Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia antibolha fascista e racista
“A bolha real para a branquitude bolsonarista, como tudo que é da ordem racista e fascista, é (será) desfeita a partir do território usado-vivido pelos pretos(as) e pobres, isto é, as favelas, os morros, os alagados e os bairros destituídos de recursos sociais fundamentais.”
O sistema de discurso, conforme a retórica, é para produzir um afeto ou afeição. Bolsonaro é racista, fascista e corrupto. Estamos diante de fatos inquestionáveis, que podem e serão facilmente comprovados. Mesmo diante dessa realidade, Bolsonaro e o bolsonarismo continuam com forte apoio no Brasil e com uma base social de considerável envergadura e alcance eleitoral e político. Não há eficácia no reconhecimento dessa realidade e também da discussão ou combate a partir apenas de Bolsonaro.
O foco é o bolsonarismo e os seus aliados golpistas que, a despeito das constatações vinculadas ou originárias do racismo, fascismo e corrupção de raiz, sistêmica e escancarada, continuam no seu apoio. Não é produtivo tão-somente bradar que é um erro votar em Bolsonaro; há uma posição de classe, raça, gênero e território e, com a adesão à posição explicitada acima, cresce a empatia com o que diz Bolsonaro. Os bolsonaristas querem, replicam e estandardizam as posições racistas-fascistas defendidas por Bolsonaro; há uma posição comum, comungada e naturalizadora, especialmente do racismo e/ou dos privilégios para brancos (as) .
Os sistemas de discursos mobilizados, com mentiras em profusão, são, a rigor, pensamento único e lugar; pacto, para assegurar o consumo dos valores, símbolos, corpos e privilégios da e para a branquitude totalitária, que na estrutura de superfície e sistema de discurso mentiroso e, na sua estrutura profunda, é espaço para a empatia hegemonizada por uma ordem e poder brancocêntrico. O conceito brancocêntrico revela, no Brasil de 2022, a inseparabilidade da parelha racismo e fascismo. No que toca à bolha constituída pelo racismo profundo e pelo fascismo que o atualiza como a principal política de Bolsonaro e do bolsonarismo, é inútil o esforço para desfazê-la no interior e nas franjas das bolhas constituídas pelos discursos e ações da fascistada-racista bolsonarenta.
A midioesfera bolsonarista é repetitiva pela razão central da sua existência de classe, que se redefine, no Brasil , como um conjunto indissociável e contraditório de classe, raça, gênero e território. Feito o enquadramento, o seu ícone, Bolsonaro, é um candidato burguês, branco, racista, misógino e defensor, a partir dos territórios segregados para negros (as) e pobres, dos privilégios para a branquitude totalitária, que é e/ou constitui a burguesia e agregada a ela, como bloco de poder, orbita, na captura exclusiva de privilégios, a classe média branca e branqueada brasileira.
No que concerne à raiz , ao crescimento e à adesão totalitária, o racismo é o elemento central do bolsonarismo. A racialização pode e deve ser constatada e comparada na análise da geografia racial do voto branco para Bolsonaro e do voto negro para Lula. A exemplo dos atos golpistas de 2016, os atos bolsonaristas são manifestações de brancos (as) e para brancos. Em outros termos, os corpos, as formas e os conteúdos brancos definem a natureza racista-fascista do bolsonarismo.
As bolhas da fascistada bolsonarenta, para os pretos (as) e pobres, têm um efeito às avessas e são contrariadas, nos territórios e mais ainda nos lugares, pelas condições objetivas atualizadas pela violência policial, desemprego, baixos salários, fome e pela segregação espacial, que desfaz as bolhas artificiais da fascistada bolsonarenta. A bolha real para a branquitude bolsonarista, como tudo que é da ordem racista e fascista, é (será) desfeita a partir do território usado-vivido pelos pretos(as) e pobres, isto é, as favelas, os morros, os alagados e os bairros destituídos de recursos sociais fundamentais. As bolhas são desfeitas no quadro de vida, no espaço vivido e praticado pelos pretos (as), pobres e trabalhadores (as). As bolhas persistentes são a expressão dos privilégios de classe, raça, gênero e de território, que dão a configuração, nas redes sociais controladas pela direita e extrema direita, da socioespacialidade segregada defendida pela burguesia branca.
A favor da compreensão da midioesfera bolsonarista, bolha impermeável, é produtivo dizer que o processo se retroalimenta, como dispositivo racista, fascista e totalitário, do pensamento único e do consumo da branquitude como base e núcleo de poder. No momento atual, a ordem fascista, cuja matriz é antes delimitadora dos privilégios raciais para brancos (as), conta com aparatos do Estado que são hegemonizados e dirigidos pelos valores e atuação jurídica racistas e por desdobramentos fascistas.
Além das forças armadas, do sistema policial em geral e do jurídico, há , como parte dessa bolha de pensamento único, as emissoras SBT, Record, Pânico e Jovem Pan que, sem nenhuma malha crítica, são caixas de ressonância da bolha fascista presente no sistema informacional, nas plataformas e redes sociais. Muitas vezes as “mentiras”, posição da classe branca dominante, é veiculada inicialmente pelos canais oficiais.
O estatuto de verdade é veiculado e/ou revalidado pela Jovem Pan, Rede TV e outros canais e emissoras indisfarçadamente bolsonaristas. A ordem racializada de pensamento único, matriz central do fascismo na Alemanha , tem a mesma arquitetura no momento atual do bolsonarismo. No Brasil, os privilégios são orientados para os brancos (as) ricos e de classe média; o alvo para o esmagamento social e espacial são os negros(as) e os pobres. Não é por outra razão que no primeiro ou no segundo turno da eleição de 2022, a vitória de Lula virá da socioespacialidade ou território negro-popular e dos trabalhadores (as).
(*) Fausto Antonio – Escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab – Bahia. Link para acessar trabalhos de Fausto Antonio: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/issue/current