Por José Gilderlei Soares
O empresário Flávio Rocha, presidente do Grupo Riachuelo e ex-deputado federal pelo estado do Rio Grande do Norte, recentemente escreveu um artigo no jornal Folha de S. Paulo, onde expõe sua paranoia anticomunista e faz referência ao centenário da Revolução Russa de 1917. O artigo pode ser lido aqui: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/10/1928996-o-comunista-esta-nu.shtml
Segundo o empresário, os comunistas atuais são “sibilinos e ardilosos” e procuram combater o capitalismo pelos flancos mais sensíveis. Esses flancos seriam aqueles que os comunistas consideram os protetores das “trincheiras burguesas”: o Judiciário, Forças Armadas, partidos ditos conservadores, aparelho policial, igreja e família.
Segundo Flávio Rocha, a esquerda estaria implementando uma cartilha com o objetivo de chegar ao comunismo pela hegemonia cultural. Ele se detém no exemplo das recentes exposições de arte que continham “quadros eróticos e corpo nu”. Segundo ele: tudo inadequado para determinada faixa etária. O empresário insinua que ao combater aqueles grupos que se opuseram as exposições, a esquerda estaria praticando “patrulha ideológica”. Ainda de acordo com ele, a esquerda também usava a glorificação da bandidagem, a vitimização do lúmpen descamisado das cracolândias, a defesa de certo discurso politicamente correto nas escolas e a demonização do capitalismo, atrelando-o a picaretagem.
Vale lembrar que Flávio Rocha é daqueles que defendem fervorosamente a adoção de leis e métodos duros para combater o aumento da criminalidade. Apoia as ações de seu amigo Dória contra dependentes químicos na capital paulista. Assim como o projeto escola sem partido e as famigeradas reformas trabalhista e da previdência.
Voltemos ao primeiro ponto que ele cita que a esquerda combate: o Judiciário. Ele deve se referir ao fato da esquerda brasileira criticar a denominada Operação Lava Jato; a tutela do judiciário sobre todas as áreas — desde qual política pública pode ser implementada, até quem deve ser candidato em eleições; a criminalização da política e, no caso da Lava Jato, o combater ao maior partido da esquerda brasileira e a maior liderança popular dos últimos anos: Lula. Quando criticamos o judiciário, criticamos isto: o caráter de classe e as opções politicas adotadas pelo chamado poder judiciário.
Flávio Rocha, por sua vez, só defende o judiciário e o Ministério Público quando ele mira no Partido dos Trabalhadores. Recentemente ele andou criticando o Ministério Público do Trabalho quando este pediu multa de 38 milhões de reais pelo fato do grupo empresarial Riachuelo não respeitar direitos trabalhistas. Quando se usa o Judiciário e o Ministério Público para criminalizar a política, a esquerda e suas lideranças, o empresário Flávio Rocha não vê nada de errado. Porém, quando o Ministério Público procura cumprir suas prerrogativas de promover as ações necessárias ao cumprimento dos direitos, merece todo repúdio do empresário.
Flávio Rocha é um dos expoentes da recente onda anticomunista. É ultra neoliberal na economia e conservador nos costumes. Assim como seus amigos do MBL, morre de medo de um modelo de sociedade que acabe com os privilégios de sua classe social. Por isto a lembrança da Revolução Russa lhe causa tanto pavor. Afinal, a Revolução Russa significou o desenvolvimento de educação e saúde pública, a elevação da qualidade de vida do povo russo, a emancipação das mulheres, o apoio a luta anticolonial e motivou a classe trabalhadora de todo o mundo a lutar pela ampliação de seus direitos e por outro modelo de sociedade.
Como toda revolução, foi feita por homens e mulheres, que com seus acertos e erros (sim, houve muitos erros) se colocaram na missão de construir o socialismo. Aliás, o empresário e ex-deputado afirma que os comunistas atuais aprenderam com os erros da Revolução Russa. Neste ponto temos que seguir o conselho dele e de fato aprender para não repetir os erros cometidos. Nisto, estamos em vantagem em relação aos bolcheviques de 1917, pois eles não tinham nenhum exemplo anterior para se debruçar sobre os erros e acertos.
Flávio Rocha tem razão de ter medo. Nós comunistas – tanto os que militam nos partidos comunistas, quanto os que militam no PT e em outros partidos de esquerda — queremos e temos que fazer a disputa de hegemonia cultural: democratizar o judiciário e os meios de comunicação, democratizar o orçamento público, repensar o papel das forças armadas e polícias, elevar os níveis educacionais e a qualidade de vida da classe trabalhadora brasileira, criando as condições para a efetivação de uma sociedade igualitária. É disso que o anticomunista Flávio Rocha tem medo.
José Gilderlei Soares é professor da rede pública e militante do PT/RN.