O golpe imperialista e branco de 1964

Epigrafia da cor e/ou raça  da burguesia brasileira e  do  golpe de 1964

A burguesia  branca, ao empiricizar as suas posições  de  classe e  raça, tem,  como expressão nas  forças  armadas, sistemas jurídicos, financeiros, econômicos, militares, midiáticos e de representação, os poderes brancos e/ou  branqueados e  classistas. Podemos  , então, indagar: por que  a  burguesia branca  brasileira  fica fora do debate e das sistemáticas analíticas defensoras do  socialismo?  

Por  Fausto Antonio (*)

O  golpe  militar  de  primeiro de  abril  de 1964, realizado pelo imperialismo e  burguesia  branca brasileira, deixou e atualiza marcas políticas imperialistas e  racistas que  são fundamentais  para  a  compreensão ou leitura do  contexto político atual do Brasil. Tendo  em conta  a  natureza sintética  do  artigo, caras  e  caros leitores, deixamos na  redação  algumas pistas da centralidade do  imperialismo, da burguesia branca e  do  racismo.

Como bloco de poder transnacional, o  imperialismo, nas  palavras de  Lenin (2011) , é o  estágio ou  a  fase mais  avançada  e  agônica do  capitalismo, que se materializa pela fusão de  capital industrial e bancário, que constituem o capital financeiro, que  se realiza como  capital  especulativo desgarrado das funções  e  necessidades  sociais. A burguesia brasileira,  como  força  dependente e de escalão subalterno das  frações burguesas mundiais, atua em conformidade com as imposições imperialistas e, portanto,  contra  a  soberania  nacional.

Sumariar as intervenções  organizadas pelo  imperialismo, com ênfase em 1064,  tem o  objetivo de  deixar à  disposição um  instrumento analítico  a  propósito  do papel ativo e central  dos EUA no  período e nas sucessivas políticas empreendidas e, sem exceção, contrárias  à soberania  brasileira.  Nesta direção   é  válido  enumerar “o mensalão, a operação  lava  jato, golpe de Estado  de  2016, prisão  do  ex-presidente  Lula e o bolsonarismo”. No  cerne  do  golpe,  atuaram o  imperialismo  estadunidense  e  a  burguesia  branca  brasileira.

As  forças  armadas, com um rosário de generais brancos no comando do  exército e  do país, foram o  braço operacional da repressão aos partidos de esquerda, sindicatos, movimento sociais, artistas, políticos, intelecutais, classe trabalhadora e, com  a  naturalização do  racismo, via  mito  de  democracia  racial,  são   também os  responsáveis  pelo  acirramento da violência  policial  contra  negros, que  resultou, no  período,  no esquadrão  da  morte e hoje  no  genocídio de jovens negros.

O  esquadrão  da  morte foi  iconizado , o  que  não  deixa  dúvidas da orientação  racista  das execuções e  da ditadura iniciada em 1964, de “mão branca”. O  processo  não  deixou igualmente  dúvidas a  respeito  do  alvo das operações policiais de  extermínio, isto  é,  os  negros e, ao  mesmo tempo, delimitou e  delimita ainda hoje, com orientação  das  forças  armadas, o papel do  sistema  policial  militar  e civil na opressão  e  contenção, via execução e violências policiais  irrestritas, “dos  inimigos  internos”.  Os  inimigos internos, com o  risco  consciente de  generalização,   são as  forças  sociais anti-imperiamismo e/ou  contrárias ao capitalismo;os comunistas,    e o são também os  negros e  os  pobres, que  não  são considerados cidadãos brasileiros.

A burguesia  branca  é  uma  chave ou categoria  analítica para  desmontar o mito da democracia  racial. A burguesia  branca, ao empiricizar as suas posições  de  classe e  raça, tem,  como expressão nas  forças  armadas, sistemas jurídicos, financeiros, econômicos, militares, midiáticos e de representação em geral, os poderes brancos e/ou  branqueados e  classistas. Podemos  , então, indagar: por que  a  burguesia branca  brasileira  fica fora do debate e das sistemáticas analíticas defensoras do  socialismo?

Entre  dois  identitarismo 

No  Brasil, entre  dois  identitarismo, muitas  abordagens enfatizam, o  que concordamos, a  autoria imperialista  do golpe militar e civil  de 1964. No  entanto,   muitas  análises não dão ênfase à  parelha   inseparável  de  classe  e  raça, que  se historiciza  na burguesia  branca e  nos  seus aparatos econômicos, financeiros, jurídicos,  repressivos e midiáticos racializados  e  racistas. Com a  finalidade  de expor o significado concreto  e  sistêmico  dos  dois  identitarismo e da  razão  pela  qual  transitamos  entre dois identitarismo, é  útil dizer  que o identitarismo  negro  é  aquele que  nasce, cresce e morre abraçado  coms  as ONGS comandadas e  a  serviço dos privilégios para o  bloco imperialista e  burguesia  nacional. Movimentos sociais  negros dessa  natureza não querem derrotar o  imperialismo  e  a  burguesia  branca. Sendo assim, são apenas projetivos e querem acesso às franjas do capitalismo e  não  a  sua superação, que derrotaria  em  tese  e  na luta de classe  a  burguesia  branca , o  racismo e  o  capitalismo.

Em relativa oposição, temos, na dialética  entre os dois, o identitarismo branco , que  se ergue na geleia geral do país e  na senda de certo tipo  de   marxismo abstrato ou de  gabinete  e  que, sendo  assim, não considera a parelha inseparável, no  caso brasileiro, de  classe  e  raça e reproduz, apenas  com verniz marxista e sem   a   realidade  concreta e  sistêmica de como se  define  e  funciona o  capitalismo  no Brasil, o mito  de democracia  racial.

