Saiu o Página 13 n° 208, fevereiro 2020

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Editorial

Lutar, até vencer!

O Brasil é marcado pela dependência externa, pela desigualdade social e por uma democracia oligárquica. Desde a chegada dos portugueses, até 1888- 1889, vivemos sob um regime político simultaneamente monárquico e escravocrata. Entre 1889-1930, tivemos uma república de senhores de terra. De 1930 a 1945, experimentamos diferentes tipos de ditadura. Entre 1945 e 1964, foi a vez de uma “democracia” liberal com fortes restrições às liberdades básicas de organização sindical, partidária e de livre manifestação eleitoral. De 1964 a 1985, enfrentamos uma ditadura militar que atacou duramente as organizações da classe trabalhadora e da esquerda brasileira.

Em meados dos anos 1970, os diferentes partidos da esquerda brasileira estavam fora-da-lei; parte de seus dirigentes fora morta, presa ou empurrada para o exílio. Foi neste mesmo período que amplas camadas do povo começaram a se movimentar contra a ditadura militar, através do voto no MDB (partido de oposição tolerado pela Ditadura) e principalmente através de intensas lutas sociais, que rapidamente assumiam uma dimensão política e anti-ditatorial.

Na vanguarda destas lutas esteve a classe trabalhadora, que protagonizou greves memoráveis das mais diversas categorias, com destaque para os metalúrgicos do ABC paulista. Foi exatamente num congresso sindical de metalúrgicos, realizado no ano de 1979, que aprovou-se a necessidade de criar um partido.

Esta proposta dividiu a esquerda. Alguns partidos e organizações se consideravam a “vanguarda do proletariado” e não queriam o surgimento de um concorrente. Outros consideravam que a tarefa da hora era derrotar a ditadura militar, para o que se fazia necessária uma ampla frente democrática abrigada no guarda-chuva do MDB.
Vencendo estas e outras resistências, o Partido dos Trabalhadores foi fundado no dia 10 de fevereiro de 1980.

Desde então e até hoje, sua história atravessou quatro grandes momentos: a luta contra a ditadura militar e a transição conservadora; a oposição ao neoliberalismo (1990-2002); o governo do Brasil (2003-2014); a luta contra o golpismo e a extrema direita (2015-….).

Em cada um destes momentos, o PT adotou diferentes programas, estratégias, táticas, formas de luta e modelos organizativos. A partir de 1995, grande parte dos esforços do Partido convergiu para o objetivo de conquistar o governo federal, com o objetivo de implementar políticas públicas que ampliassem o bem estar social, as liberdades democráticas, a soberania nacional e a integração regional.

O objetivo de conquistar o governo federal foi alcançado em 2002 e reafirmado nas eleições de 2006, com Lula; e nas eleições de 2010 e 2014, com Dilma Rousseff.

Até hoje há polêmicas, dentro e fora do Partido dos Trabalhadores, acerca dos êxitos e das debilidades dos governos Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2016).

Polêmicas à parte, o fato é que depois do segundo turno das eleições presidenciais de 2014, parcelas crescentes da classe dominante brasileira e de seus representantes políticos passaram a considerar inaceitável a presença do PT na presidência da República. Coerente com isso, promoveram o golpe parlamentar-midiático de 2016; estimularam e apoiaram a condenação, prisão e interdição da candidatura de Lula; e sustentaram a fraudulenta eleição de Jair Bolsonaro, no final de 2018.

A relativa facilidade com que foi promovido o tríplice golpe, entre 2016 e 2018, demonstra que, apesar de ter conseguido chegar ao governo, em nenhum momento o Partido dos Trabalhadores conquistou o poder.

Outra prova disto é que, entre 2003 e 2016, o empresariado capitalista e seus aliados seguiram controlando os meios de comunicação, as forças armadas, o sistema judiciário, a burocracia estatal, a maior parte dos prefeitos e vereadores, governadores e deputados estaduais, senadores e deputados federais. Sem falar no controle das grandes empresas, inclusive as públicas.

Controlavam, inclusive, cabeças e corações de um setor da esquerda e do próprio PT, que confiaram no compromisso republicano e democrático da classe dominante brasileira. E que por isso, além de não se preparar para enfrentar o golpe, ainda contribuíram para o fortalecimento das instituições que o executaram.

O PT conseguirá dar a volta por cima? Sobreviverá a operação de cerco e aniquilamento? Derrotará o golpismo? Adotará uma nova estratégia, visando conquistar o poder e tendo como objetivo programático combinar políticas públicas, reformas estruturais e construção do socialismo? Ou se acomodará com objetivos de tipo socialdemocrata e com uma estratégia eleitoral, que no limite depende da maior ou menor tolerância da classe dominante?

A resposta a estas perguntas depende da luta ideológica, social e política que está em curso, neste momento, no Brasil. Assim como da dinâmica mundial, marcada por um capitalismo em crise e por grandes conflitos geopolíticos.

Seja qual for a resposta, o PT chega aos 40 anos de vida podendo dizer que “nunca antes na história do Brasil” uma organização partidária baseada na classe trabalhadora foi tão influente. Ao longo deste período, vencemos quatro eleições presidenciais; elegemos e em alguns casos reelegemos governadores e governadoras de vários estados brasileiros (Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe), prefeitos e prefeitas em mais de mil cidades brasileiras, além de milhares de parlamentares municipais, estaduais e federais.

O PT possui cerca de 2 milhões e 350 mil filiados (dados de agosto de 2019), dos quais aproximadamente 300 mil desenvolvem algum nível de militância em todas as regiões do país, com forte presença na classe trabalhadora, na cidade e no campo, na arte e na cultura, na juventude, entre as mulheres e LGBT, negros e negras, indígenas e quilombolas.

Claro que em nenhum dos momentos de sua história o Partido dos Trabalhadores foi único, nem foi unanimidade na esquerda brasileira. Sempre houve quem o criticasse, seja por excesso de radicalismo, seja por excesso de moderação. Mas a paradoxal e as vezes irônica verdade é que o conjunto da esquerda brasileira, inclusive aquela que diverge do PT, tem seus movimentos influenciados pela força gravitacional do partido da estrela.

Claro, também, que o PT dista muito de ser monolítico. No interior do Partido dos Trabalhadores, desde 1980 até hoje, convivem diferentes posições. Basta dizer que 9 teses foram apresentadas para debate no 7º Congresso Nacional do PT (novembro de 2019).

Destas 9 teses, seis adotaram como sobrenome a expressão “Lula Livre”. Preso político desde abril de 2018 até novembro de 2019, desde então solto, mas ainda não livre, Lula é a principal liderança do Partido dos Trabalhadores. Sua prisão e a luta por sua liberdade condensam os dilemas da época que vivemos. Mesmo os que dele divergiram ou divergem, destacam a altivez com que Lula enfrentou o cárcere. Altivez que pode ser resumida no conselho que deu ao povo brasileiro: lutar, lutar e lutar.

É o que pensa a militância da tendência petista Articulação de Esquerda: lutar, não importa quanto tempo dure, até vencer.

Viva o Partido dos Trabalhadores! Viva a classe trabalhadora brasileira! Viva a revolução e o socialismo! Venceremos! 

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