Por Marcos Jakoby (*)
O primeiro turno das eleições municipais, encerrado neste 6 de outubro, precisar ser analisado com o devido rigor político, à luz dos resultados concretos. Não adianta dourarmos a pílula imaginando que isso altera o resultado atual ou ajuda a construir um resultado futuro melhor. A melhor coisa que temos a fazer é extrair lições, por mais duras que possam parecer, para construirmos um caminho que altere a correlação de forças, sem prejuízo do engajamento amplo, geral e irrestrito para buscarmos vitórias onde disputamos o segundo turno.
No domingo, foram realizadas as eleições em 497 municípios gaúchos. Em cinco deles haverá o segundo turno: Pelotas, Caxias do Sul, Porto Alegre, Canoas e Santa Maria. O PT elegeu o prefeito ou a prefeita em 19 cidades, com destaque para Rio Grande e Bagé, e disputa o segundo turno em 3 cidades. PSB governará 8 municípios e o PDT 50 municípios. PV e PcdoB não conquistaram nenhuma prefeitura. Em 2020 o PT elegeu 23 prefeitos, e considerando que podemos chegar no máximo a 22, ocorreu uma redução numérica de prefeitos/as eleitos.
A direita e a extrema direita governarão a esmagadora maioria dos municípios, com destaque para o PP com 164 municípios e o PL que passou de 10 para 36 prefeituras conquistadas.
Nos números para vereadores, a situação também é difícil. O PT saiu de 400 vereadores eleitos em 2020 para 361 em 2024, também verificando-se uma redução. Já o PL saiu de 85 vereadores para 408 vereadores no estado em 2024.
Já em termos de votos para candidatos a prefeitos do PT, tivemos um aumento de 551 mil para 881 mil, em grande medida devido à candidatura própria do PT em Porto Alegre, quando em 2020 apoiamos o PCdoB.
O PP vai governar 21% da população gaúcha, MDB 13%, PSDB 11%, PL 10%, PDT 5%, PT 4%, Republicanos 3%, PSD 3%, UNIÃO 2%, PSB 0,6%.
Observando os gráficos que constam aqui, é possível reparar, tomando o número de prefeitos eleitos nesta e nas últimas eleições, o encolhimento da centro-esquerda (PT,PV,PCdob,PSB e PDT), a redução, estagnação ou pouco crescimento da direita tradicional (MDB, PTB, CIDADANIA, SOLIDARIEDADE, PSDB, DEM, PODEMOS e outros), com exceções do PP – que sabidamente é composto por setores da extrema-direita no estado – e do PSD e o crescimento significativo do PL e REPUBLICANOS, vinculados ao bolsonarismo.
Ademais, cabe destacar que foram eleitos 453 prefeitos homens e 39 mulheres, duas a mais que em 2020. Apenas dois prefeitos são negros e cinco pardos, o restante possui raça autodeclarada branca.
Os números acima dão indicativos de que tivemos em nosso estado uma vitória das direitas, especialmente da extrema-direita em termos proporcionais. A hegemonia da direita se manteve ou ampliou no estado e desliza para a extrema-direita. Possíveis vitórias em POA, Pelotas e Santa Maria podem alterar em certa medida esse quadro, mas olhando a situação de conjunto, e de momento, é forçoso reconhecer a situação que está colocada.
O curioso é que havia parlamentares do PT gaúcho que previam que o PT faria 600 vereadores e dobraria o número de prefeituras do PT. Quais as razões de um prognóstico tão distante da realidade?
Existem várias razões. Mas entre uma das principais, a meu ver, está aquela que raciocina que em 2020 estávamos em plena pandemia e sob o governo Bolsonaro; agora, em 2024, estamos em pleno governo Lula, ampliando e melhorando vários indicadores sociais e econômicos, com muitos investimentos sendo realizados e ainda mais o acompanhamento de perto do governo Lula da catástrofe de abril/maio e da respectiva reconstrução do estado. Logo, por que não haveríamos de dar um salto no número de prefeitos e vereadores?
