, África e América Latina.
4.Nesse contexto, China e a Rússia são contrapontos objetivos ao imperialismo estadunidense. No caso da China, mais que um contraponto, um ponto de apoio para a construção de uma alternativa sistêmica. Mas o nosso objetivo não deve ser o de substituir a hegemonia gringa pela hegemonia chinesa. É preciso construir na África e na América Latina polos alternativos de poder.
5.Nossa tarefa central, pensando em termos geopolíticos, é a integração latino-americana e caribenha. O principal obstáculo está na aliança entre as classes dominantes locais e o imperialismo, especialmente o dos Estados Unidos. Dito de outra forma: não haverá integração regional sob hegemonia dos capitalistas.
6.A integração regional já passou por diversos momentos. Hoje enfrentamos inúmeras dificuldades: redução da integração comercial e ampliação da integração com países de outras regiões; diversos países sob governo de extrema-direita e neoliberais; disputas internas duríssimas dentro da esquerda, como na Bolívia; disputas entre governos do nosso campo, como o existente entre Venezula e Brasil; Cuba numa situação mais difícil do que em todos os momentos desde 1959. É do Brasil que pode vir o impulso necessário para a retomada da integração como projeto estratégico. Mas a postura do Brasil depende de mudarmos profundamente a correlação de forças interna.
7.O que está acontecendo no Brasil não é uma luta eleitoral entre “neofascistas versus progressistas”. O que está acontecendo é parte de uma guerra que vai decidir o lugar do nosso país no mundo e o destino da nossa sociedade pelas próximas décadas.
8.No mundo inteiro, estamos em meio a uma crise sistêmica, um ambiente marcado por catástrofe climática, pandemias, ultraliberalismo, neocolonialismo, imperialismo, guerras e genocídio, ameaças nucleares, neofascismo, fundamentalismos, racismo, machismo, lgbtfobia, preconceitos e violências de todo tipo e sabor, sem falar da ameaça existencial que a inteligência artificial e a robotização lançam sobre toda a classe trabalhadora. A direita e a extrema-direita reagem e, ao mesmo tempo, aprofundam esta crise à medida que ampliam a destruição do meio ambiente, a dominação dos povos e a exploração das classes trabalhadoras.
9.No Brasil, isso é o que vem ocorrendo desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, seguido da condenação, prisão e interdição eleitoral contra o presidente Lula, da eleição do cavernícola e do golpe continuado promovido pela ditadura do capital financeiro e do agronegócio contra a nação brasileira. O crime inicial foi articulado principalmente pelo MDB e pelo PSDB, com o apoio do STF, do oligopólio da mídia, do grande capital, da cúpula das Forças Armadas, das empresas da fé e do governo dos Estados Unidos. Naquela época, em 2016, a extrema-direita neofascista era uma força muito pequena. Foi a direita neoliberal tradicional que criou as condições para o crescimento da extrema-direita. Aliás, no segundo turno de 2018, a maior parte da direita tradicional apoiou a extrema-direita, assim como, por muito tempo, ajudou na governabilidade da gestão cavernícola. Portanto, foi graças à direita tradicional que a extrema-direita neofascista cresceu de forma significativa, não só eleitoralmente, mas também socialmente, construindo o que hoje é: uma força política com grande base de massas. Ao crescer, a extrema-direita foi influenciando, “engolindo” e ameaçando a sobrevivência da chamada “direita tradicional”. O PSDB, outrora o principal partido da direita brasileira, hoje é um morto-vivo. E o Supremo Tribunal Federal, apesar de ser uma fortaleza do neoliberalismo, é alvo de pesados ataques por parte da extrema-direita nacional e internacional.
10.Esta situação complexa e cheia de contradições provoca, em alguns setores da esquerda, uma avaliação equivocada acerca da relação entre as duas direitas. De um lado há os que não enxergam nenhuma nuance. De outro, há os que aplicam uma política de alianças que desconsidera as contradições estratégicas existentes entre os que defendem as chamadas instituições.
11.A grande ameaça à democracia brasileira é a tríplice aliança entre agronegócio, capital financeiro e imperialismo. Esta tríplice aliança se expressa politicamente em todos os partidos da direita. Embora haja conflitos entre as duas direitas, ambas, tanto a tradicional quanto a neofascista, defendem no fundamental o mesmo programa econômico, marcado pelas privatizações, desmonte dos serviços públicos, retirada de direitos sociais e trabalhistas, favorecimento ao imperialismo, ao capital financeiro, ao agronegócio, às mineradoras que sustentam o modelo primário-exportador extrativista e predatório. Portanto, alianças eventuais e pontuais com setores da direita só podem ser feitas quando não coloquem em questão a implementação de nosso programa.
12.Não podemos separar a defesa da democracia da defesa do bem-estar social, da defesa da soberania nacional, da defesa de um novo modelo de desenvolvimento, baseado na industrialização e na superação da condição primário-exportadora. O Partido dos Trabalhadores não pode ser converter, portanto, em mais um desses partidos que se autointitulam “progressistas”, que supostamente em nome da “democracia” fazem alianças com a direita neoliberal, exatamente aquela que, em cumplicidade criminosa com a extrema-direita, está há tempos destruindo as condições de vida do povo e, assim, sabotando as condições básicas para que exista uma verdadeira democracia em nosso país. Por isso, o PT não pode incorrer no erro dos que – supostamente com o objetivo de derrotar o neofascismo – tentam transformar a esquerda em defensora do sistema, em defensora do modelo primário-exportador, em um partido que relativiza o papel do agronegócio e do capital financeiro na sustentação da extrema-direita, em um partido que tem medo da polarização, em um partido que não fala mais de reformas estruturais e de socialismo.
13.A grande influência destas posições equivocadas em nosso governo federal e em nosso Partido, evidenciada no PED 2025, explica parte dos motivos pelos quais seguimos fortemente constrangidos pelos neoliberais e ameaçados pelo neofascistas. É preciso recuperar as ideias que nortearam a campanha presidencial de 2022: reconstrução e transformação. Para que haja transformação precisamos, além de mudanças na conduta política do governo, uma ampliação radical nos investimentos públicos, tanto no bem-estar social quanto na industrialização. E para isso precisamos mudar a política econômica, alterando a meta de inflação, reduzindo os juros e deixando de lado a meta do déficit zero.
