O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras tem a missão histórica de liderar o povo brasileiro na luta pelo bem-estar social, pelas liberdades democráticas, pela soberania nacional, pela integração regional, pelo meioambiente, pelo desenvolvimento e pelo socialismo.
Para dar conta destas tarefas, é necessário que nosso Partido, mas também os partidos democrático-populares, os movimentos sociais, os sindicatos, as centrais e as frentes, assim como o conjunto da militância de esquerda,superemos nossas limitações, dificuldades e erros.
Há três questões especialmente urgentes: a nossa presença cotidiana e militante junto à classe trabalhadora; a ampliação dos investimentos no bem-estar social e na industrialização; e a reafirmação da natureza socialista do Partido. Sem dar conta dessas questões, não conseguiremos enfrentar e derrotar nem a extrema-direita,nem a direita tradicional.
É preciso resolver com urgência estas e outras questões. Afinal, o que está acontecendo no Brasil não é uma luta eleitoral entre “neofascistas versus progressistas”. O que está acontecendo é uma guerra que vai decidir o lugar do nosso país no mundo e o destino da nossa sociedade pelas próximas décadas.
No mundo inteiro, estamos em meio a uma crise sistêmica, um ambiente marcado por catástrofe climática, pandemias, ultraliberalismo, neocolonialismo, imperialismo, guerras e genocídio, ameaças nucleares, neofascismo, fundamentalismos, racismo, machismo, lgbtfobia, preconceitos e violências de todo tipo e sabor, sem falar da ameaça existencial que a inteligência artificial e a robotização lançam sobre toda a classe trabalhadora.
A direita e a extrema-direita reagem e, ao mesmo tempo,aprofundam esta crise à medida que ampliam a destruição do meio ambiente, a dominação dos povos e a exploração das classes trabalhadoras.
No Brasil, isso é o que vem ocorrendo desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, seguido da condenação, prisão e interdição eleitoral contra o presidente Lula, da eleição do cavernícola e do golpe continuado promovido pela ditadura do capital financeiro e do agronegócio contra a nação brasileira.
O crime inicial foi articulado principalmente pelo MDB e pelo PSDB, com o apoio do STF, do oligopólio da mídia, do grande capital, da cúpula das Forças Armadas, das empresas da fé e do governo dos Estados Unidos. Naquela época, em 2016, a extrema-direita neofascista era uma força muito pequena.
Foi a direita neoliberal tradicional que criou as condições para o crescimento da extrema-direita. Aliás, no segundo turno de 2018, a maior parte da direita tradicional apoiou a extrema-direita, assim como, por muito tempo, ajudou na governabilidade do governo cavernícola.
Portanto, foi graças à direita tradicional que a extrema-direita neofascista cresceu de forma significativa, não só eleitoralmente, mas também socialmente, construindo o que hoje é: uma força política com grande base de massas.
Ao crescer, a extrema-direita foi influenciando, “engolindo” e ameaçando a sobrevivência da chamada “direita tradicional”. O PSDB, outrora o principal partido da direita brasileira, hoje é um morto-vivo. E o Supremo Tribunal Federal, apesar de ser uma fortaleza do neoliberalismo, é alvo de pesados ataques por parte da extrema-direita.
Esta situação provoca, em alguns setores da esquerda, uma avaliação equivocada acerca da relação entre as duas direitas e, como resultado, a defesa de uma política de alianças igualmente equivocada.
A grande ameaça à democracia brasileira é a tríplice aliança entre agronegócio, capital financeiro e imperialismo. Esta tríplice aliança se expressa politicamente em todos os partidos da direita. Embora haja conflitos entre as duas direitas, ambas, tanto a tradicional quanto a neofascista, defendem, no fundamental, o mesmo programa econômico, marcado pelas privatizações, desmontes dos serviços públicos, retirada de direitos sociais e trabalhistas e, principalmente, favorecimento ao imperialismo, ao capital financeiro, ao agronegócio, às mineradoras que sustentam o modelo primário-exportador extrativista e predatório.
Portanto, alianças eventuais e pontuais com setores da direita só podem ser feitas quando não coloquem em questão a implementação de nosso programa. Não podemos separar a defesa da democracia da defesa do bem-estar social, da defesa da soberania nacional, da defesa de um novo modelo de desenvolvimento, baseado na industrialização e na superação da condição primário-exportadora.
O Partido dos Trabalhadores não é, portanto, mais um desses partidos que se autointitulam “progressistas”, que supostamente em nome da “democracia” fazem alianças com a direita neoliberal, exatamente aquela que, em cumplicidade criminosa com a extrema-direita, está há tempos destruindo as condições de vida do povo e, assim, sabotando as condições básicas para que exista uma verdadeira democracia em nosso país.
