Se o arcabouço fizer água, o governo afunda?

Por Valter Pomar (*)

O PT tem uma direção nacional.

Esta direção tem, salvo engano, 94 integrantes.

Estes integrantes foram eleitos por diferentes chapas.

Uma destas chapas elegeu a maioria relativa dos 94.

Alguns dos integrantes desta chapa-maioria-relativa são bastante ativos no debate de ideias.

Dentre os mais ativos, dois são do Rio de Janeiro.

Um deles (chamemos de Carioca 2) escreveu, recentemente, que “o Congresso Nacional é composto em sua maioria por extremistas de direita e por fi$iológico$ à $erviço de seus próprios interesses”.

Ele afirmou, também, que este “Congresso só concordou em substituir o verdadeiro garrote do teto de gastos se o governo apresentasse uma nova proposta de política fiscal. Daí nasceu o Arcabouço (…)”.

Notem que, segundo esta descrição, descrição que não é minha, o Arcabouço resulta de uma mediação entre o governo e o Congresso.

Mediação onde quem teve a palavra final (“só concordou em substituir”) foi o Congresso majoritariamente de extrema direita e fisiológico.

Até aí eu consigo entender e (quase) concordar.

Quase, entre outras coisas porque faltou dizer que o Congresso é, também, majoritariamente neoliberal.

Sigamos.

O que eu não consigo entender é o seguinte: se esta foi a origem do “Arcabouço”, então deveríamos ter uma postura crítica sobre ele, certo?

Afinal, o tal “Arcabouço” expressa uma mediação, não o nosso ponto de vista.

E, se é assim, não basta dizer – como diz o Carioca 2 – que temos o dever de “defender a política econômica do governo”.

Seria preciso, também, reconhecer que ao menos parte desta política não expressa o nosso ponto de vista, mas sim o ponto de vista que nos foi imposto pela maioria do Congresso Nacional.

Logo, não faz sentido concluir o que afirma o Carioca 2, a saber, que “se o Arcabouço fazer (sic) água, o governo afunda!”

Sentido faria dizer algo mais ou menos assim: precisamos criar as condições para superar os limites do Arcabouço, pois senão o governo não decola.

Claro, dizer isto implica em deixar de lado o pensamento-chapa-branca.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *