Por João Paulo Furtado (*)
Texto publicando no Boletim P13 LGBT – Edicao 08 Agosto de 2025
“Pinkwashing”, que em uma tradução literal significa lavagem rosa, é um termo que tem sido utilizado para designar as estratégias de propaganda que se apropriam da luta LGBTQIA+ como cortina de fumaça para encobrir violações de direitos cometidas por entidades e organizações. Um dos casos mais emblemáticos dessa estratégia é a propaganda feita pelo Estado israelense como forma de ocultação, ou até mesmo de legitimação, do genocídio em curso contra o povo palestino.
A imagem de um soldado israelense exibindo uma bandeira LGBT com a frase “em nome do amor” sobre as ruínas de Gaza, que foi compartilhada até pelas redes sociais do governo de Israel, é a ilustração perfeita do que está sendo dito aqui. Mas, em nome de qual amor? Certamente não foi em nome do amor das milhares de famílias palestinas enlutadas pelos assassinatos indiscriminados cometidos pelo exército israelense.
Apesar do “pinkwashing” ser um termo relativamente recente, vender a imagem como a democracia mais avançada no Oriente Médio é uma estratégia velha que o Estado de Israel utiliza para legitimar ocupações ilegais, violações de direitos humanos e ataques contra países vizinhos. Mas Israel não é o único nem o primeiro Estado que justifica o uso da força contra outros povos em nome de um projeto civilizatório. Na história da humanidade, todas as formas de colonialismo foram justificadas em alguma medida por questões morais, em defesa de uma tal civilização.
Em discurso proferido no Congresso dos EUA, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ironizou o fato de LGBTs se manifestarem contra o genocídio em Gaza, dizendo: “Alguns desses manifestantes seguram cartazes dizendo ‘Gays por Gaza’ Eles poderiam muito bem segurar cartazes dizendo Galinhas pelo KFC”. Mas onde está a contradição entre ser gay e defender a resistência do povo palestino? O que Netanyahu faz é tentar associar todo um povo, que é heterogêneo e diverso, a um conjunto homogêneo de valores morais. Como se os “valores retrógrados” do povo palestino justificassem sua dominação pelos “civilizados” israelenses.
Não se trata aqui de relativizar ou de colocar em segundo plano a luta pelos direitos da população LGBTQIA+, mas de questionar sua instrumentalização por projetos colonialistas, como o sionismo faz. Ademais, ao longo da história, o colonialismo só aumentou a opressão contra a população LGBTQIA+.
Inclusive, a criminalização da homossexualidade no território palestino surgiu com o Código Civil de 1936, durante o mandato britânico, período em que a região foi controlada pelo Reino Unido. Assim como na Palestina, a colonização britânica deixou o mesmo legado contra os direitos LGBTQIA+ em diversos países da Ásia e da África, com leis discriminatórias que, em alguns desses, perduram até hoje.
Por seu caráter emancipatório, a luta pelos direitos LGBTQIA+ é indissociável da luta anticolonialista. Não é possível ser plenamente livre enquanto pessoa LGBTQIA+ estando sob um regime colonial que submete seu povo à condição sub-humana. E é essa a situação imposta ao povo palestino ao longo de décadas. Por isso é que não cabe outra atitude dos movimentos LGBT que não seja pela liberdade da Palestina, do rio ao mar. ★
(*) João Paulo Furtado, militante do PT e da AE em Vila Velha/ES