Por Júlio Quadros (*)
As eleições de 2 de outubro, no país e no Rio Grande do Sul, merecem uma avaliação mais profunda. Isto deverá ser feito depois do segundo turno.
O fato é que a eleição reúne elementos contraditórios, mas alguns elementos são centrais. Podemos avaliar a campanha em si, o seu resultado final, bem como podemos fazer uma avaliação do que será o Rio Grande do Sul a partir de janeiro de 2023.
Teremos um segundo turno entre o candidato do Partido Liberal (PL), o bolsonarista Onix Lorenzoni, que fez 37,50% dos votos válidos, ou seja 2.382.026 votos, contra o eleitor bolsonarista arrependido Eduardo Leite do PSDB, que fez 26,81% dos votos válidos, ou seja, 1.702.815 votos. Nosso companheiro Edegar Preto fez 26,77% dos votos válidos, ou seja, 1.700.374 votos. Uma diferença mínima levou o candidato tucano – que era o favorito das pesquisas – ao segundo turno. Detalhe na semana da eleição, mesmo com todo o crescimento, Edegar aparecia nas pesquisas com 8% a menos do que foi o resultado das urnas.
Isto evidencia que, ao contrário das pesquisas eleitorais e da opinião de parte dos petistas, havia sim a possibilidade de Edegar Preto chegar ao segundo turno. O resultado das urnas, além de uma votação expressiva, é o de quem terminou de cabeça erguida a corrida política e eleitoral.
O crescimento de Edegar Preto foi resultado da combinação de alguns fatores. O primeiro refere-se ao fato de Olívio Dutra ter assumido a candidatura ao Senado; o segundo tem a ver com o papel do comício de Lula no dia 16 de setembro, que ajudou a criar uma onda vermelha, em especial em Porto Alegre; o terceiro é o acerto do discurso político de Edegar Preto, que na reta final polarizou, no ponto certo, com Leite e Onix; e o quarto ao fato da militância assumir a chapa na íntegra, com Lula, Olívio e Edegar.
Faltou pouco para Edegar chegar ao segundo turno. Os detalhes da avaliação e balanço faremos depois. Questões como a baixa oposição ao governo Leite ao longo de quatro anos, a não aparição do PT e seus pré-candidatos no horário eleitoral gratuito no primeiro semestre, bem como a não presença efetiva na campanha de figuras do campo popular e partidos aliados serão tema de textos e debates futuros.
Também é relevante o aumento de nossas bancadas, pois saímos de cinco para sete federais da Frente Brasil Esperança, sendo seis do PT e um do PCdoB; na bancada estadual o crescimento foi de nove para doze, sendo onze do PT e um do PCdoB. O PSOL também aumentou, de um para dois estaduais.
Some-se a isto o expressivo resultado de Porto Alegre, onde Lula venceu Bolsonaro com uma vantagem de 90 mil votos, Olívio venceu Mourão com vantagem de 97 mil votos e Edegar chegou praticamente empatado com Eduardo Leite.
O fato é que isto não foi o suficiente e teremos, novamente, um segundo turno entre dois candidatos da direita, um liberal e um representante do bolsonarismo. Ambos vão querer, no governo, implantar ainda mais as teses do “Estado Mínimo”, dar andamento às privatizações, bem como à retirada dos direitos. A diferença é que um é candidato do bolsonarismo e o outro tenta ser representante de uma terceira via enfraquecida. Tanto é verdade que, nos primeiros dias após a eleição, Leite falou abertamente que não quer nenhum acordo formal com o PT e até agora não se posicionou sobre o tema presidencial.
Uma vitória nacional de Lula poderá servir como uma trava nos ímpetos neoliberais, particularmente em relação a Leite, na sua ânsia pela redução do tamanho e papel do Estado. Mas o fato é que, depois de sete pleitos, onde o campo popular polarizou a disputa política no Rio Grande do Sul e fez-se presente no segundo turno com Colares (1990), Olívio (1994, 1998 e 2006) e Tarso (2002, 2010 e 2014), esta é a segunda oportunidade consecutiva em que estamos fora do segundo turno. Significa dizer que hoje, no RS, com exceções, existe sim uma hegemonia política conservadora e liberal. Um tema que deverá ser enfrentado em debates depois de 30 de outubro.
Além desta avaliação, tem-se o resultado lamentável na disputa para o Senado. Em que pese a grande votação de Olívio Dutra, que fez 37,85% dos votos, ou seja, 2.225.448 votos, fomos superados pelo representante do bolsonarismo Hamilton Mourão, que fez 44,11% ou 2.593.294 votos. Resultado que teve início na manobra da ex-candidata do PP ao Senado, Nádia, que renunciou e deflagrou uma migração de votos. Com certeza os instrumentos da classe dominante, a turma do Agro e das Pentecostais, agiram unificadamente para alcançar este resultado no Senado.
Isto reforça a compreensão de que teremos tarefas árduas e duras para reverter este quadro de hegemonia liberal e conservadora no RS, em grau maior no interior do seu Estado.
O segundo turno da eleição presidencial será importante: deveremos buscar ampliar a vantagem de Lula em Porto Alegre e em regiões mais pobres. E buscar reduzir a diferença em localidades e regiões onde predomina a visão de mundo bolsonarista. Portanto agora é Lula!
(*) Júlio Quadros é integrante da direção nacional da AE.