14.Se não fizermos este giro à esquerda, se não alterarmos a política econômica, aumentam as chances de sermos derrotados no enfrentamento com o governo Trump, de não conseguirmos alterar estruturalmente as condições de vida do povo, além de crescer o risco de um revés nas eleições de 2026. Sem falar do risco de nos convertermos num daqueles partidos que só têm “um grande passado pela frente”.
15.Muita gente na esquerda brasileira reconhece que estamos correndo este risco. Mas também existem pessoas que, apesar de perceberem o risco que estamos correndo, desistiram de fazer algo diferente, entre outros motivos porque não acreditam que seja possível fazer algo muito diferente do que já vem sendo feito. Essas pessoas colocam a “culpa” na correlação de forças, se comportando como se esta correlação fosse algo imutável, impossível de ser transformada. Não concordamos com esta postura passiva, imobilista, fatalista. É um fato que a direita e a extrema-direita ocuparam muito espaço junto ao povo, nas instituições, assim como na disputa de ideias, de projetos e de concepção de mundo. Mas também é um fato que isso pode ser alterado se o Partido dos Trabalhadores, o conjunto da esquerda e inclusive nossos governos e bancadas aumentarem a mobilização, a disputa política e ideológica.
16.Pelos motivos descritos anteriormente, seguiremos na luta por:
-mudança imediata na meta de inflação, na política de juros e no “Marco Fiscal”;
-valorização do salário mínimo e das aposentadorias, assim como preservar os pisos constitucionais de saúde e educação;
-retomar a campanha pela revogação das contrarreformas sindical, trabalhista e previdenciária;
-derrotar as tentativas que neofascistas e neoliberais fazem para destruir as nossas políticas sociais, militarizar a segurança pública, devastar o meio ambiente, privatizar o Sistema Único de Saúde e a educação pública;
-transformação profunda das condições de vida nas cidades brasileiras, com ênfase na reforma urbana, na habitação, saneamento, transporte público e gratuito;
-ampliar o controle público sobre a Petrobras e sobre a geração e distribuição de energia elétrica;
-reforçar as medidas em favor soberania nacional, com destaque para a reforma agrária e para a industrialização;
-trabalhar para que o Brasil tenha “redes sociais” de propriedade pública e nacional, assim como tomando medidas para cumprir a Constituição e quebrar o oligopólio da mídia;
-converter a Cultura num dos pilares da ação do Partido, do conjunto das forças democráticas e populares, bem como de nossos governos;
-vigiar para que os golpistas sejam todos julgados, condenados e presos, com todo rigor da lei. Sem anistia para golpistas;
-defender uma reforma estrutural das Forças Armadas, para que nos marcos da democracia elas sejam capazes de defender a soberania nacional contra os que desejam transformar o Brasil em “quintal” de potências estrangeiras, a começar pelos EUA;
-retomar a política de integração regional da América Latina e Caribe, por exemplo ajudando Cuba e Venezuela na luta contra o bloqueio;
-participar do Plebiscito Popular que coloca em debate a tributação justa, a redução da jornada de trabalho sem redução salarial e o fim da escala 6 por 1;
-engajar o Partido na mobilização de rua e na pressão legislativa pelo fim da escala 6 por 1;
-mobilizar o Partido na campanha em defesa da Palestina Livre, contra o genocídio praticado pelo Estado de Israel e pela ruptura das relações diplomáticas entre o Brasil e Israel;
-articular desde já a campanha nacional pela reeleição de Lula em 2026, tendo como diretriz fundamental que nossa vitória depende de nossa aliança com a população pobre, trabalhadora, periférica, jovem, das mulheres, negros e negras. O que passa por termos candidaturas de esquerda para disputarmos as eleições majoritárias e proporcionais em todos os estados do país. É preciso criar as condições não apenas para vencer, mas também para que o próximo mandato de Lula possa ser superior ao atual;
-estimular a luta social. Sem mobilização independente das classes trabalhadoras, não haverá alteração na correlação de forças, indispensável para alterar a sociedade brasileira e para mudar o lugar do Brasil no mundo.
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BALANÇO DO PED E DESAFIOS DO PT
17.O PED 2025 deveria ter ocorrido dois anos antes, em 2023. O adiamento prejudicou o desempenho do PT nas eleições de 2024, fragilizou o funcionamento das direções partidárias em todo o país e nos obrigou a realizar o PED numa conjuntura que favorecia quem não queria debater as divergências acerca da condução do governo, das bancadas, dos movimentos e do próprio Partido. Essa dificuldade foi transformada em chantagem explícita quando o candidato presidencial da CNB afirmou que recortes das falas dos seus adversários seriam usadas pela direita nas eleições de 2026. Ou seja: primeiro adiam o PED e depois querem o silêncio obsequioso dos adversários.
18.Desde 2001, quando foi aprovado pela primeira vez, existe um setor do Partido que critica o PED. Esta crítica envolve duas dimensões. Por um lado, há uma questão de concepção de partido: a eleição de delegados, feita a partir da base, em reuniões presenciais, é conceitualmente superior à eleição direta, entre outros motivos porque: i/é mais fácil fazer com que os eleitores estejam em pé de igualdade com os eleitos; ii/preserva a noção de que o partido é estruturado por coletivos, não por indivíduos. Por outro lado, há uma questão de natureza prática: em todos os PED realizados até hoje, de 2001 a 2005, ocorreram fatos inaceitáveis, que fazem nossas eleições diretas terem distorções similares e as vezes piores do que as que ocorrem nas eleições tradicionais. Exemplo destas distorções: votação realizada com complicadérrimas cédulas de papel, filiações industriais, compra de votos, ingerência explícita de pessoas vinculadas a outros partidos, pessoas votando no lugar de outras, voto de mortos, atas adulteradas, abuso de poder econômico, uso da máquina, influência eleitoral das emendas parlamentares, assédio de diversos tipos, intimidação contra fiscais, manipulação das comissões organizadores por parte de determinadas chapas e candidaturas, pequeno ou nenhum debate oficial entre as posições concorrentes, inexistência de fundo eleitoral para garantir igualdade de condições, desigualdade no acesso aos meios de comunicação, recursos de origem desconhecida etc.
