Nos passos da campanha do Prof. Luis, candidato a vereador em São José dos Campos/SP

Por Thaís Ribeira de Paula (*)

Prof. Luis com a artista Vivian Rau, na apresentação do espetáculo de teatro lambe-lambe Pequenos Mestres & Mestras, produzido pelo grupo Teatro do Imprevisto

Na campanha do Prof. Luis, a narrativa da “São José, cidade tecnológica” vai se dissolvendo a cada dia e desvelando a cidade das tecnologias populares1, cuja história é permanentemente encoberta e ocultada pelos discursos dominantes que outrora tratavam de atrair investimentos industriais através da propaganda de uma cidade socialmente “higienizada” e que, hoje, pretendem transformá-la em uma grande e suculenta mercadoria para os empresários da especulação imobiliária e do capital financeiro.

São José dos Campos, no início do século XX, chegou a ser conhecida como a “cidade da pindaíba”. Foi a partir dos anos cinquenta, particularmente com a criação do CTA, que os incentivos municipais à implantação de grandes empreendimentos industriais se intensificaram, chegando até os anos setenta, com destaque para o papel jogado pelo prefeito biônico Sérgio Sobral de Oliveira (que apesar de Coronel, se autodenominava Brigadeiro2).

Foi a partir desse período da Ditadura Militar que buscou-se institucionalizar também uma certa operação ideológica de tendências megalomaníacas que visavam a promover a cidade como propícia aos investimentos do capital (especialmente) internacional. A outrora “Capital do Vale” convertida na atual “Cidade Inteligente”, “Cidade 5.0”, etc. evidencia que tal ideologia, presente até hoje no imaginário e no vocabulário de muitos joseenses, foi devidamente sustentada e difundida pelas direitas da cidade.

Foi também naquele período que se resgatou com força total o mito do fundador Anchieta, um equívoco histórico que foi convenientemente requentado para fortalecer uma certa ideologia da cidade “eleita”, “predestinada” e, portanto, apropriada para receber investimentos do mundo inteiro.

Tal operação foi também importante para garantir a legitimidade de uma ditadura profundamente racista, que tratou de jogar para debaixo do tapete a história do povo negro, indígena, caboclo e caipira da cidade e que, para “esconder” a então favela da Linha Velha2, construiu o que ficou conhecido como “muro da vergonha”, sobre o qual é difícil encontrar textos e registros históricos, mas que a memória de Dona Ana, moradora do bairro Santa Cruz II, ajuda a confirmar.

Na campanha, as caminhadas pelo Centro da cidade revelam uma São José que se buscou e ainda se busca esconder, e que está sempre sob a ameaça de desapropriações, com bairros abandonados, formados por casebres e por vezes sem a mais básica infraestrutura, o que não implica valores de aluguel menos abusivos, mesmo sob condições de moradia bastante precárias.

Nessa disputa histórica entre a cidade que parece ser, e a cidade que de fato é, a campanha do Prof. Luis vem cumprindo um importante papel no sentido de construir um caminho coletivo com aqueles e aquelas que resistem na arte e na cultura, e que lutam em defesa dos espaços públicos e contra as terceirizações e privatizações que visam alijar o povo de sua própria história e de toda forma de lazer público e gratuito, em favor de uma burguesia parasita que trata de impor o horror de um progresso vazio3 sobre a população, assim como está fazendo, exatamente agora, ao tentar expulsar os moradores da Vila Guarani, da Vila Tupi e da Estação Ferroviária, cujas casas “atrapalham” seus planos insanos.

Prof. Luis com o artista plástico Marcos Santos e a professora e capoeirista Regiani Reis, em atividade de panfletagem na feira do Jd. Colonial.

O diálogo com os mestres e mestras da capoeira, com artistas, com professores e professoras, com militantes e lutadores históricos, vem recolocando em evidência a história da São José da cultura popular, dos carnavais de rua, do movimento hip-hop. Enfim, da cidade da resistência, que vibra e que luta para contar a sua própria história. Um mandato popular junto aos movimentos marginalizados pela chamada “Cidade Inteligente” pode ser uma trincheira, um espaço de representação destes que resistem, e na luta por conceber e construir uma cidade a partir das necessidades reais e da história de seu povo.

(*) Thaís Ribeira de Paula é militante do PT de São José dos Campos


1 Termo utilizado pelo grupo Santo de Casa, liderado pela artista Pércila Márcia da Silva, que reúne as obras das artistas popularmente conhecidas como figureiras de São José.

2 Cristiano José Pereira – A cidade, a fábrica e a juventude: A mão-de-obra juvenil na fábrica de louças “Santo Eugênio” e o contexto industrial de São José dos Campos-SP (1921-1973).

3 Purificar o Subaé, de Caetano Veloso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *