Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia da mão branca para revelar os agentes golpistas em dois tempos
As forças armadas são contrárias à democracia racial e política. No que tange à democracia racial, no processo golpista de 1964 e na continuidade lavrada até o final da ditadura militar, tivemos um movimento crescente de radicalização da violência contra negros. No ápice do processo de extermínio há o advento, com marca dos generais brancos, do esquadrão da morte, que reafirmava nas prisões e nas execuções o genocídio de negros. Numa intervenção conjunta vigora a parceria para esmagar a negrada e as forças populares organizadas, consolidada pelas forças armadas e polícias militares. O esquadrão da morte, em concordância com os comandos e comandantes racistas, foi demoniado de mão branca. Era a assinatura da branquitude e/ou do racismo. No dia 08 de janeiro de 2023, em Brasília, os corpos brancos, com a proteção do Partido Militar, destruíram física e simbolicamente os “três poderes”. Até quando a “mão branca” atuará impunemente?
As forças armadas estão a serviço da burguesia branca brasileira e do imperialismo estadunidense. A constatação dessa realidade tem a finalidade de destacar os agentes ou arquitetos centrais dos atos golpistas de 08/01/2023, em Brasília. A rigor, no que diz respeito às forças armadas, temos uma cúpula fascista e antinacional, que se arvora e se posiciona acima da constituição.
Em conformidade com a constituição, há poder executivo e legislativo; o poder passa necessariamente pelo voto popular. Os generais, contando com a histórica impunidade, deixaram as assinaturas; mãos brancas, com letras garrafais nos acampamentos e na proteção às células fascistas acolhidas pela logística e ideologia dos quartéis.
Golpes e mentiras, desde sempre, dão as diretrizes dos militares. Dentro desse diapasão, os acampamentos “pacíficos” eram células fascistas dirigidas pelos militares; alguns da reserva, e com a cumplicidade explícita dos comandos da ativa. Mesmo assim, setores da esquerda e democráticos passaram o pano, a exemplo do ministro da defesa, em nome da relativa “liberdade de expressão”. Erro grave! Numa área de segurança nacional, parece algo óbvio, o acampamento era uma extensão paramilitar das forças fascistas e golpistas. Tendo em conta a gravidade da conivência, o ministro da defesa deveria ser exonerado imediatamente.
Vale, a propósito, negritar que a tutela militar impede a existência do Brasil como país soberano. A soberania nacional se materializa pela defesa do território usado pelo povo, pela proteção dos brasileiros e, no conjunto, pela salvaguarda armada, contra os ataques de forças externas, dos interesses geopolíticos nacionais. Os generais brancos são, como base antipopular da tutela militar nucleada em sucessivas cadeias de golpe anteriores e, de modo especial, em e pós 1964, um obstáculo à vontade política popular e/ou da maioria. Por tal ordem e razão, os golpes desferidos pelas forças armadas, agentes mercenários do capital, da burguesia branca brasileira e imperialismo, avançam quando há ordem explícita dos militares dos EUA. Sem as condições internas e externas ideais, o projeto fez a opção tática de operar o desgaste do governo Lula. O Partido Militar deixou, desse modo, o subterrâneo e está exposto.
Os golpistas fardados estão em silêncio e na defensiva
As forças armadas, sem a absoluta unidade interna e da parelha burguesia branca brasileira e imperialismo, estão fragilizadas no momento. O governo Lula, com as mobilizações e acúmulo das ruas, precisa desfazer a tutela. Além da exoneração de todos os militares presentes nos diversos escalões do governo federal, é necessário o processo de identificação dos generais golpistas e o julgamento em conformidade com a constituição.
O bloco golpista empresarial
Outro bloco golpista, historicamente intocado, o dos empresários, deve responder pelos crimes cometidos. Os financiadores estão na ponta fascista bolsonarenta e são centrais também. A outra base responsável pela ação está situada nos EUA, que têm interesse, de acordo com a ordem do imperialismo, em desestabilizar o governo Lula e os BRICS. Lula, por sua vez, está entre os BRICS e os ataques híbridos dirigidos pelas agências estadunidenses.
O Brasil é país central, relevando a atuação de Lula, para o sucesso e ampliação dos BRICS; razão pela qual os EUA querem o Brasil na cólera e em ondas de sucessivas instabilidades. Dentro desse quadro de dominação, a política de desordem, planejada pelos agentes da CIA e suas sucursais militares e civis no Brasil, é a estratégia do império em crise na contramão dos BRICS ascendentes .
A propósito dos objetivos táticos e estratégicos dos golpistas
Os objetivos imediatos ou táticos do Partido Militar foram escancarados e alcançados . Em outras palavras, o objetivo, em cuja estratégia estaria confiada a GLO, Garantia da Ordem e da Lei, entregaria ao exército o comando do país. Fica evidente que o Partido Militar ou golpista contava com a anuência do GSI e ministro da defesa. Assim, podemos entender o evento não na configuração de golpe de Estado; mas sim de consecução de um ato realizado pela ralé bolsonarista para criar desordem e mostrar que a sociedade, sintetizada pelo executivo, legislativo e judiciário, estava cercada e indefesa. O movimento orquestrado em Brasília não foi para o golpe imediato, mas para viabilizar uma estratégia de desordem e, notadamente, de paralisia do governo recém instalado. Os objetivos são voltados para descreditar o governo Lula e criar instâncias de instabilidade socioespacial, sociopolítica e de insegurança no país.
As lideranças de tropas da PM e as tropas, o mesmo raciocínio se aplica aos bolsonaristas orgânicos presentes no ato, não são os atores centrais, eles não têm estofo e não são orientados diretamente pelas agências golpistas nacionais e estadunidenses; os generais lesa-pátria são. O ato golpista de 08/01/2023, precursor de futuro golpe de Estado contra o governo Lula, caso as mobilizações populares não entrem em ação imediatamente, exige a identificação e punição dos mandantes militares e empresários. É a primeira medida apenas, por cujo motivo Lula levantará a cabeça e governará.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab- Bahia