19.O mesmo Diretório Nacional do PT eleito em 2019 e que também adiou o PED para 2023 teve que decidir como seria a eleição partidária convocada para 2025. Duas posições se confrontaram: fazer o PED clássico ou fazer o PED num formato misto (como ocorreu em 2017 e 2019). No Diretório Nacional que deliberou a questão, nós reafirmamos nossa posição de princípio contrária ao PED; ao mesmo tempo dissemos que, nas condições atuais do Partido, um PED misto como estava sendo proposto seria pior do que o PED clássico. Dito de outra forma: o PED misto teria todos os defeitos e não teria uma qualidade do PED clássico: preservar todos os votos dados nas chapas nacionais. O resultado final do PED 2025 confirma que estávamos certos: para nós da AE, o PED misto poderia ter significado nossa exclusão da CEN.
20.O PED de 2025 confirmou que o sistema eleitoral do PT tem imensos defeitos. Vários deles são resultado da ação deliberada de outras tendências do Partido. Alguém promove filiações industriais. Alguém compra votos. Alguém abre a porta para que políticos de direita se intrometam na vida interna do PT. Alguém promove fraudes. Alguém consegue dinheiro não se sabe onde para bancar campanhas caras. Alguém usa dos espaços de poder conquistados na institucionalidade para fazer pressão sobre o Partido. Alguém age nas direções, não como magistrados, mas como parte interessada no resultado. Alguém aprova calendários com poucos debates. Seguiremos denunciando todos e cada um destes crimes contra a democracia partidária. Mas não temos ilusões. Vários setores do Partido compactuam com estes malfeitos. Vale lembrar que votaram 549 mil pessoas, sendo que aconteceram 340 mil novas filiações! Vale lembrar que somente a Articulação de Esquerda votou, na Câmara de Recursos, a favor do recadastramento destas filiações em volume excessivo. Basta olhar os resultados para perceber quais chapas e setores foram mais beneficiadas por esta situação. Eles não serão convencidos por argumentos nem súplicas. Afinal, se não tivessem feito o que fizeram, o resultado teria sido outro. Por isso, se queremos vencê-los, é preciso descobrir o que devemos fazer diferente.
21.Após as eleições de 2024, fizemos duas atividades nacionais da AE, onde decidimos que lançaríamos chapa nacional e candidatura à presidência nacional. Não aceitamos a alternativa que nos foi proposta, a saber, apoiar a candidatura de Rui Falcão. O resultado final do PED 2025 confirmou que tínhamos razão. Não ter candidatura presidencial nacional poderia ter nos custado ficar fora da executiva nacional do PT. Ademais, a candidatura de Rui Falcão não demonstrou o potencial – nem político, nem eleitoral – que alguns imaginavam que teria. Reiteramos que melhor teria sido que Rui Falcão tivesse se apresentado como candidato avulso, de centro, para disputar a CNB. Reiteramos, também, que teria sido melhor que outras tendências da chamada esquerda petista tivessem lançado candidatura própria, o que provavelmente teria levado a disputa presidencial para o segundo turno: afinal, a chapa da CNB teve 51% dos votos. Se o candidato da CNB fosse apoiado apenas pela CNB, é bastante provável que houvesse segundo turno na disputa da presidência nacional do PT.
22.A Articulação de Esquerda dispunha de alguns nomes que poderiam ter assumido a candidatura nacional. Avaliamos que a candidatura escolhida desempenhou o papel que dela era esperada. Avaliamos, também, que é preciso construir desde já mais alternativas para que possamos disputar o PED 2029.
23.Avaliamos que a coordenação da campanha nacional desempenhou o papel que dela era esperada. A comunicação da campanha foi diversificada, de qualidade visual e política. Realizamos atividades presenciais em 19 estados e virtuais em 2 estados (MT e BA). Não realizamos nenhuma atividade em Rondônia, Acre, Roraima, Goiás, Amapá e Distrito Federal. Vale dizer que tentamos fazer atividade no DF, mas não conseguimos combinar uma agenda com a AE DF.
24.Nossa orientação nacional foi que a AE lançasse chapas e candidaturas próprias nos estados OU pelo menos nas capitais. Na maioria dos estados isso não ocorreu, seja porque a AE não existe, seja porque ela é muito débil, seja porque cometemos erros na inscrição da chapa, seja porque adotamos outra tática. Reiteramos que a orientação nacional estava correta e sua não aplicação prejudicou nossa tática nacional, independentemente dos resultados (positivos ou negativos) que possa ter tido em âmbito local. Alertamos que deixar a disputa estadual se travar entre apoiadores da maioria é prejudicial para uma esquerda que ambiciona ser hegemônica. Na prática, vamos nos convertendo em linha auxiliar da eventual maioria estadual, mais ou menos como outras tendências da esquerda fazem em âmbito nacional. Quando fazemos isso, mesmo tendo força suficiente para fazer diferente, estamos diante de uma opção que julgamos equivocada.
25.Cabe analisar com detalhe nosso desempenho nas cidades. Há vários casos em que tivemos resultados expressivos ou demonstramos potencial. No sentido oposto, há cidades decisivas onde por diversos motivos não tivemos candidaturas e chapas, ou obtivemos desempenho abaixo da média. É o caso, em primeiro lugar, da cidade de São Paulo (SP). A tendência precisa avaliar o que ocorreu nesses e noutros casos e tomar as devidas medidas políticas e organizativas.
26.Confirmou-se mais uma vez que nossa inexistência ou fraqueza em alguns estados é uma ameaça a nossa continuidade na direção nacional do PT. É preciso tomar medidas políticas e organizativas para organizar a AE onde ela não existe, para ampliar onde ela já existe e é muito débil, para crescer onde ela está organizada, mas tem fraco desempenho eleitoral. Em certos casos, isso depende de ajuda e orientação direta da direção nacional da AE. Um exemplo de como é eleitoralmente importante ter presença em todos os estados é o desempenho da chapa e da candidatura do Movimento PT.
