Por Maurílio de Oliveira (*)
São José dos Campos já foi considerada a capital da indústria bélica, tendo empresas como Avibras, Engesa, Embraer, Tectran, Tecnasa, além de empresas fornecedoras de serviços e peças neste setor.
Essas empresas chegaram a empregar mais de 22 mil trabalhadores e trabalhadoras e exportavam bilhões de dólares. Só a Avibras, de 1983 a 1986, chegou a exportar mais de 274 milhões de dólares.
Institutos de pesquisas como ITA, CTA, IEAv, junto com estas empresas, formaram todo um complexo de criação e desenvolvimento de armamentos em São José dos Campos e região nos anos de 1980 e 1990.
Além de São José dos Campos, outras cidades do Vale do Paraíba como Lorena, Piquete, Jacareí e Caçapava, foram invadidas por este tipo de indústria, chegando a constituir no Vale do Paraíba paulista o chamado “Vale da Tecnologia” ou, como também ficou conhecido, como o “Vale da Morte”.
Estas empresas sempre tiveram uma relação hostil com o sindicato, com muita repressão e perseguição às lideranças sindicais e aos trabalhadores em geral, uma expressão da ideologia militarista impregnada em suas direções, que em muitos casos nada mais eram que “cabides de emprego” para vários militares.
O objetivo sempre foi o de impedir a qualquer custo que os trabalhadores se informassem ou se organizassem para reivindicar melhores condições de trabalho e de salário. Na região do Vale do Paraíba, o setor da indústria bélica é, historicamente, aquele com menor número de trabalhadores sindicalizados.
Em meados da década de 1980, o sindicato, através do seu departamento de apoio sindical, realizou convênio com o CEDI (Centro de Documentação e Informação) para realizar um estudo sobre este fenômeno da indústria bélica brasileira, sediada em São José dos Campos e Região.
Este estudo já apontava a instabilidade desse setor e a dinâmica cíclica a que essas empresas estavam submetidas, já que o Brasil produzia armamentos de média tecnologia, não estava envolvido em nenhum conflito direto e a concorrência mundial era feroz, como ficou demonstrado no caso do Osório, carro de combate desenvolvido pela Engesa e que foi preterido pela Arábia Saudita em favor dos carros de combate Abrams, norte-americanos, ainda que o Osório tenha sido desenvolvido com todas as condições para atender países do Oriente Médio.
Este episódio levou a Engesa à falência, penalizando milhares de trabalhadores e seus familiares. Diante dessa instabilidade da indústria bélica e da crise que se avizinhava, a saída que o sindicato apresentou, à época, foi a diversificação da produção e da chamada reconversão, ou seja, que as empresas do setor, aos poucos, passassem a empregar sua tecnologia acumulada e mão de obra especializada na indústria civil.
As empresas que insistiram em ter uma produção somente bélica faliram ou vivem em crise o tempo todo, como é o caso da Avibras que, agora, mais uma vez, submete seus trabalhadores às condições extremas, como ficarem sem receber salários há tanto tempo.
Hoje são mais de mil trabalhadores e trabalhadoras da Avibras de um total de mil e quatrocentos que estão há quase dez meses sem receber salários, com parte deles chegando ao extremo de pedir demissão para sair dessa situação, sem receber nenhum de seus direitos. Uma situação desumana e violenta com a vida dos trabalhadores e trabalhadoras e seus familiares.
Toda vez que a Avibras entra em crise, quem acaba pagando a conta são os trabalhadores, vários deles com a perda de emprego, já que a primeira medida adotada pela empresa é a demissão em massa, como foi o caso daquela ocorrida em março de 2022, com a demissão de 420 trabalhadores.
Outros, os que permanecem ligados à empresa, ficam meses e até anos sem receber, sem que a Avibras ou qualquer outro órgão público tome alguma providência em relação a vida desses trabalhadores e trabalhadoras que estão sendo penalizados.
Não é primeira vez que isso acontece na história da empresa e, pelo menos desde 1987, tem sido uma situação recorrente, com trabalhadores humilhados deixando de pagar suas contas, perdendo casa, plano de saúde, comprometendo a educação dos filhos. Tudo isso sem que a empresa seja responsabilizada pelo governo ou pela justiça.
Esta situação evidencia a necessidade de se ter um sindicato forte, organizando e conscientizando os trabalhadores para enfrentar as empresas e obrigá-las a cumprirem suas obrigações.
Somente a luta dos trabalhadores pode dar um basta nesta situação, exigindo do governo, nas suas várias instâncias, a resolução deste problema e impedindo que esta história se repita.
(*) Maurílio de Oliveira é militante do PT de São José dos Campos
Uma resposta
Na década de 80 eu como militante sindical e do PT passei por situações constrangedoras ao entregar boletins do sindicato; recebi o mesmo de volta todo amassado e jogado no meu rosto !