Os movimentos feministas e a importância da formação masculina antimachista

3° Jornada de Formação Política Feminista da AE/PR

Em um cenário político onde a luta contra o machismo se faz cada vez mais urgente, o coletivo da Secretaria de Mulheres da Articulação de Esquerda no Paraná, tendência interna do Partido das Trabalhadoras e Trabalhadores (PT), promoveu a 3° Jornada de Formação Política Feminista da AE/PR [confira aqui], que se destaca por sua abordagem vanguardista: a inclusão de companheiros homens nos espaços de formação feminista. A atividade, que contou com militantes de diversas regiões do país, teve como convidada a vereadora Vanda de Assis (Curitiba), que reforçou a necessidade de uma educação antimachista abrangente, capaz de desconstruir o patriarcado em todas as suas manifestações.

A Convidada Vanda de Assis

Vanda de Assis, mulher nordestina, negra, assistente social, feminista, educadora popular e promotora legal popular, foi a voz central da jornada de formação. Em sua exposição, Vanda traçou a evolução dos movimentos feministas no Brasil, desde os mais tradicionais, como a Marcha Mundial de Mulheres (MMM) a União Brasileira de Mulheres (UBM), os movimentos de mulheres camponesas e de mulheres negras, até as novas formas de organização em coletivos, como as Promotoras Legais Populares (PLP) e coletivos que se formam nos territórios. E também enfatizou a urgência da formação masculina antimachista. Para Vanda, o machismo é uma violência estrutural que prejudica toda a sociedade, e a inclusão dos homens nesse processo é fundamental, uma vez que são os perpetradores da violência. Ela citou a previsão de formação para homens na Lei Maria da Penha e compartilhou a experiência do curso “Novos Passos” em Colombo (PR), que visa responsabilizar e educar homens que recebem medidas protetivas, tornando a luta contra a violência uma responsabilidade compartilhada.

O Vanguardismo da Formação Inclusiva

A proposta de envolver homens na formação antimachista foi um dos pontos altos da atividade, ecoando a visão de que a desconstrução do machismo não pode ser uma tarefa exclusiva das mulheres. Everton Munhoz reforçou a importância da formação para homens, destacando que as mulheres, como vítimas do machismo, são as pessoas ideais para conduzir essa educação. Ele enfatizou a necessidade de educar as crianças e reeducar os pais. Luis Pequeno, educador popular, parabenizou a iniciativa e se autoidentificou como um “machista em desconstrução”, reconhecendo a necessidade de homens contribuírem para a mudança. Júlio Cezar Soares, militante do PT e coordenador político da AE/PR, classificou a educação masculina antimachista como um campo quase inexplorado, defendendo que a educação deve começar desde a infância e envolver a família, a igreja, o partido e os sindicatos. Essa abordagem proativa e inclusiva representa um avanço significativo na forma como o feminismo pode se articular para combater o machismo de maneira mais eficaz.

Desafios e Experiências Pessoais

Apesar do vanguardismo da proposta, a atividade também trouxe à tona os desafios persistentes do machismo, inclusive dentro das fileiras da esquerda. Tânia Mandarino e Ana Martins expressaram preocupação com o machismo em espaços de esquerda, onde a ideologia professada nem sempre se alinha com a prática. Cátia Cristina Bispo, Amani Said e Elizabeth Maria Costa de Oliveira compartilharam abordaram experiências e situações de machismo em ambientes políticos, evidenciando a necessidade de formações contínuas para todos os gêneros. Ana Martins, em particular, relatou um caso de desrespeito por parte de um companheiro de partido no Conselho Municipal de Cultura, que chamava mulheres de “mulherzinhas”, e a falta de resultado de uma representação contra ele, sublinhando a dificuldade de combater o machismo mesmo em espaços que deveriam ser progressistas. Betania Furtado e Evandro Castagna reforçaram a universalidade do machismo e a importância da autodesconstrução, enquanto Evandro, que acompanhou de perto a formação do grupo “Novos Passos” (acima citado), afirmou que o contato com o movimento feminista foi crucial para sua desconstrução. A importância da educação antimachista desde a infância foi um consenso, com Evandro Castagna e Ana Martins defendendo que o debate ocorra antes da violência, idealmente nas escolas e universidades.

Crítica ao Feminismo Neoliberal e a Urgência da União

Jacqueline Alcântara trouxe uma crítica contundente à cooptação do feminismo pelo neoliberalismo, que o transforma em algo individualista e meritocrático, desviando-o do combate ao capitalismo e da união feminina contra as raízes mais profundas da opressão. Ela também alertou para a facilidade de cooptação de jovens por grupos de ódio online, que geram homens que odeiam mulheres. Cleide Aquino e Rute enfatizaram a importância da união e da educação para o respeito às mulheres, destacando a gravidade do machismo na periferia de São Paulo e a necessidade de fortalecer a democracia através da união de forças.

Conclusão

A atividade promovida pela Secretaria de Mulheres da Articulação de Esquerda no Paraná, com a brilhante apresentação do tema pela vereadora Vanda de Assis, representa um passo fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A ênfase na formação antimachista inclusiva, que envolve ativamente os homens na desconstrução do patriarcado, demonstra um compromisso com a transformação social profunda. As ricas reflexões e experiências compartilhadas reforçam que o machismo é uma violência estrutural que exige educação contínua, o reconhecimento das próprias posturas machistas por parte dos homens e um esforço coletivo para que as denúncias não sejam minimizadas, especialmente em ambientes políticos. A luta continua, e a união de todos os gêneros é essencial para a construção de um futuro livre do machismo.

Coletivo da Secretaria de Mulheres da AE/PR

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