Eleições 2024: vitória das direitas

Por Valter Pomar (*)

No Brasil existem várias direitas.

Tem direita no governo, tem direita na oposição.

Tem direita gourmet e tem extrema direita.

Tem direita ideológica e tem direita pragmática.

Tem direita até dentro de partido de esquerda.

Mas o que tem mesmo é direita comemorando o resultado das eleições municipais de 2024.

Pode ser injusto, mas é um fato: se somarmos os votos obtidos, na eleição de prefeituras, por todos os partidos que vão do centro até a extrema-direita (ver relação ao final), o resultado é superior a 91 milhões e 200 mil votos.

Fazendo a mesma conta, mas considerando todos os partidos que vão do centro até a esquerda, o resultado é pouco maior do que 22 milhões e 300 mil votos.

Além disso, há cerca de 42 milhões e 400 mil votos em branco, votos nulos e abstenções. Ou seja: os “nem, nem e nem fui” somam quase o dobro do eleitorado da centro-esquerda e esquerda.

Quando comparamos estes números com os de 2020, a situação fica ainda pior.

Em 2020, no meio da pandemia e do governo cavernícola, a soma dos votos das direitas foi pouco maior que 80 milhões e 100 mil votos. Agora, no meio do governo Lula 3, a votação das direitas cresceu para 91,2.

Já a centro-esquerda e esquerda cresceu de 21,9 para 22,3.

Este crescimento foi graças à votação obtida por candidaturas do PSOL, do PSB e do PT, nessa ordem.

O PSB cresceu de 5,2 para 6,5. O PSOL cresceu de 2,2 para 2,6. Já o PT, mesmo sem ter candidato em São Paulo capital e Rio de Janeiro capital, cresceu de 6,9 milhões em 2020 para 8,9 milhões em 2024.

Os demais partidos da centro-esquerda e esquerda – tirante PSOL, PSB e PT – perderam votação, entre 2020 e 2024.

PDT caiu de 5,3 para 3,2. PV caiu de 0,7 para 0,6. PCdoB caiu de 1,2 para 0,3. Rede caiu de 0,4 para 0,1. UP, PSTU, PCO e PCB tiveram resultados inferiores a 100 mil votos.

Os resultados acima devem ser ponderados, levando em consideração o aumento no eleitorado, assim como o comportamento dos votos em branco, nulos e abstenções. Mas o fato político é evidente: a maior parte do eleitorado votou em candidaturas lançadas por partidos de direita e extrema-direita.

Alguém pode dizer: mas não foi sempre assim? Os partidos das direitas não foram sempre mais votados nas eleições municipais anteriores?

Os fatos indicam que isso é parcialmente verdadeiro. Há, entretanto, algumas novidades. Primeiro, a votação das direitas cresceu substancialmente, enquanto a votação das esquerdas cresceu vegetativamente. Segundo, a votação das direitas cresceu muito, no ano de 2024 em relação ao ano de 2020, apesar deles terem perdido a eleição presidencial em 2022. Terceiro e mais importante, quem mais cresceu foi o Partido Liberal, o partido do cavernícola.

Ou seja: não apenas as direitas cresceram, mas quem mais cresceu foi a extrema-direita claramente oposicionista. O PL teve 4 milhões e 700 mil votos em 2020 e 15 e 700 mil votos em 2024.

Portanto, o primeiro turno de 2024 foi uma vitória das direitas.

Se queremos mudar isso, não adianta tergiversar. Para mudar isso, é preciso ganhar o segundo turno das eleições de 2024.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

(**) partidos considerados de centro-direita e direita: Agir, Avante, Cidadania, DC, MDB, Mobiliza, Novo, PL, PMB, Pode, PP, PRD, PRTB, PSD, PSDB, Republicanos, Solidariedade, União.

 

Uma resposta

  1. Excelente análise. Mas ainda considero que o PT perde voto na sua militância de raiz por se aliar a partidos de direita e até de alguns do campo da extrema-direita pra chegar ao poder a todo custo. Isso faz com que o PT em algumas cidades já não tenha candidatura própria e fique à sombra de partido da direita neoliberal deixando seus antigos eleitores à deriva sem saberem se acompanham a direita ( c/ mais votos comprados ,a máq.pública ) ou se apoiam outra candidatura da esquerda ( por ex PSOL) que tem um programa popular.que atende às classes populares

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