As mobilizações argentinas contra Milei

Por Caio Romão (*)

Texto publicado na edição de março Boletim P13 LGBT

No final do mês de janeiro (dos dias 20 a 24) na cidade de Davos (Suíça) ocorreu o 55º Fórum Econômico Mundial, reunindo líderes governamentais de diversos países e empresários de grandes multinacionais. Dentre os representantes de países estava o Bolsonaro “Hermano”, Javier Milei, atual presidente da Argentina, que não fugindo do esperado destilou ódio e exaltou a extrema direita e seus representantes mundiais em seu discurso realizado no penúltimo dia de evento.

Milei exaltou o liberalismo como uma grande estratégia de fortalecimento do Capitalismo e também como solução econômica milagrosa para superação de todos os problemas da sociedade, fazendo sempre um contraponto com o Socialismo e pautas sociais e ambientais e apontando-os como vilões. Como era de se imaginar, teceu diversos elogios aos atuais representantes da extrema direita no mundo, tais quais, Trump, Musk, Giorgia Meloni e Benjamin Netanyahu e destilou seu ódio às mulheres e ao feminismo, à diversidade de gênero, bem como à comunidade LGBTQIA+.

Entre as afirmações nefastas estão a de que a tipificação legal do feminicídio faz com que a vida das mulheres tenha mais valor que a dos homens, que o Movimento Trans corrompe crianças e promove a mutilação, além da associação entre a adoção de crianças por casais homossexuais à pedofilia.

Tais absurdos, para além das falácias sobre a economia argentina, chocaram a sociedade civil do nosso país vizinho e de todo o mundo, gerando uma intensa e imediata reação nas redes sociais e a mobilização para protestos nas ruas. Centrais sindicais aliadas a organizações da sociedade civil organizaram uma grande manifestação para o dia 1º de fevereiro que foi intitulada como “Marcha Federal do Orgulho Antifascista e Antirracista”.

As manifestações realizadas na capital Buenos Aires e em diversas outras cidades movimentaram milhares de pessoas e foram consideradas históricas, enchendo as ruas com as cores do arco-íris e com cartazes e gritos de efeito mostrando ao mundo que o povo de um país não pode aceitar que seus representantes legais digam qualquer coisa e façam ataques tão absurdos à parte considerável da população.

Diante destes ocorridos dos últimos meses, que ainda são só o começo de 2025, estão importantes aprendizados que nossos irmãos latino-americanos nos propiciam a reflexão.

O primeiro é o de que ações e falas odiosas como as de Milei em Davos demandam reações. Não podemos nos calar diante de absurdos ditos e promovidos por governantes e representantes políticos ou por líderes e detentores do capital. A resposta deve sempre vir rápida e à altura dos ataques, lembrando do princípio constitucional “que o poder emana do povo” e que a melhor resposta é sempre a presença da sociedade civil organizada ocupando as ruas.

Segundo, que a organização desta manifestação por parte de entidades sindicais junto a organizações da sociedade civil feministas e LGBTQIA+ nos mostram que a luta pelos direitos da classe trabalhadora perpassam as lutas pelos direitos humanos e pautas sociais/identitárias e que diferentemente do que pensam alguns líderes da esquerda sindical brasileira, abordar essas temáticas de maneira alguma nos afasta dos objetivos da classe trabalhadora ou tira o foco da luta contra o capital, mas sim, nos une na busca por direitos e mobiliza toda a sociedade para as mudanças necessárias rumo ao socialismo.

E por fim, que, se por um lado, em seu discurso Milei propôs “uma grande aliança internacional” composta pelos países com líderes da extrema direita e defensores dos interesses e do avanço do capitalismo feroz pelo mundo, por outro, devemos organizar e manter viva e atuante uma grande aliança internacional da sociedade civil Antifascista, Antimachista, Antirracista e Antilgbtfóbica.

A mobilização da população argentina só reforça que: A ESPERANÇA SEGUE SENDO VERMELHA! ★

(*) Caio Romão, militante do PT e da AE no Distrito Federal/DF

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *