O assassinato de Genivaldo e o corporativismo de quem deveria julgar os assassinos e prendê-los reforça a tese de que não existe “Estado neutro” no capitalismo
Por Professor Dudu (*)
As mobilizações para cobrar a punição dos assassinos do Genivaldo na cidade de Umbaúba – Sergipe – precisam continuar e romper o corporativismo da Polícia Federal e Ministério Público Federal, que até aqui dão pistas de que não pretendem prender os Policiais Rodoviários que torturaram e mataram o trabalhador.
Lembremos do caso George Floyd, assassinado pela polícia dos EUA, que se não fossem os fortes protestos populares os assassinos sequer teriam sido julgados, imagine condenados como foram.
O assassinato provocou uma série de denúncias que estava represada pelos moradores das cidades sergipanas que são cortadas pela BR-101, a exemplo de Cristinápolis, Umbaúba, Santa Luzia, Estância, Itaporanga e Nossa Senhora do Socorro.
O rosário de abusos e violações de direitos cometidos pela PRF é enorme e variado, a exemplo de tapa na cara, chutes, empurrões, prisões com uso da violência e xingamentos.
A CUT esteve presente no dia do bloqueio da BR-101 juntamente com dirigentes do SINTESE – o sindicato da educação – e a presença dessas organizações ajudou na mobilização do protesto e deixou o staff da prefeitura de Umbaúba enfurecido, porque ele queria dar direção ao movimento e evitar qualquer relação entre a violência e o presidente Bolsonaro.
O povo decidiu de qual lado ficar, uma vez que tinham dois carros de som: um da CUT/SINTESE e outro da prefeitura, e ficou do lado da liberdade de falar, ou seja, com os trabalhadores e trabalhadoras.
O povo simples se manifestou e pautou a influência do presidente da república no aumento da violência no Brasil. Era automático o link violência-Bolsonaro e do nada se ouvia: “Lula tem que voltar”.
Virou rotina político fazer discurso apolítico e antisistêmico quando a própria negação da política é um discurso fortemente político e ideológico.
Chamou a minha atenção a percepção do povo, no calor da emoção, de que coletivamente ele tinha muita força, tanta força ao ponto de fazer a Polícia Militar recuar literalmente das proximidades do bloqueio.
Eu sonhei por um instante em meio a fumaça de que a fórmula para uma revolução popular estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
Aquela mesma multidão decidida a enfrentar as armas das polícias é a mesma que em outubro pode levar aos parlamentos gente que defende a violência contra o povo em nome da manutenção do controle do Brasil pela burguesia.
O povo humilde – muitos camponeses – acostumados a ouvir teve a oportunidade de falar e denunciar a PRF e a Polícia Militar e se sentiam seguros pelo menos naquele momento por estarem no meio da classe trabalhadora.
Depois do bloqueio com ampla repercussão, aconteceu no dia seguinte um protesto em frente à sede da Polícia Federal em Aracaju, com presença forte do MNU – Movimento Negro Unificado e a rejeição às polícias ficaram patentes.
Depoimentos do tipo: “por ser negro eu desde a adolescência me acostumei a levantar os braços para a PM e ter a mochila escolar aberta e revirada”, atestam o que está no Atlas da Violência dando conta de que os negros são os principais alvos da ação policial.
No sábado dia quatro aconteceu uma passeata pelas principais ruas da cidade de Umbaúba para cobrar a prisão dos assassinos de Genivaldo, bem menor do que o protesto do dia do bloqueio, mas mesmo assim com boa representatividade de entidades de todo o Estado de Sergipe.
Um representante da FENAJ-RJ (Marcelo Auler) esteve em Umbaúba para fazer um documentário sobre o assassinato de Genivaldo e no último domingo ele concedeu entrevista a Luiz Nassif e se mostrou preocupado com a apatia do MPF e do advogado de defesa da viúva de Genivaldo.
Segundo ele não há qualquer interesse do MPF e nem do advogado da viúva em pedir a prisão dos assassinos, apesar das provar do crime em vídeo.
A deliberação das organizações que cobram justiça por Genivaldo foi de que todos os meses haverá um ato em vários pontos do Estado para não deixar cair no silêncio o processo que tramita a passos lentos.
Os órgãos responsáveis pelo processo não têm saída, é prender os assassinos de Genivaldo ou assumir o corporativismo, ou então desqualificar as imagens do momento do assassinato, fato que é quase impossível.
Aos poucos o povo vai compreendendo que no capitalismo as polícias não foram criadas para defender a “sociedade” como um todo, mas para manter o status quo, para reprimir os levantes do povo contra a classe dominante.
Estão aprendendo na dor que não existe estado neutro, que ele tem lado e não é o das camadas populares.
O crime do estado brasileiro contra Genivaldo reacendeu o senso comum de que “a lei só existe para os pobres”, que para ser mais exato deveria ser “a lei só existe contra os pobres”.
Discursos falsos de parte da imprensa criticando a CUT do tipo: “manifestação só atrapalha…deixe que a justiça tome conta do caso…” já não tem mais eco no meio da massa e isso é muito bom, porque a tese de Marx de que a “libertação da classe trabalhadora será obra da própria classe trabalhadora” volta a ordem do dia.
Tenho dito!
(*) Professor Dudu é dirigente do PT Sergipe e pré-candidato a deputado estadual.