27.Cada direção municipal e cada direção estadual precisa escrever um documento oficial de balanço, para que possamos fazer uma análise do conjunto da situação. Nos casos críticos citados no ponto anterior, estes documentos devem ser objeto de discussão em reuniões bilaterais convocadas para este fim.
28.No plano nacional, sofremos uma derrota eleitoral. Dado o contexto em que ocorreu o PED, foi em si mesmo uma vitória política participar com destaque da disputa, inclusive ampliando nossa votação em termos absolutos. É importante lembrar que não tivemos do nosso lado o presidente da República, ministros, senadores e governadores, nem a maioria esmagadora das direções partidárias, dos deputados federais, estaduais e prefeitos. Nosso resultado, mesmo que pequeno, é íntegro e honesto: corresponde a uma linha política acertada e a um trabalho militante. Entretanto, se é verdade que cumprimos bem nosso dever político, não devemos minimizar o fato de termos perdido 2 das 5 vagas que tínhamos no DN e quase termos ficado fora da CEN. A continuar assim, no próximo PED podemos ser excluídos da CEN. Claro que o resultado em parte deve-se às condições desiguais da disputa: nós crescemos nossa votação, mas nossos adversários cresceram muito mais do que nós. Entretanto, é inútil reclamar das condições e dos adversários: do que precisamos é enfrentar e superar uns e outros. Se consideramos essencial estar na CEN e se queremos fazer isso através de nossas próprias forças, então é preciso discutir como fazer para atingir este objetivo eleitoral sem que para isso seja necessário, como outros fazem, abrir mão da defesa da nossa política. É importante lembrar que nosso resultado eleitoral teria sido melhor se não tivéssemos sofrido três cisões: uma no MS, outra no RS e outra no Piauí. Nos três casos, setores que marcham conosco há décadas escolheram aliar-se com nossos adversários na luta interna, chegando em dois casos (MS e RS) a apoiar a candidatura nacional da CNB. Não havia como evitar essas cisões, pois correspondem a divergências políticas reais, que aliás deveriam ter se manifestado antes e de forma mais adequada.
29.Ao mesmo tempo em que fazemos este balanço realista acerca do que ocorreu no PED, afirmamos que nas condições dadas, a melhor alternativa foi a linha que adotamos. Em certo sentido isto é comprovado pelo desempenho de outros setores da chamada esquerda petista, setores que se saíram pior, seja política, seja eleitoralmente. Saíram-se pior politicamente os que apoiaram Edinho (Resistência Socialista, EPS, a maior parte do Novo Rumo, metade do Socialismo em Construção, setores do MST e do Movimento Brasil Popular). De forma geral, saíram-se politicamente pior todas as tendências nacionais que abriram mão de apresentar sua posição ao Partido. Saíram-se pior eleitoralmente as tendências que, em nome de aumentar seus resultados deixaram de lançar candidatura e chapa próprias, mas, ainda assim, reduziram sua presença no DN e na CEN.
30.O que fazer? Primeiro: reafirmar nossas posições acerca do PT. Segundo: seguir demarcando com aqueles que renunciaram a disputar os rumos do PT, transformando-se em linha auxiliar da CNB. Terceiro, reforçar simultaneamente nossa organicidade & nossa inserção junto a classe trabalhadora. Quarto, dar prosseguimento à renovação geracional na direção da tendência e também a diversificação da cara pública da tendência. Quinto, compreender que a disputa pelos rumos do Brasil, do governo e do PT não apenas prossegue, como deve se intensificar no próximo período.
31.O PT é um influente partido de massas. Nossa ação impacta o curso dos acontecimentos no Brasil e no mundo. O desafio do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras é muito maior do que disputar eleições e exercer mandatos institucionais. Nosso desafio é transformar o mundo, melhorar a vida do povo e construir o socialismo. O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras tem a missão histórica de liderar o povo brasileiro na luta pelo bem-estar social, pelas liberdades democráticas, pela soberania nacional, pela integração regional, pelo meio ambiente, pelo desenvolvimento e pelo socialismo. E para fazer tudo isso não basta eleger e governar. É preciso construir e conquistar o poder. E isso envolve organizar a classe trabalhadora em todos os territórios onde ela mora, trabalha, estuda e se diverte. E para tal é necessário que o Partido esteja presente nos territórios.
32.Embora a militância petista esteja lá, presente no dia a dia do povo, o Partido enquanto tal não está atuando de forma permanente e organizada nos territórios, nas empresas, nas escolas, nos locais de moradia, nos espaços de cultura e lazer, nos quilombos, ocupações, assentamentos e nas iniciativas da economia solidária. Sem isso, é cada vez mais difícil ganhar eleições. Até porque as regras do jogo eleitoral favorecem as candidaturas da direita e da extrema-direita. Mas, como já dissemos, não se trata apenas de eleições. O mais importante é que, sem presença organizada nos territórios, perderemos nossa razão mesma de existir, que é a de participar de forma permanente da luta da classe trabalhadora brasileira, não apenas dos processos eleitorais.
33.Para estar presente na luta cotidiana da classe trabalhadora, é preciso um partido organizado e militante. Mas, para que exista militância, é preciso motivação ideológica. Só a motivação ideológica faz com que as pessoas dediquem grande parte de sua vida à luta. Também por isso é decisivo vincular as lutas imediatas com nossos objetivos estratégicos e históricos.
34.Cabe ao nosso Partido defender com toda a força as transformações estruturais pelas quais lutamos, entre as quais uma ampliação radical das liberdades democráticas e do bem-estar social, combinados com a defesa da soberania nacional, da integração regional, do meio ambiente, da industrialização, de um desenvolvimento de novo tipo e do socialismo. Estas transformações estruturais estão indissoluvelmente ligadas à conquista do poder pela classe trabalhadora.
35.Não confundimos governo com poder. E não queremos o poder para o Partido, queremos o poder para a classe trabalhadora. Sem a conquista do poder pela classe trabalhadora, não haverá construção do socialismo. As transformações históricas pelas quais lutamos serão realidade se a classe trabalhadora brasileira se movimentar de forma intensa, profunda, de massas, em favor de mudanças radicais na ordem em que vivemos. Uma mobilização deste tipo só terá êxito se dispuser do estímulo e do suporte de uma rede de organizações políticas e sociais verdadeiramente enraizadas no cotidiano da classe trabalhadora.
36.Noutras palavras: precisamos de uma esquerda de massas e de um partido de massas. Um partido militante em luta pelo socialismo. Neste sentido, o Partido dos Trabalhadores é insubstituível. Mas o Partido realmente existente tem muitas debilidades que precisam ser enfrentadas e superadas por nós. Reorganizar o Partido para fortalecer nossa presença nos territórios, organizar diretórios, estimular a organização das lutas sociais, é preciso colocar o Partido no comando. O PT não pode continuar dependente, subordinado e tutelado por governos e por mandatos parlamentares, especialmente de deputados estaduais e federais, que muitas vezes subordinam a estratégia do Partido a seus interesses eleitorais particulares. Registre-se que a maioria dos presidentes estaduais do PT, eleitos no PED 2025, são parlamentares.
37.O PT deve voltar a ter direção coletiva. Há dirigentes que se comportam como donos do Partido. Mas ninguém é dono do PT. Ninguém é maior do que o PT. Ninguém pode tomar decisões individuais que atropelam a democracia e os estatutos partidários. O PT precisa dirigir os governos e mandatos parlamentares que conquistamos. Sem o PT, não haveria mandatos parlamentares, não haveria prefeituras, não haveria governos estaduais nem governo federal dirigidos por petistas. Entretanto, na maioria dos casos, o PT não tem influência nos mandatos executivos e legislativos que conquista. O Partido é chamado a apoiar, mas nem sempre é chamado a participar e quase nunca é chamado a dirigir. Precisamos mudar radicalmente esta postura subalterna e submissa que tem causado enormes danos ao Partido, inclusive do ponto de vista eleitoral.
38.O PT deve voltar a ser um partido que faz política o tempo todo, não apenas em anos pares, não apenas em épocas eleitorais, não apenas pelos meios institucionais. Nós petistas estamos por toda parte: estamos presentes nos bairros, estamos nos locais de trabalho, estamos nas escolas, estamos nos espaços e momentos de cultura e lazer, estamos nos sindicatos e nos movimentos sociais. Mas nem sempre a direção do Partido está onde os petistas estão. Muitas vezes, a direção não existe, não funciona, está dominada por interesses estritamente eleitorais. Nossa direção precisa ser ocupada por militantes dispostos a reafirmar o PT como o partido da luta, da mobilização e da organização cotidiana do povo. Afinal, criamos o PT para lutar pelos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora.
39.Um partido anticapitalista, socialista, defensor da mais profunda democracia. Não haverá democracia verdadeira em nosso país enquanto a classe dominante e seus representantes políticos — a extrema-direita neofascista e a direita tradicional — mantiverem sob sua direção a maior parte do sistema judiciário, dos parlamentos, dos governos, dos meios de comunicação e das empresas. É missão do PT combater o racismo, o machismo, a misoginia, a lgbtfobia e todas as formas de discriminação e preconceito, combate que é parte integrante e inseparável da luta para libertar a classe trabalhadora das influências que recebe da classe dominante e exploradora.
40.Nosso Partido dos Trabalhadores tem que concentrar grandes energias no trabalho de reconexão com a classe trabalhadora, organizando e conscientizando melhor os que seguem conosco, buscando os setores que se distanciaram de nós e, também, os que nunca estiveram conosco, os que estão sob influência do desalento, da direita tradicional e da extrema-direita. Mas, para fazer tudo isso, o PT precisa de pelo menos duas coisas: disposição de enfrentar, polarizar e derrotar nossos inimigos; e disposição de reorganizar profundamente nosso próprio partido. Portanto, estamos diante do desafio de fazer uma revolução organizativa no Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras. Isto significa, entre outras coisas: a) a ampliação da democracia no interior do Partido, reforçando a soberania e a vida orgânica das instâncias em relação aos mandatos parlamentares que hoje constituem um centro de poder paralelo que hegemoniza a vida partidária; b) alteração profunda nos métodos de comunicação partidária, criando condições para uma comunicação de massas feita por militantes, para militantes e para o conjunto da classe trabalhadora, desde a produção e distribuição cotidiana de material impresso até a comunicação digital em suas diversas formas; c) retomada da contribuição e financiamento militantes ao partido, incluindo, além da contribuição anual, a organização de atividades como almoços, produção de materiais para venda, bingos, rifas etc., que possam, ao mesmo tempo, contribuir para as finanças e conscientizar sobre o fato de que um Partido de Trabalhadores deve ser mantido pelos próprios trabalhadores; d) ampliação das atividades de formação política, com destaque para a formação político-ideológica da militância, que deve incluir caravanas nacionais em que dirigentes partidários visitem e dialoguem com a militância em cada município do país; e) estímulo e viabilização da participação das mulheres nos debates, formações, atividades e ações partidárias, inclusive suporte efetivo para a candidatura de mulheres; f) ampliar a inclusão da juventude nas instâncias deliberativas e representativas, com uma campanha de filiação de jovens, especialmente da juventude trabalhadora ao Partido, lembrando que o principal atrativo para o PT ter mais jovens militando é que ele seja um partido socialista e de luta; g) ampliar a participação de negros e negras na militância partidária, dando suporte efetivo para as candidaturas e dando à luta contra o racismo e pela reparação histórica, econômica e social um papel central na ação partidária. h) engajamento do Partido na batalha de ideias, na luta cultural de massas, indispensável para construir uma consciência de classe socialista, popular, democrático-radical e revolucionária na classe trabalhadora; i) compromisso de que a política eleitoral nos municípios e nos estados não será imposta de fora para dentro e de cima para baixo.
41.O resultado do PED 2025 não contribuiu para a realização desta revolução organizativa. Portanto, os problemas citados devem continuar se aprofundando e as tentativas de resolvê-los serão imperfeitas, em primeiro lugar porque desconectadas da mudança na estratégia política, em segundo lugar porque implementadas por pessoas que integram as mesmas forças que causam os problemas citados.
42.Um exemplo dessa contradição é a Federação. A maior parte da militância sabe que a Federação Esperança Brasil prejudicou eleitoralmente o PT, favoreceu um partido que em muitos municípios virou barriga de aluguel da direita e não tem nenhuma serventia estratégica. Por isso o correto seria o PT informar ao PV e ao PCdoB que defende a dissolução da Federação Brasil da Esperança. Na contramão disso, a nova direção nacional está sendo empurrada a defender a criação de uma Federação ainda maior, agregando partidos que vão amarrar o PT a um perfil cada vez mais “progressista” e cada vez menos socialista.
43.É preciso compreender que a situação interna do PT tem vínculos profundos com a dinâmica geral da luta de classes no Brasil. Não enfrentamos apenas a chamada direita do Partido. Enfrentamos a influência da classe dominante no interior do PT.
44.O fato do PT ter vencido cinco das nove eleições presidenciais realizadas deste 1989, ficando em segundo lugar nas outras quatro, não deve nos levar a confundir as coisas. Governo não é poder. O poder no Brasil segue com a classe dominante. E esta classe dominante sofreu mudanças profundas desde 1980. Até então a burguesia industrial era hegemônica, sempre em aliança com outros setores. A partir de então a aliança entre agronegócio e setor financeiro passou a ser dominante.
45.Uma das consequências da reprimarização e da financeirização foi reafirmar de forma piorada as características estruturais de nossa sociedade: o capitalismo, a dependência, a desigualdade, o subdesenvolvimento, a natureza oligárquica da nossa “democracia”. Tudo isso ocorreu simultaneamente a crise do socialismo soviético, das experiências socialdemocratas e desenvolvimentistas em todo mundo. Foram décadas de hegemonia capitalista nunca vista, que desembocaram numa crise sistêmica mundial, que só terá solução favorável às classes trabalhadoras em caso de triunfos da alternativa socialista em países potentes como o Brasil.
46.Ocorre que as mudanças ocorridas desde 1980 impactaram objetiva e subjetivamente as classes trabalhadoras. Num primeiro momento, estimularam uma onda de lutas sociais que deu origem ao PT, à CUT, ao MST e a proposta de uma “alternativa democrática, popular e socialista”. Mas em seguida veio um refluxo nas lutas sociais, que não foi superado até agora. Parte desse refluxo tem relação com transformações sociológicas e suas consequências no comportamento político e ideológico predominante nas classes trabalhadoras. Uma dessas consequências foi o Partido dos Trabalhadoras retomar pensamentos que foram típicos tanto do antigo PTB quanto do antigo PC. Por exemplo: colocar como objetivo estratégico não mais o socialismo, mas o desenvolvimento capitalista. E, em nome desse objetivo, buscar alianças estratégicas com setores da classe dominante, mesmo que estes setores não tenham de fato nenhum compromisso com algo que se possa chamar de desenvolvimento.
47.Entretanto, diferente do velho PTB (que ganhou uma única eleição presidencial, em 1950) e diferente do velho PC (que nunca pode disputar eleições), o PT ganhou – como já foi dito – 5 das últimas 9 eleições presidenciais e ficou em segundo lugar nas outras 4. Portanto, trata-se de uma força com enorme influência sobre a vida política do país, superior a dos outros dois partidos citados. O fato é que não é possível mudar o país, em favor dos trabalhadores, sem o PT ou contra o PT. Mas ainda está em aberto a resposta para a seguinte questão: quão profundas são as mudanças possíveis de fazer, sob a liderança do PT?
48.Observando o período 1980-2025, a conclusão é a seguinte: sem o PT, a situação seria muito pior para os trabalhadores; com o PT foi possível adotar políticas públicas que melhoraram a vida do povo; mas até agora não conseguimos fazer as transformações estruturais sem as quais o Brasil continuará dependente, desigual, subdesenvolvido e com uma política oligárquica. Até o momento, a presença do PT no governo não conseguiu reverter a desindustrialização, não conseguiu acabar com a ditadura do capital financeiro, não conseguiu superar a hegemonia primário-exportadora, não conseguiu tirar do Brasil a condição de campeão mundial da desigualdade social, não conseguiu democratizar as instituições e a comunicação social, não conseguiu fazer a reforma agrária.
49.A verdade é que um setor do PT não se preocupa mais com o fato de não estarmos conseguindo fazer reformas estruturais, tampouco lutar por uma sociedade socialista. Aliás, que exista e tenha tanta força no Partido um setor social-liberal é mais uma demonstração de que, ao longo de seus 45 anos de vida, o PT sofreu transformações estruturais que estão debilitando sua disposição de lutar por transformações que mereçam o nome.
50.Ao longo desses mesmos 45 anos, outro setor deixou de acreditar que o PT seria um instrumento útil na luta da classe trabalhadora por transformações estruturais. Em razão disso, romperam com o Partido e apostaram na construção de alternativas. Mas fracassaram totalmente as tentativas de construir um instrumento de transformação que substituísse o PT. PSTU, Consulta e PSOL fracassaram enquanto alternativas estratégicas ao PT. O PCdoB não constitui uma alternativa. O mesmo pode ser dito das pequenas organizações (PCB, UP): são combativas mas não conseguem deixar de ser testemunhais. Ao mesmo tempo, por diversos motivos está cada dia mais evidente que não tem o menor fundamento atribuir ao MST o papel de ser uma alternativa ao PT.
51.Mas tampouco estão tendo êxito aqueles como nós da AE, que se propõem, através da chamada luta interna, reconquistar o PT para o caminho das transformações estruturais e do socialismo. Desde o biênio 1993/1995, a chamada esquerda petista perdeu o controle da direção nacional do PT e nunca mais recuperou. O mesmo aconteceu na maioria das direções estaduais e municipais do país. Além disso, muitos que se autoproclamam integrantes da esquerda petista vem se acomodando, se adaptando, se domesticando. Outros perdem força e correm o risco de virar testemunhais.
52.As tentativas de resolver o problema através da pressão de fora para dentro e de baixo para cima até o momento também não tiveram êxito. Paradoxalmente, para que a luta social empurre o país e o PT para a esquerda, seria preciso que o PT contribuísse muito mais para a luta social. Mas por razões óbvias, grande parte de nosso Partido não parece disposto a isto.
