Da Redação da Agência de Notícias do PT
Ex-presidente falou a uma plateia lotada um dia após julgamento parcial em Porto Alegre: “Dormi o sono dos inocentes”
“Não aceito que vocês lancem minha pré-candidatura para me proteger. Minha proteção é minha inocência. Se eu for candidato a presidente da República não é pra me inocentar, é para governar decentemente esse país.” Assim o ex-presidente Lula recebeu a aclamação de sua pré-candidatura à Presidência de República, em evento realizado nesta quinta-feira (25) na sede da CUT, em São Paulo. E completou: “O Dom Pedro I criou o ‘Dia do Fico’, eu vou dizer o ‘Dia do Aceito’. Eu aceito!”
Discursando para uma plateia lotada na manhã seguinte após ter sido condenado por três desembargadores do Paraná, ele resumiu seu estado de espírito: “Me perguntam se estou bem, se dormi bem. Sim, dormi bem, o sono de quem sabe que é inocente”. Sobre o simulacro de julgamento que na última quarta-feira teve lugar em Porto Alegre, ele disse:
“Ontem (quarta, 24), não vi eles me acusarem de nenhum crime. Acho que eles estavam efetivamente tentando condenar uma parcela grande do povo brasileiro, que teima em reconhecer no PT e no Lula a possibilidade desse país voltar a ser respeitado, bem governado, e do povo voltar a viver feliz, com autoestima, trabalhando e vivendo bem.”
“Sobre a decisão, sempre acreditei que seria 3 a 0, que seria como foi. Portanto, não sofri como alguns companheiros pensavam. Eu não estou feliz, mas duvido que algum deles esteja com a consciência tranquila como eu estou hoje.”
A respeito da decisão em si, em que foi unânime a condenação e o aumento da pena para 12 anos e um mês, o que exclui a possibilidade da Defesa protocolar o chamado embargo infringente, Lula disse: “Só ontem eu compreendi o que é um cartel. Um desembargador ficou seis meses com o processo, outro só seis dias e o outro nem sei quantos. E então se juntaram para dar sentença unânime, para evitar o tal embargo infringente. Formaram um cartel para tomar a decisão e tentar evitar a possibilidade de que o PT tenha Lula candidato a presidente da república”, disse o ex-presidente, continuando:
“Na verdade, a votação de ontem foi muito mais para valorizar a categoria dos juízes, para valorizar o corporativismo, do que uma sentença para julgar um crime, porque não havia crime.”
Pré-candidatura
Já sobre o lançamento da sua pré-candidatura, Lula aceitou a aclamação, ao mesmo tempo em que destacou todos os desafios que se criam a partir daí. “Estou aqui para dizer a vocês que não tem apenas esse processo (do triplex da OAS). O que está sendo julgado é a forma como nós governamos, a ousadia de fazer as coisas que nunca haviam sido feitas nesse país. A possibilidade de criminalizar a organização política que colocou o pobre no centro do debate econômico. Ou a gente percebe isso e começa a construir uma narrativa junto à sociedade brasileira, ou vamos abrir espaço para a tentativa de fazer com que o PT seja criminalizado injustamente.”
Por fim, o ex-presidente lembrou que sua condenação em segunda instância é parte de uma reação ao trabalho do Partido dos Trabalhadores, que não se resumirá apenas à perseguição da pessoa do ex-presidente: “O Lula é apenas a ponta de lança que eles querem tirar do jogo. Acho que em muitas décadas eu não via reação de corporação como vemos agora. A PF está se prestando a qualquer negócio, a propor qualquer processo, não importa a quantidade de mentiras. Fazem perguntas sem nexo e sem interesse no processo, e não interessa a resposta. Mas não se condena uma ideia. Uma ideia não cabe em cela, em cova, a ideia sobrevive. A ideia é que o povo brasileiro sabe cuidar do Brasil melhor do que a elite brasileira jamais cuidou desse país.”