Por isso, o PT não incorre no erro dos que – supostamente com o objetivo de derrotar o neofascismo – tentam transformar a esquerda em defensora do sistema, em defensora do modelo primário-exportador, em um partido que relativiza o papel do agronegócio e do capital financeiro na sustentação da extrema-direita, em um partido que tem medo da polarização, em um partido que não fala mais de reformas estruturais e de socialismo.
A grande influência destas posições equivocadas em nosso governo federal explica por quais motivos seguimos fortemente constrangidos pelos neoliberais e ameaçados pelo neofascistas. É preciso recuperar as ideias que nortearam a campanha presidencial de 2022: reconstrução e transformação. Para isso, precisamos, além de mudanças na conduta política do governo, uma ampliação radical nos investimentos públicos, tanto no bem-estar social quanto na industrialização. Para isso, precisamos mudar a política econômica, alterando a meta de inflação, reduzindo os juros e deixando de lado a meta do déficit zero.
Se não fizermos este giro à esquerda, se não alterarmos a política econômica, causaremos danos imediatos à vida do povo, será maior o risco de um revés nas eleições de 2026e podemos nos converter num daqueles partidos que só têm “um grande passado pela frente”.
Muita gente na esquerda brasileira reconhece que estamos correndo este risco. Mas também existem pessoas que, apesar de perceberem o risco que estamos correndo, desistiram de fazer algo diferente, entre outros motivos porque não acreditam que seja possível fazer algo muito diferente do que já vem sendo feito. Essas pessoas colocam a culpa na correlação de forças, se comportandocomo se esta correlação fosse algo imutável, impossível de ser transformada.
O Partido dos Trabalhadores não concorda com esta postura passiva, imobilista, fatalista. É um fato que a direita e a extrema-direita ocuparam muito espaço junto ao povo, nas instituições, assim como na disputa de ideias, de projetos e de concepção de mundo. Mas também é um fato que isso pode ser alterado se o Partido dos Trabalhadores, o conjunto da esquerda e inclusive nossos governos e bancadas aumentarem a mobilização, a disputa política e ideológica.
O PT é um influente partido de massas. Nossa ação impacta o curso dos acontecimentos no Brasil e no mundo. Por isso, aliás, é tão importante fazer das Eleições Diretas do PT de 2025 um processo de grande debate político e intensa mobilização, que mude os rumos do Partido, ajude a mudar os rumos do governo, contribuindo para mudar os rumos do Brasil.
O desafio do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras é muito maior do que disputar eleições e exercer mandatos institucionais. Nosso desafio é transformar o mundo, melhorar a vida do povo e construir o socialismo. E para isso não basta eleger e governar. É preciso organizar a classe trabalhadora em todos os territórios onde ela mora, trabalha, estuda e se diverte. E para isso é necessário que o Partido esteja presente nos territórios.
Embora a militância petista esteja lá, presente no dia a diado povo, o Partido enquanto tal não está atuando de forma permanente e organizada nos territórios, nas empresas, nas escolas, nos locais de moradia, nos espaços de cultura e lazer, nos quilombos, ocupações, assentamentos e nas iniciativas da economia solidária. Sem isso, é cada vez mais difícil ganhar eleições. Até porque as regras do jogo eleitoral favorecem as candidaturas da direita e da extrema-direita.
Mas, como já dissemos, não se trata apenas de eleições. O mais importante é que, sem presença organizada nos territórios, perderemos nossa razão mesma de existir, que é a de participar de forma permanente da luta da classe trabalhadora brasileira, não apenas dos processos eleitorais.
Para estar presente na luta cotidiana da classe trabalhadora, é preciso um partido organizado e militante. Mas, para que exista militância, é preciso motivação ideológica. Só a motivação ideológica faz com que as pessoas dediquem grande parte de sua vida à luta. Também por isso é decisivo vincular as lutas imediatas com nossos objetivos estratégicos e históricos.
Cabe ao nosso Partido defender com toda a força as transformações estruturais pelas quais lutamos, entre as quais uma ampliação radical das liberdades democráticas e do bem-estar social, combinados com a defesa da soberania nacional, da integração regional, do meioambiente, da industrialização, de um desenvolvimento de novo tipo e do socialismo.
Estas transformações estruturais estão indissoluvelmente ligadas à conquista do poder pela classe trabalhadora. Não confundimos governo com poder. E não queremos o poder para o Partido, queremos o poder para a classe trabalhadora. Sem a conquista do poder pela classe trabalhadora, não haverá construção do socialismo.