53.Visto desta forma, o problema parece insolúvel. Cresce, por isso, em amplos setores da militância, a ideia de que não há alternativa fora, mas também não há alternativa dentro. Contra este sentimento, é preciso contrapor um fato: a luta de classes. É preciso lembrar da classe dominante e do imperialismo, da pressão dos Estados Unidos, da falta de limites do capital financeiro, do reacionarismo do agronegócio, do empoderamento e autonomização do judiciário e do parlamento. Como os acontecimentos de junho-julho de 2025 demonstraram mais uma vez, a burguesia não nos faltará: toda vez que um setor da esquerda deposita ilusões na acomodação com a burguesia, é questão de tempo para que a decepção prevaleça.
54.Evidente que, quando a burguesia comparece e desautoriza as ilusões, também ficam evidentes todos os problemas de sermos cada vez mais um “partido de retaguarda”. Noutras palavras: nem sempre existe a disposição e a coerência política necessária para aproveitar a situação e dar saltos adiante.
55.Essa disposição existiu depois da crise de 2005, causada pelo primeiro ataque geral da burguesia contra o PT no governo; frente àquele ataque, o Partido reagiu e o governo Lula 2 passou a implementar o programa aprovado no encontro nacional do PT realizado em Olinda (2001). Mas isso aconteceu, ao menos em parte, porque a esquerda petista mostrou força no PED de 2005.
56.Outro momento em que a burguesia não nos faltou foi a crise de 2008. Nossa reação começou bem, mas em seguida predominou a atitude defensiva. No debate do programa de governo que seria apresentado ao país em 2010, ficou explícito que não se proporia ao governo Dilma que desse um salto de qualidade em relação ao governo Lula. Esta atitude defensiva tem relação com o resultado do PED de 2007 e de 2009.
57.Um terceiro momento foi a crise de 2013. Então, mais uma vez, a reação foi predominantemente defensiva. Desistimos de utilizar a mobilização como ponto de partida para uma Constituinte, tivemos imensas dificuldades na eleição de 2014 e iniciamos 2015 com uma política econômica recessiva. Tudo isto está relacionado com os resultados do PED de 2013.
58.Frente a consumação do golpe de 2016, o PT inicialmente reagiu relativamente bem. Aliás, esta parece ser uma constante na esquerda brasileira: somos mais combativos quando derrotados. O Congresso do PT realizado em 2017 aprovou resoluções que, se implementadas, teriam implicações extremamente positivas. Mas a direção eleita em 2017 e reeleita em 2019 escolheu outro caminho. E quando a disputa com a extrema-direita obrigou o STF a reabilitar eleitoralmente Lula, mais uma vez a atitude do PT foi estrategicamente defensiva, a saber: uma frente ampla com a direita tradicional neoliberal.
59.Agora, frente ao ataque trumpista, o dilema reaparece: vamos adotar as medidas políticas e econômicas necessárias para o Brasil ter soberania alimentar, energética, produtiva, comunicacional, digital e militar? Vamos ir além das medidas imediatas e tomar todas as medidas estruturais indispensáveis à defesa da nossa soberania nacional, mesmo que isso desagrade a direita neoliberal gourmet? Se depender da direção eleita no PED de 2025, não há porque acreditar nisso. Frente a isso, nossa linha é criar as condições não apenas para vencer as eleições de 2026, mas também criar as condições para que o próximo mandato de Lula seja superior ao atual.
60.Sendo assim as coisas, que fazer? Propomos algo muito simples: cumprir nosso dever. Concretamente isso significa: i/ampliar o enraizamento na classe trabalhadora: conscientizar, organizar, mobilizar; ii/participar ativamente do debate de ideias, em defesa do socialismo, das reformas estruturais, das bandeiras capazes de melhorar a vida do povo agora e no médio prazo; iii/seguir organizando a verdadeira militância petista, contra os setores que domesticam o Partido e buscam convertê-lo num gestor da ordem; iv/participar ativamente da luta política nacional, em favor das demandas das classes trabalhadoras.
61.A energia do PT está na militância que defende nossas cores, nossa bandeira, nossas propostas e nossa estrela. Essa energia permitirá reconstruir nossa atuação militante junto ao cotidiano da classe trabalhadora. É desta atuação militante cotidiana que dependeu, depende e continuará dependendo a vitalidade e o futuro do nosso Partido. É em grande medida da atuação correta de nosso Partido que depende, na atual quadra histórica, a vitória da classe trabalhadora brasileira. Por tudo isso e muito mais, seguiremos dedicando o melhor de nossos esforços para que o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras continue sendo a principal referência e instrumento de luta da classe trabalhadora brasileira. Em tempos de guerra, a esperança é vermelha! Viva o PT, viva a classe trabalhadora brasileira, viva o socialismo!
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PLANO DE TRABALHO
1.O X congresso da AE fez um balanço da situação política mundial e nacional, avaliou o resultado do PED, analisou como está o nosso Partido dos Trabalhadores e como está a nossa tendência petista Articulação de Esquerda. Com base neste estado da arte, aprovamos o seguinte plano de trabalho para o conjunto da tendência para o ano de 2026, plano cuja implementação está a cargo da direção nacional eleita no X congresso.
2.A direção nacional deve visitar, ao longo do ano de 2026, todas as cidades onde a chapa nacional da AE foi majoritária no PED 2025. Nessas visitas, realizar pelo menos três atividades: i/congresso municipal da AE; ii/planejamento do trabalho municipal da tendência; iii/curso de formação política aberto a todos os petistas e simpatizantes. A direção naconal da AE deve apontar quem serão os/as dirigentes nacionais responsáveis por esta atividade.