O problema que essa equação não dá a devida atenção à luta política e ideológica; no fundo, mesmo que se diga outra coisa, há uma crença de que haverá um reconhecimento natural da população das melhorias e dos investimentos realizados, numa leitura economicista da luta de classes. Ou, no máximo, bastaria uma boa comunicação e propaganda de tais realizações. No entanto, a percepção da população sobre os governos não é resultado somente de uma somatória de suas obras e suas políticas e a comunicação das mesmas. É preciso muita política entre uma coisa e outra.
Nesse sentido, o PT e a esquerda gaúcha precisam retomar uma linha política que amplie a mobilização social, a organização partidária, a presença nos territórios e o trabalho de base, a disputa cultural e ideológica. E um dos eixos precisa ser construir uma oposição mais combativa ao governo Eduardo Leite.
Para citar um exemplo da situação descrita acima, a catástrofe das enchentes: embora todo o imenso investimento do governo Lula, embora as várias vezes que o presidente Lula esteve presente em nosso estado, embora o ministério da reconstrução e as ações articuladas, embora a pífia atuação do governo do estado, qual foi a principal mobilização social ocorrida de conjunto durante os últimos meses?
O tratoraço e a mobilização do agronegócio gaúcho, capitaneado pela extrema-direita, em Porto Alegre, no dia 08 de agosto, exigindo mais recursos do governo federal e atacando o governo Lula. E quem estava lá? O governador Eduardo Leite fazendo coro aos ataques como se não tivesse responsabilidade nenhuma sobre a reconstrução do estado, enquanto a esquerda gaúcha não conseguiu realizar uma mobilização de conjunto para cobrar o governo do estado e dar respaldo às ações do governo Lula. Por outro lado, o governo federal também não entendeu que o significado da reconstrução estava em disputa e a prova disso foi a formação de um fundo de reconstrução de 6,5 bilhões para consnstrução de diques, sistemas de proteção e outros estudos onde um conselho composto majoritariamente pelo governo do estado que na prática irá gerir.
Ou seja, precisamos ter outra postura frente ao governo gaúcho e compreender que ele está objetivamente abrindo caminho à extrema-direita. No entanto, assistimos à aproximação de setores do PT gaúcho ao PSDB nestas eleições. O caso mais emblemático foi o de Taquari, onde contrariando resolução do diretório do PT, e com anuência de parte da direção estadual, fomos vice do PSDB, ou em cidades onde nosso candidato a prefeito ostentou foto com o governador.
Isso sem mencionar cidades onde aconteceu intervenção do GTE para impedir a candidatura própria do PT, a falta de apoio a muitas candidaturas, o apoio a outros candidatos ao invés do apoio às nossas candidaturas em certas cidades. Também é grave o que acontece com os pequenos municípios, cada vez mais cercados pela direita, e que não tem amparo e retaguarda da direção estadual, que se reuniu somente uma vez desde maio para tratar basicamente de uma intervenção. Todos esses problemas se somam aos problemas e às insuficiências do governo Lula e as do PT nacionalmente. Destaca-se, aqui, dois fatores combinados, se quisermos alterarmos as placas tectónicas da correlação de forças: a necessidade de maiores e mais rápidas mudanças; uma ampliação substancial na luta social, cultural, política e ideológica. E isso vale também para o Rio Grande do Sul.
Os resultados do segundo turno podem nos dar vitórias importantes e é fundamental trabalharmos para conquistá-las, de hoje até o dia 27 de outubro. No entanto, isso não apaga os problemas que temos, e é importante fazermos um esforço de conjunto para corrigirmos a rota do PT gaúcho para não termos novas surpresas. Como dizia o famoso revolucionário italiano, pessimismo da razão, otimismo da vontade.
(*) Marcos Jakoby é professor e militante do PT
PS: PSDB e Eduardo Leite declaram apoio ao bolsonarista Sebastião Mello em Porto Alegre no segundo turno
Uma resposta
PT nao cumpre o que promete!! Em Campo Novo, concorreu como Majoritaria, contra Atual Prefeito, contra um grupo organizado, contra maquina. Empresarios, granjeiros!! Nao recebemos nada de Ajuda Fundo Eleitoral Prometido!! Quase chegamos la!! Faltou recurso, ultimos dias!! Uma Vergonha, sem ajuda do PT e do PP. Daqui a dois anos vao vir pedir vitos, vao ter o troco!;