As transformações históricas pelas quais lutamos serãorealidade se a classe trabalhadora brasileira se movimentarde forma intensa, profunda, de massas, em favor de mudanças radicais na ordem em que vivemos. Uma mobilização deste tipo só terá êxito se dispuser do estímulo e do suporte de uma rede de organizações políticas e sociais verdadeiramente enraizadas no cotidiano da classe trabalhadora. Noutras palavras: precisamos de uma esquerda de massas e de um partido de massas. Um partido militante em luta pelo socialismo. Neste sentido, o Partido dos Trabalhadores é insubstituível. Mas o Partido realmente existente tem muitas debilidades que precisam ser enfrentadas e superadas por nós.
Reorganizar o Partido
Para fortalecer nossa presença nos territórios, organizar diretórios, estimular a organização das lutas sociais, é preciso colocar o Partido no comando. O PT não pode continuar dependente, subordinado e tutelado por governos e por mandatos parlamentares, especialmente de deputados estaduais e federais, que muitas vezes subordinam a estratégia do Partido a seus interesses eleitorais particulares.
O PT deve voltar a ter direção coletiva. Há dirigentes que se comportam como donos do Partido. Mas ninguém é dono do PT. Ninguém é maior do que o PT. Ninguém pode tomar decisões individuais que atropelam a democracia e os estatutos partidários. O PT precisa dirigir os governos e mandatos parlamentares que conquistamos. Sem o PT, não haveria mandatos parlamentares, não haveria prefeituras, não haveria governos estaduais nem governo federal dirigidos por petistas. Entretanto, na maioria dos casos, o PT não tem influência nos mandatos executivos e legislativos que conquista. O Partido é chamado a apoiar, mas nem sempre é chamado a participar e quase nunca é chamado a dirigir. Precisamos mudar radicalmente esta postura subalterna e submissa que tem causado enormes danos ao Partido, inclusive do ponto de vista eleitoral.
O PT deve voltar a ser um partido que faz política o tempo todo, não apenas em anos pares, não apenas em épocas eleitorais, não apenas pelos meios institucionais. Nós petistas estamos por toda parte: estamos presentes nos bairros, estamos nos locais de trabalho, estamos nas escolas, estamos nos espaços e momentos de cultura e lazer, estamos nos sindicatos e nos movimentos sociais. Mas nem sempre a direção do Partido está onde os petistas estão. Muitas vezes, a direção não existe, não funciona, está dominada por interesses estritamente eleitorais.
Nossa direção precisa ser ocupada por militantes dispostos a reafirmar o PT como o partido da luta, da mobilização eda organização cotidiana do povo. Afinal, criamos o PT para lutar pelos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. Um partido anticapitalista, socialista, defensor da mais profunda democracia. Não haverá democracia verdadeira em nosso país enquanto a classe dominante e seus representantes políticos — a extrema-direita neofascista e a direita tradicional — mantiverem sob sua direção a maior parte do sistema judiciário, dos parlamentos, dos governos, dos meios de comunicação e das empresas. É missão do PT combater o racismo, o machismo, a misoginia, a lgbtfobia e todas as formas de discriminação e preconceito, combate que é parte integrante e inseparável da luta para libertar a classe trabalhadora das influências que recebe da classe dominante e exploradora.
Nosso Partido dos Trabalhadores tem que concentrar grandes energias no trabalho de reconexão com a classe trabalhadora, organizando e conscientizando melhor os que seguem conosco, buscando os setores que se distanciaram de nós e, também, os que nunca estiveram conosco, os que estão sob influência do desalento, da direita tradicional e da extrema-direita. Mas, para fazer tudo isso, o PT precisa de pelo menos duas coisas: disposição de enfrentar, polarizar e derrotar nossos inimigos; e disposição de reorganizar profundamente nosso próprio partido.
Portanto, estamos diante do desafio de fazer uma revolução organizativa no Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras. Isto significa, entre outras coisas:
a) a ampliação da democracia no interior do Partido, reforçando a soberania e a vida orgânica das instâncias em relação aos mandatos parlamentares que hoje constituem um centro de poder paralelo que hegemoniza a vida partidária;
b) alteração profunda nos métodos de comunicação partidária, criando condições para uma comunicação de massas feita por militantes, para militantes e para o conjunto da classe trabalhadora, desde a produção e distribuição cotidiana de material impresso até a comunicação digital em suas diversas formas;
c) retomada da contribuição e financiamento militantes ao partido, incluindo, além da contribuição anual, a organização de atividades como almoços, produção de materiais para venda, bingos, rifas etc., que possam, ao mesmo tempo, contribuir para as finanças e conscientizar sobre o fato de que um Partido de Trabalhadores deve ser mantido pelos próprios trabalhadores;
d) ampliação das atividades de formação política, com destaque para a formação político-ideológica da militância, que deve incluir caravanas nacionais em que dirigentes partidários visitem e dialoguem com a militância em cada município do país;
e) estímulo e viabilização da participação das mulheres nos debates, formações, atividades e ações partidárias, inclusive suporte efetivo para a candidatura de mulheres;
f) ampliar a inclusão da juventude nas instâncias deliberativas e representativas, com uma campanha de filiação de jovens, especialmente da juventude trabalhadora ao Partido, lembrando que o principal atrativo para o PT ter mais jovens militando é que ele seja um partido socialista e de luta;
g) ampliar a participação de negros e negras na militância partidária, dando suporte efetivo para as candidaturas e dando à luta contra o racismo e pela reparação histórica, econômica e social um papel central na ação partidária.
