Por Valter Pomar (*)
Poder360 publicou, no dia 10 de outubro de 2024, um texto da companheira Clara Ant.
O texto pode ser lido aqui: Clara Ant | “Netanyahu é um vitorioso da morte e um negacionista da paz” (poder360.com.br)
O objetivo do texto, segundo entendi, é atacar o genocídio, defender o cessar fogo, criticar Bibi Netanyahu e os setores da comunidade israelense que o apoiam.
Talvez para ser melhor ouvida por esses interlocutores, Clara introduz em seu texto algumas afirmações que merecem reparo.
Por exemplo: o primeiro parágrafo do texto diz que o alvo do ataque do Hamas foram “civis israelenses numa área de fazendas coletivas fronteiriças à cidade palestina de Gaza”, “famílias de moradores israelenses cujas relações cotidianas de vizinhança com famílias de moradores palestinos eram estreitas”. Sei de pelo menos um caso de uma família de comunistas, contrários à ocupação, que foram assassinados pelo Hamas durante o ataque. Mas, até onde eu sei, isto é uma exceção entre os colonos israelenses, parte importante dos quais é composta por “extremistas”, como diz a própria Clara. Óbvio que nada disto justifica assassinar civis, sejam colonos, sejam os jovens que estavam na rave. Alguns dos quais, segundo investigações da própria polícia israelense, foram vítimas de “fogo amigo”.
Ainda no primeiro parágrafo, Clara fala que “o Hamas massacrou, torturou, estuprou e queimou vivas mais de 1.000 pessoas, entre elas: crianças, mulheres e idosos. Sequestrou mais de 200! As imagens desse episódio foram registradas pelo próprio Hamas e divulgadas em todo o mundo”. Do jeito que está escrito, alguém pode entender que o Hamas teria registrado e divulgado imagens de mais de 1 mil israelenses sendo massacrados, torturados, estuprados e queimados vivos. Isso, como é óbvio, não ocorreu. Sem falar que há questionamentos diversos sobre o que de fato teria ocorrido. Mas, repetimos, qualquer ataque contra civis e qualquer das práticas citadas deve ser condenada e punida.
Mais adiante, o texto destaca que “o que foi anunciado como uma retaliação transformou-se em destruição de bairros inteiros e deslocamento de centenas de milhares de civis palestinos”, “o assassinato de mais de 40.000 pessoas”, “potencial início de uma guerra regional”. E, na sequência, pergunta: “seria possível acreditar em uma solução como a alegada por Netanyahu e possivelmente aprovada por uma parte dos israelenses, já que são eles que vivem debaixo da rota dos mísseis dos iranianos, do Hamas, do Hezbollah e dos houthis?”
O “já que” passa a impressão de que o apoio que uma parte da população de Israel dá ao genocídio deriva dos mísseis enviados por quem apoia a resistência palestina. Acontece que Israel ocupa ilegalmente a Palestina há décadas. E desde o início usa métodos inaceitáveis. O apoio à ocupação, inclusive na sua forma mais genocida, não é culpa dos que se opõem a Israel. A autoria intelectual dos crimes cometidos pela ocupação é sionista.
Netanyahu é um criminoso de guerra. Mas o problema de fundo é a ocupação. Não basta ter cessar-fogo. Tem que ter paz. E para ter paz, a ocupação precisa acabar.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT