Por Valter Pomar (*)
Muita gente comemorou a pesquisa IPEC de julho de 2024.
Motivos da comemoração: melhorou a avaliação da administração do presidente Lula (de 33 para 37), melhorou a aprovação do presidente Lula (de 49 para 50) e aumentou a confiança no presidente Lula (de 45 para 46).
Como a margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentais, o que melhorou acima da margem foi a resposta dada à seguinte pergunta: “Como o(a) sr(a) classifica a administração do Presidente Lula até o momento?”
A essa pergunta, 14% dos entrevistados respondeu “ótima” e 23% respondeu “boa”. Total: 37%. Um progresso em relação a pesquisa anterior, realizada em março de 2024.
Porém, quando olhamos a curva e o detalhamento, a situação aparece um pouco diferente.
Comecemos pela curva.
Em março de 2023, a administração do Presidente Lula recebia 41% de ótimo e bom. Hoje, julho de 2024, a soma de ótimo e bom alcança 37%.
Em março de 2023, 57% aprovava a maneira como o presidente Lula governa. Hoje, julho de 2024, 50% aprova.
Em março de 2023, 53% dizia confiar no presidente Lula. Hoje, julho de 2024, 46% afirma confiar.
Portanto, podemos ter subido em relação a março de 2024, mas continuamos abaixo de março de 2023.
Vejamos, agora, o detalhamento.
A pesquisa disponibiliza respostas dadas por homens e mulheres, várias faixas de idade, regiões, nível educacional, tipo e tamanho de cidades, níveis de renda, etnia, religião, voto no segundo turno de 2024.
Há várias maneiras de analisar este detalhamento. Por exemplo, vendo as categorias em que estamos abaixo do resultado médio, descontada a margem de erro. Por exemplo: onde o resultado médio foi 37%, como a margem de erro é de 2 pontos percentuais, ver em quais categorias tivemos 34% ou menos.
Vejamos a pergunta “Como o(a) sr(a) classifica a administração do Presidente Lula até o momento?”
A resposta média foi 37%. Estamos abaixo desse resultado, já descontada a margem de erro, nas seguintes categorias: pessoas de 16 a 24 anos (33%), pessoas de 25 a 34 anos (32%), ensino médio (31%), ensino superior (29%), Sudeste (30%), Sul (26%), cidades com mais de 500 mil habitantes (32%), acima de 5 salários mínimos (28%), de 2 a 5 salários mínimos (30%), evangélicos (27%), branco e nulo (29%), não sabem em que votaram/não votaram em ninguém/não responderam (30%).
As categorias acima citadas são aquelas onde temos mais dificuldades, digamos assim.
Vejamos agora o oposto, as categorias onde temos mais fortalezas, mas desta vez no caso da segunda pergunta: “O(A) sr(a) aprova ou desaprova a maneira como o Presidente Lula está governando o Brasil?”
A resposta média foi 50%. Estamos acima desse resultado, já descontada a margem de erro, nas seguintes categorias: de 16 a 24 anos (55%), 60 anos ou mais (56%), Nordeste (67%), cidades até 50 mil habitantes (55%), até 1 salário mínimo (61%), pretos/pardos (53%) e católicos (57%).
As categorias acima são onde aparentemente temos mais gordura, digamos assim.
Agora vejamos onde não apenas temos dificuldades, mas também onde a diferença a favor deles é maior. Ou seja: onde a oposição tem mais gordura. Façamos isso tomando como base a terceira questão, a mais delicada de todos: “O(A) sr(a) confia ou não confia no Presidente Lula?”
A resposta global é que 51% não confia em Lula, 46% confia e 3% não sabe responder.
Como a margem de erro é de 2 pontos percentuais, o não confia pode chegar a 53% e o confia pode chegar a 44%, uma distância de 9 pontos percentuais. Pois bem: as categorias onde o não confia está 10 pontos ou mais acima do confia são: de 25 a 34 anos (14 pontos), ensino médio (19 pontos), ensino superior (19 pontos), sudeste (17 pontos), sul (29 pontos), capitais (12 pontos), mais de 5 salários mínimos (24 pontos), 2 a 5 salários mínimos (21 pontos), brancos (13 pontos), evangélicos (29 pontos), eleitores de Bolsonaro (74 pontos), entre os que votaram branco/nulo (42%), entre os que não votaram/sabem/responderam (14 pontos).
Um detalhe curioso: entre os que acham o governo Lula regular, 56% dizem não confiar no presidente. E também entre os que acham o governo regular, 42% desaprova a maneira como o Presidente Lula está governando o Brasil.
Portanto, do ponto de vista político, a resposta “regular” é um copo meio vazio e meio cheio.
Destaque-se que entre os jovens de 16 a 24 anos, 40% disse que a administração Lula é “regular”.
Resumo da ópera: melhoramos um pouco em relação a março de 2024, mas seguimos abaixo de março de 2023 e com problemas graves em diversos segmentos.
A rigor, só temos maioria mais ou menos confortável entre aqueles e aquelas que nos deram a vitória em 2022. Mas, considerando nossas diferenças positivas em relação ao governo anterior, o esforço feito e o tempo transcorrido, há fortes sinais de que algo precisa mudar na linha geral do governo (e da esquerda como um todo, a começar pelo PT).
Duas perguntas: por quais motivos melhoramos, ainda que pouco, em relação a março de 2024? E por quais motivos pioramos, ainda que pouco, em relação a março de 2023?
Evidentemente, ambas respostas envolvem muitas variáveis.
Dentre estas, destaco uma: a relação do governo com a Faria Lima.
Bater nos ricos melhora a situação política do governo. Servir aos ricos piora a situação política do governo.
Lula sabe disso. Quem pede que ele segure a língua, parece não saber.
Sendo que – como demonstra a situação no Sul – falar é importante, mas se verbo não vier acompanhado de muita luz, a coisa toda não funciona bem.