Moção de repúdio à violência policial na Calourada de Santa Maria (RS)

A militância petista reunida no 9° Congresso da tendência Articulação de Esquerda, em São Paulo, vem a público expressar seu profundo repúdio a mais uma atuação truculenta e desproporcional da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, ao passo que nos solidarizamos com as e os estudantes agredidos na ocasião, em especial ao companheiro Luiz Boneti e à companheira Camille Teles, militantes da JPT, que ao questionarem a abordagem violenta, foram tratados de forma violenta.

O episódio ocorreu na noite de 12 de março, durante a festa da Calourada, ocorrida na Gare da Estação Férrea, em Santa Maria. Após um princípio de confusão, policiais militares intervieram utilizando spray de pimenta, que atingiu as pessoas no entorno, mesmo que estas não tivessem qualquer envolvimento na confusão. Isso levou mais de 40 pessoas à UPA para atendimento.

Diante disso, os dois militantes da JPT que também foram atingidos pelo spray – um jovem negro e uma mulher branca – dirigiram-se aos policiais questionando o porquê de tamanha violência na abordagem. Em resposta, ambos foram atingidos com spray disparado diretamente sobre seus rostos, sendo que a companheira Camille foi levada à força por policiais homens até a viatura, enquanto que o companheiro Luiz foi agredido com chutes, socos e golpes de cassetete, que deixaram hematomas visíveis.

Ele teve sua camiseta rasgada, e depois das agressões foi algemado e jogado ao chão, num ato que combinou o uso de violência e de humilhação pública, tratamento que infelizmente é recorrente contra a juventude negra no Brasil, principalmente por parte das polícias militares.

Depois disso, ambos foram levados até o CIOSP, onde ficaram por mais de 2 horas e foram tratados com desdém e humilhação por parte tanto dos policiais quanto do delegado de plantão, contrariando qualquer conduta ética exigida de servidores públicos.

Luiz Boneti, que também é coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU), foi ameaçado com voz de prisão por simplesmente perguntar qual era o nome do delegado, intento que só não se concretizou devido à intervenção de uma vereadora do PT, que o confrontou lembrando-lhe que era servidor público.

Violência, autoritarismo e covardia são as palavras que melhor definem os acontecimentos deste 12 de março. Quando se trata da juventude negra, o roteiro é repetido de forma cruel e sistemática. Jovens negros são tratados pelos órgãos repressivos como cidadãos de segunda classe, alvos de violência desmedida, privados de direitos básicos e submetidos a um tratamento que ignora a lei e a dignidade humana. Essa realidade expõe uma estrutura de opressão que precisa ser urgentemente combatida e transformada.

Não negamos a importância de garantir a segurança em espaços públicos e eventos desse tipo. No entanto, apontamos que não será com violência policial que a segurança será alcançada, muito pelo contrário. Não à toa, estudos apontam que a Polícia Militar do Brasil está entre uma das que mais mata, mas também entre as que mais morrem. Por isso os movimentos negros e de juventude vêm há décadas apontando para a necessidade urgente de uma reformulação e desmilitarização das polícias no país.

A militância da tendência Articulação de Esquerda reitera sua solidariedade às e aos estudantes violentados. Reforçamos que a juventude, especialmente jovens negros que com tanta luta ocupam a Universidade Federal de Santa Maria e estão se formando para melhorar nossas vidas e do nosso povo, não podem e nem devem ser intimidados. Essa juventude, com nosso apoio ativo, continuará lutando pelo direito da juventude negra ao lazer, ao estudo e à vida, e conclamamos todas e todos a somarem suas vozes em denúncia e apoio a essa causa!

São Paulo, 15 de março de 2025.

As delegações presentes ao 9º Congresso nacional da tendência petista Articulação de Esquerda

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