Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia da vitória
Para eleger Lula é preciso ocupar as ruas, os territórios usados pelos negros (as), pobres, classe trabalhadora e derrotar as células fascistas e racistas.
No primeiro turno de 2022, Lula derrotou Bolsonaro, candidato do governo instalado, de natureza e estrutura fascista-racista. A vitória do petista, embora parcial, não foi pouca coisa, a despeito das cadeiras conquistadas pela extrema direita no congresso, no Senado e nos estados centrais do ponto de vista do poder econômico e populacional . A vantagem de aproximadamente 6 milhões de votos não é algo, considerando o cenário brasileiro, a ser desprezado e sem importância no contexto eleitoral imediato e no político de longa duração. O resultado das urnas mostra a força notadamente de Lula, da base do PT e do campo negro-popular.
No Nordeste do país, na mesma pisada negro-popular, Lula tem uma base social extraordinária e que merece, a exemplo do conjunto da classe trabalhadora, especial atenção e políticas.
Para o campo negro-popular, em concordância com a exposição acima, a análise política só faz sentido quando é um instrumento para antecipar os passos políticos do imperialismo, da burguesia branca brasileira, dos seus setores, e, assim, orientar as posições de ataque e de defesa dos trabalhadores (as) e campo negro-popular. Sabemos que é correto, na análise política, destacar os movimentos táticos e estratégicos do PT, de Lula e de Bolsonaro e igualmente do bolsonarismo, que corresponde à extrema direita. Vamos, então, ao ponto nuclear do problema. Na conjuntura atual, o ponto central diz respeito às células fascistas e racistas.
Dentro desses limites, o sistema informacional é apenas uma parte do processo e projeto de atuação dessas células . As bases principais estão nos lugares, especialmente nas igrejas evangélicas.
As células fascistas-racistas devem ser combatidas nos territórios e/ou nos lugares; pois no território usado há o encruzilhamento das redes sociais, das tecnologias, com a corporeidade e socioespacialidade de negros (as) e pobres.
Processado o reconhecimento de que temos células dessa natureza instaladas no Brasil, a análise de conjuntura deve apresentar políticas e, antes, precisa indicar o alvo, o sentido e o significado de classe, conjunto indissociável e contraditório de classe, raça, gênero e território usado, para enfrentar e derrotar, no chão da sociedade brasileira, as bases e núcleos da extrema direita totalitária. As células fascistas-racistas estão organizadas em três bases distintas e convergentes. Há uma base explicitamente orgânica articulada em setores da burguesia branca brasileira; o que implica nas células viabilizadas e impulsionadas pelo velho da Havan e assemelhados da baixa burguesia nacional.
Na mesma frente de células de pensamento único, atuam as representações do sistema financeiro do topo da pirâmide, que são apêndices e/ou corpo e voz do imperialismo no processo. Além dessa base, que financia e materializa as células fascistas e racistas, proliferam instituições privadas, nos meios informacionais e de comunicação televisiva, entre outros, que asseguram o trânsito e o alcance social-midiático do pensamento único e totalitário de extrema direita no Brasil, com especial recepção e adesão da classe média branca e branqueada. Na mesma senda fascista-racista estão posicionados, como agências da hegemonia dessa ideologia no Estado brasileiro, setores do comando das forças armadas e, por igual natureza e hierarquia, o comando das polícias militares, civil, federal e o baixo escalão ou corporação dessas instituições.
A novidade no processo, capaz de promover a adesão dos pobres, negros (as) e trabalhadores (as) de modo contraditório, é a existência de células fascistas e racistas no domínio dos territórios e/ou das igrejas evangélicas. É uma novidade na disputa eleitoral a articulação dessas células no meio evangélico e no quadro de vida dos negros (as) e pobres; mas não o é na história. A propósito da história, os ataques ao sistema Umbanda e Candomblé, anteriores ao processo eleitoral de 2022, revelam nos morros e favelas, no que respeita à caracterização racista dessas células, a perseguição e destruição física de espaços religiosos dessas matrizes, que são heranças negro-africanas. Há, ainda nos morros, favelas e bairros populares, a atuação dessas células numa ação conjugada com as milícias, que segregam e perseguem os manifestantes e as manifestações do sistema Umbanda e Candomblé.
Na autoria e controle, os pastores e bispos venais, corruptos, empresários do dízimo e do controle do voto são os sistematizadores das células fascista-racista nas igrejas. De acordo com a correlação de força no processo eleitoral e político de 2022, a fascistada racista bolsonarenta precisa alcançar e manobrar, a partir do recorte religioso, os negros (as) e pobres. Avulta o papel do agrupamento religioso de extrema direita que tomou, em parte, conta de uma parcela considerável de evangélicos brasileiros.
O ponto central para desmontar a base popular e/ou negro -popular do fascismo, que resulta no maior risco e perigo para a possível e desejada vitória eleitoral de Lula, diz respeito às células dessa orientação instaladas no país e, especialmente, a capilaridade dessas políticas nas instituições evangélicas; o que assegura a penetração e captura do voto negro-popular e dos trabalhadores (as). Qual o caminho mais curto para chegar aos territórios e lugares, em parte ou parcialmente tomado por células fascistas-racistas? É fundamental ocupar os territórios usados pelos negros (as), pobres e manifestações culturais negras e populares. Numa síntese, é necessário convulsionar os lugares com a ação e pacto antirracismo e antifascismo. A ação deve ser orientada por investidas contínuas e de total desmonte, além da disputa eleitoral, dessas células. É ponto capital derrotar essas células, caras leitoras e leitores, derivadas-ativadas pela burguesia branca brasileira e imperialismo, como condição para eleger Lula presidente e derrotar a extrema direita no chão das igrejas e nos territórios populares.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab – Bahia