Por Lucas Rafael Chianello (*)
A vitória de Lula em Minas Gerais, com Zema reeleito no primeiro turno, não é nenhuma surpresa se levantarmos os resultados de eleições anteriores: o “Lulécio” de 2002 e 2006, bem como a “Dilmasia” de 2010. Ou seja, não existe na mente do eleitor mineiro uma constante uniformidade de votos para presidente e governador de estado. A eleição de Dilma em 2014 com Pimentel governador é uma exceção, e até hoje as direções nacional e estadual não souberam corrigir a dissociação, se é que se empenharam nessa tarefa em algum momento.
Durante a campanha, Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, ex-senador e ex-governador do Estado declarou que o PT não o defendeu quando era governador, o que pode ser uma verdade que dói. Porém, também é verdade que dói que Pimentel é um dos fiadores desse modelo de partido administrativista, que direciona todas as suas lutas para as frentes governamentais e deixa de fazer a disputa de consciências na sociedade.
Diversas foram as pautas nas quais o PT MG poderia ter organizado a classe trabalhadora para a luta política: a construção do Rodoanel; o atraso em um ano do fim do parcelamento da folha de pagamento de parte dos servidores públicos estaduais; a precarização de carreiras públicas sem a efetiva nomeação de servidores concursados; o rombo nas contas do estado maior que o atribuído ao governo Pimentel; a terceirização de hospitais da rede Fhemig, dentre outros.
Entretanto, a ausência de oposição mais enérgica na Assembleia Legislativa, somada à falta de politização do debate na sociedade, permitiram ao cavernícola de sapatênis navegar em céu de brigadeiro, o que muito contribuiu para a sua reeleição no primeiro turno, ao passo em que Lula foi o candidato a presidente mais votado no estado.
Formou-se na mente do eleitor mineiro o pensamento de que precisamos de mudança em nível nacional, ao passo em que Minas vai bem, obrigado.
Ainda assim, a diferença entre Lula e o cavernícola ficou bem achatada no primeiro turno.
Assim como em diversos estados, deliberou-se fora do partido, e nele tão somente foi homologada a título de formalidade a estratégia de terceirizar a neoaliados de direita a tarefa de derrotar Zema e o fascio-liberalismo, aposta que demonstrou-se infrutífera, pois além de não haver campanha de massa aqui e em outros estados, o que não é o método das candidaturas de Kalil e Alexandre da Silveira, boa parte da militância e da base ficaram receosas e desanimadas a defender o voto em candidaturas de um partido, o PSD, que no Congresso Nacional votou, na maioria das vezes, favorável às reformas do atual governo fascio-liberal.
Quanto aos cargos proporcionais, fica evidente o reflexo estadual da disputa nacional contra o PL pela maior bancada: para a Câmara dos Deputados eles elegeram 11 deputados, enquanto nós elegemos 10; para a Assembleia Legislativa, nós elegemos 12 deputados, enquanto eles elegeram 9.
Em ambos os casos a correlação de forças termina desfavorável a nós porque somados os assentos obtidos pelos demais partidos de esquerda e os de direita, fisiológica ou ideológica, estes terminam com maior número do que nós, o que nos leva a repensar a contraposição entre estratégia de maioria legislativa versus estratégia de luta social, seja na possível vitória de Lula em nível federal, seja na oposição ao próximo mandato de Romeu Zema.
(*) Lucas Rafael Chianello é dirigente estadual da tendência petista Articulação de Esquerda