3.A direção nacional deve convocar, organizar e participar de plenárias da AE nos estados onde atualmente não temos direção estadual ou equivalente: Santa Catarina, Goiás, Roraima, Rondonia, Acre. Nessas plenárias a direção nacional deve: i/realizar um curso de formação política; ii/apresentar as diretrizes do X Congresso; iii/aprovar um plano de trabalho para a construção da tendência ao longo de 2026; iv/constituir uma direção estadual provisória. A direção nacional deve designar dirigente nacional para acompanhar cada um dos estados citados
4.A direção nacional deve, em comum acordo com as respectivas direções estaduais, convocar, ajudar a organizar e estar presente em congressos estaduais da AE naqueles estados onde existimos formalmente, mas com imensas debilidades organizativas e políticas: Paraná, Mato Grosso, Amapá, Amazonas, Paraíba, Bahia. Nesses congressos estaduais devemos: i/realizar um curso de formação política; ii/apresentar as diretrizes do X Congresso; iii/aprovar um plano de trabalho para o ano de 2026; iv/eleger direção estadual. A direção nacional deve designar dirigente nacional para acompanhar cada um dos estados citados
5.A direção nacional deve, em comum acordo com as respectivas direções estaduais, convocar, ajudar a organizar e estar presente em congressos em cada um dos estados onde estamos em processo de reorganização: Minas Gerais, Alagoas, Piauí, Maranhão, Ceará. Nesses congressos estaduais devemos: i/realizar um curso de formação política; ii/apresentar as diretrizes do X Congresso; iii/aprovar um plano de trabalho para o ano de 2026; iv/eleger direção estadual. A direção nacional deve designar dirigente nacional para acompanhar cada um dos estados citados.
6.A direção nacional deve estar presente nos congressos estaduais que serão convocados pelas respectivas direções daqueles estados onde existimos de maneira organizada: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Distrito Federal. Nesses congressos estaduais: i/realizar um curso de formação política; ii/apresentar as diretrizes do X Congresso; iii/aprovar um plano de trabalho para o ano de 2026; iv/eleger direção estadual. A direção nacional deve designar dirigente nacional para acompanhar cada um dos estados citados
7.Realizar, entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026, uma plenária nacional dos estudantes universitários da AE, para discutir nossa atuação no movimento estudantil universitário e nossa política na disputa da UNE. A organização da jornada deve ser coordenada por dirigente que venha a ser indicado/a pela nova Direção nacional da AE.
8.Realizar, entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026, plenárias virtuais ou presenciais nacionais de cada uma das frentes onde temos atuação (agrária, saúde, educação, indígenas, mulheres, combate ao racismo, moradia etc.). Definir dirigente responsável por acompanhar as frente de massas e os setoriais do PT.
9.Realizar, entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026, uma plenária nacional de formação política, que terá duas partes: um curso nacional de formação política e uma discussão sobre a política nacional de formação do PT e da AE. A plenária também discutirá iniciativas que não são da AE, mas onde temos incidência, como é o caso da Escola Latinoamericana de História e Política. A organização da jornada deve ser coordenada pelo secretário/a nacional de formação que venha a ser indicado/a pela nova Direção nacional da AE.
10.Orientar cada cidade e cada estado a incluir, no seu respectivo plano de trabalho, metas objetivas de inserção junto a classe trabalhadora: presença em sindicatos, em movimentos sociais, no trabalho cultural e nos territórios de moradia, trabalho e educação, bem como a constituição de núcleos de base do Partido.
11.Orientar cada cidade e cada estado a incluir, no plano de trabalho, metas concretas de ampliação da nossa presença no PT: filiações, nucleações, atividades formativas, atividades políticas, criação de centros culturais etc.
11.Orientar todos os estados a lançar pelo menos um candidato vinculado à AE para disputar as eleições 2026. Em março de 2026 realizar uma conferência nacional eleitoral, para discutir a tática e como apoiar nacionalmente nossas candidaturas nos estados. A conferência nacional eleitoral será coordenada por dirigente que será indicada/o pela Dnae eleita no X Congresso.
12.Convocar uma plenária nacional da AE para debater o tema comunicação (na sociedade, no Partido e na tendencia). Cabe a esta plenária aprovar propostas acerca da política nacional de comunicação da AE, em particular sobre o papel e articulação os instrumentos de que já dispomos: redes sociais, Antivírus, Podcast, Esquerda Petista, Página 13, edição de livros. Cabe a esta plenária, também, discutir o papel de iniciativas que não são da AE, mas nas quais militantes da tendência participam, como é o caso do Contramola e do Manifesto Petista. As propostas da plenária serão submetidas à aprovação em reunião da Dnae. A plenária será coordenada por dirigente indicado/a pela Dnae eleita no X Congresso.
13.A Articulação de Esquerda é uma tendência petista, portanto considera como sua tarefa permanente contribuir no debate político ideológico em curso no mundo, no Brasil, na esquerda e no PT. Esta contribuição é feita através do posicionamento individual dos militantes e do posicionamento coletivo de nossas instâncias, através de atividades, reuniões, publicações, cursos, seminários. Nossa pauta está organizada em três eixos: a análise do capitalismo no século 21, o balanço das tentativas de construção do socialismo nos séculos 20 e 21, o debate acerca da estratégia da esquerda.
14.A independência política pressupõe independência material. Manteremos nossa política de autofinanciamento militante nacional. E estimulamos as direções estaduais e municipais a organizarem atividades que gerem recursos financeiros, sem concorrer com a contribuição militante anual obrigatória. E convidamos toda a militância a vender nossa Agenda 2026, dedicada aos 100 anos de Fidel Castro.
15.A chapa vitoriosa no PED 2026 assumiu o compromisso de realizar um Congresso partidário, depois da eleição de 2026. Esta data está relacionada ao impacto que terá, sobre a vida do Partido, o resultado da próxima disputa presidencial. Defendemos desde já que as delegadas e delegados que participarão deste Congresso sejam eleitas na base, através de um processo efetivamente democrático, sem as distorções que marcaram o PED 2025. Se quisermos ter um grande futuro pela frente, o PT precisa mudar. E rápido!
10.Agenda 2026
Será dedicada ao centenário de nascimento de Fidel Castro. Pretendemos tê-la impressa a tempo do X Congresso da AE.
11.Agenda
27 de julho segundo turno do PED
31 de julho reunião da executiva da AE
1 de agosto reunião ampliada da Dnae
1 a 3/8 encontro nacional do PT
27 e 28/11 conferência sindical nacional da AE
28, 29 e 39/11 Congresso da AE