Na contramão  desse processo,  para  neutralizar hoje, 2025, de  um lado,  as  investidas do  imperialismo e, do mesmo lado, no  entanto  atuando internamente, a burguesia nacional, é  fundamental entender como se  definem o racismo  e  o capitalismo no país. Na mesma  intervenção é necessário entender como  se  define a OTAN como força bélica   e como  funciona o  imperialismo estadunidense na produção sistêmica e  estrutural   de  golpes  e  nas  deliberações sancionistas e  de  bloqueios, de natureza bélica ou híbrida, às soberanias  nacionais.

O identitarismo  branco, ao  ignorar, no  Brasil, a  cor  da  classe e/ou  a  parelha  inseparável  de  classe  e  raça, não considera a  centralidade desse  nexo de  classe  e  raça para a  caracterização  e  o  consequente  enfrentamento da burguesia  branca  brasileira.

O  racismo, com a  chave  de  classe  e  raça,   é  um dado  central para explicar o posicionamento da burguesia  branca brasileira, notadamente  no  que  tange à  aversão e  à oposição aos brasileiros da  base da pirâmide  social. É  aconselhável  negritar,  de acordo  com o  golpe militar imperialista e branco  de  primeiro de  abril  de 1964, que  a  aversão  e a  oposição  de classe  e  raça são os  fundamentos  para a  dominação, exploração, opressão e  poder burguês no  Brasil.

Os PALOP e a  encruzilhada da Conferência  de  Berlim, 1885,  e  OTAN, 1949.          

 Compreendemos  o  estágio  político  e as limitações internas dos PALOP, Países Africanos de  Língua Oficial  Portuguesa,  pela  análise  do  tabuleiro geopolítico  e opressivo imposto pela  Conferência de Berlim ,1885, e reafirmado  pelo   advento  da OTAN, 1949.  Quaisquer que  sejam os  contextos, no  horizonte  geopolítico  do   Brasil como demonstramos  acima   e dos PALOP, o imperialismo é central para o  entendimento  e para  a  consequente  organização  política voltada,  pelo menos  no  primeiro momento,  para a  soberania  nacional.

É fundamental  conjugarmos, pois são aliados do condomínio  luso-yanque, o papel das  elites econômicas e  políticas  dos países que falam oficialmente  a  língua  portuguesa. É necessário, de  um lado,  um projeto que assegure a  soberania nacional e, de outro,  sepulte  as visões  falsas que  dizem que o  problema, a  fragmentação, está localizado na diversidade étnica, linguística e cultural.

A sociodiversidade, em aspectos  os  mais  variados,  também está  presente nos demais continentes; a Europa  não é exceção. Então, o  que  explica e potencializa a dominação europeia nos  países africanos?  Não  é, certamente, a  unidade étnicorracial  ou cultural, mas sim a combinação , conforme a Conferência de Berlim e  o  advento ou fundação da OTAN, dos projetos de dominação, exploração, opressão  e poder  imperialista. A  chave invertida, que refuta a  fragmentação política, deve, desse modo, ser objeto de defesa e  de libertação dos PALOP.

Desse  modo, numa  articulação do  nacional  e  de  bloco , se  olharmos  os  PALOP como uma  federação  ou  bloco encetado pelas  soberanias nacionais e em conexão com os BRICS, a  realidade  de fragmentação,  estimulada pelas  moedas  e  línguas  da metrópole, ambas despóticas, se  modificará. No  entanto, é  preciso perceber politicamente , revelando  a  centralidade do  imperialismo e  em contraposição à soberania nacional,  a dominação, a exploração, a opressão  e o  poder  imperial.As  operações opresseroas,no entanto,   não  se  limitam e, sobretudo, não são comandadas, notadamente  depois  do  advento  da OTAN, 1949, pelo motor e/ou  projeto  isolado e autônomo de Portugal. O motor   português é, a rigor, o  motor  luso-yanque.

As  bases  de dominação  e também militares da OTAN, no  território  africano, se constituem em condomínios belga-yanque, ítalo-yanque, franco-yanque, germânico-yanque, espanhol-yanque, anglo-ianque.   Sendo  assim, Portugal, como de conjunto toda  a Europa, é  porta de  entrada para assegurar  privilégios relativos  ao  imperialismo europeu e principalmente privilégios  absolutos aos  EUA. Os  europeus  são comandados, a despeito  da Conferência  de Berlim e  da divisão arbitrária  e criminosa  do  continente  africano, pelos  Estados  Unidos.

O  exercício contra hegemônico  exige, portanto, a  análise  e  a  intervenção  política  capazes de  desvelar a ação e a força política, bélica e  intervencionista  dos  EUA por  trás de Portugal e  dos  demais  países europeus.  A  intervenção dos PALOP  deve, com urgência, se posicionar  na  contramão  daqueles  projetos  que fracionaram territorialmente a  África, de  acordo com a Conferência  de  Berlim, 1885, e hoje, 2025 e  em comunhão com o  ideário de opressão  da OTAN,1949, fracionam politicamente injetando conflitos, golpes e  a rapinagem dos recursos minerais e energéticos. São emblemáticos, a  despeito  dos  traços distintivos das  instabilidades e fragmentação de cada país, os  casos atuais de Moçambique  e Guiné Bissau.

Referência

Lenin, Vladimir Ilyich. O Imperialismo: Fase Superior do Capitalismo. Campinas: Navegando, 2011.


(*) Fausto Antonio é  professor  da  Unilab ,Bahia, escritor, poeta ,dramaturgo e autor, entre outros  romances, do “Diario di  Polon”, US – Edições, Cabo Verde, 2025.

 

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