h) engajamento do Partido na batalha de ideias, na luta cultural de massas, indispensável para construir uma consciência de classe socialista, popular, democrático-radical e revolucionária na classe trabalhadora;
i) compromisso de que a política eleitoral nos municípios e nos estados não será imposta de fora para dentro e de cima para baixo. O PT deve informar ao PV e ao PCdoB que defende a dissolução da Federação Brasil da Esperança.
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Para concluir, relacionamos algumas tarefas que devem ser implementadas desde já e, também, no imediato pós-PED:
*exigir mudança imediata na meta de inflação, na política de juros e no “Marco Fiscal”;
*defender a valorização do salário mínimo e das aposentadorias, assim como preservar os pisos constitucionais de saúde e educação;
*retomar a campanha pela revogação das contrarreformas sindical, trabalhista e previdenciária;
*derrotar as tentativas que neofascistas e neoliberais fazem para destruir as nossas políticas sociais, militarizar a segurança pública, devastar o meio-ambiente, privatizar o Sistema Único de Saúde e a educação pública;
*lutar pela transformação profunda das condições de vida nas cidades brasileiras, com ênfase na reforma urbana, na habitação, saneamento, transporte público e gratuito;
*ampliar o controle público sobre a Petrobras e sobre a geração e distribuição de energia elétrica;
*reforçar as medidas em favor soberania nacional, com destaque para a reforma agrária e para a industrialização;
*trabalhar para que o Brasil tenha “redes sociais” de propriedade pública e nacional, assim como tomando medidas para cumprir a Constituição e quebrar o oligopólio da mídia;
*converter a Cultura num dos pilares da ação do Partido, do conjunto das forças democráticas e populares, bem como de nossos governos;
*vigiar para que os golpistas sejam todos julgados, condenados e presos, com todo rigor da lei. Sem anistia para golpistas;
*defender uma reforma estrutural das Forças Armadas, para que nos marcos da democracia elas sejam capazes de defender a soberania nacional contra os que desejam transformar o Brasil em “quintal” de potências estrangeiras, a começar pelos EUA;
*retomar a política de integração regional da América Latina e Caribe, por exemplo ajudando Cuba e Venezuela na luta contra o bloqueio;
*participar do Plebiscito Popular que coloca em debate a tributação justa, a redução da jornada de trabalho sem redução salarial e o fim da escala 6 por 1;
*engajar o Partido na mobilização de rua e na pressão legislativa pelo fim da escala 6 por 1;
*mobilizar o Partido na campanha em defesa da Palestina Livre, contra o genocídio praticado pelo Estado de Israel e pela ruptura das relações diplomáticas entre o Brasil e Israel;
*articular desde já a campanha nacional pela reeleição de Lula em 2026, tendo como diretriz fundamental que nossa vitória depende de nossa aliança com a população pobre, trabalhadora, periférica, jovem, das mulheres, negros e negras. O que passa por termos candidaturas de esquerda para disputarmos as eleições majoritárias e proporcionais em todos os estados do país;
*constituir uma comissão de teses, representativa de todos os setores do Partido, para elaborar um projeto de resolução para ser submetido ao próximo encontro nacional, aos moldes do que foi feito na preparação do 6º Congresso do PT.
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A energia do PT está na militância que defende nossas cores, nossa bandeira, nossas propostas e nossa estrela. Essa energia permitirá reconstruir nossa atuação militante junto ao cotidiano da classe trabalhadora. É desta atuação militante cotidiana que dependeu, depende e continuará dependendo a vitalidade e o futuro do nosso Partido. É em grande medida da atuação correta de nosso Partido que depende, na atual quadra histórica, a vitória da classe trabalhadora brasileira. Por tudo isso e muito mais, seguiremos dedicando o melhor de nossos esforços para que o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras continue sendo a principal referência e instrumento de luta da classe trabalhadora brasileira.
Em tempos de guerra, a esperança é vermelha!
Viva o PT, viva a classe trabalhadora brasileira, viva o socialismo!