Por Gleisi Hoffmann*
A II Conferência Nacional da Frente Brasil Popular se reúne numa conjuntura em que é fundamental a unidade das forças populares e de esquerda no país. Temos pela frente as gigantescas tarefas de resistir à retirada de direitos por parte do governo golpista e seus aliados, defender a soberania nacional contra os entreguistas e reconstruir o processo democrático, por meio de eleições livres e democráticas, com participação de todas as forças políticas.
Apesar das duras derrotas que o campo popular sofreu no Congresso Nacional e da caçada judicial aos nossos partidos, movimentos e lideranças, especialmente contra o ex-presidente Lula, 2017 foi um ano em que conseguimos retomar a inciativa política, articulando ações conjuntas e grandes mobilizações. E a Frente Brasil Popular teve papel central neste processo.
O êxito das caravanas de Lula pelo Brasil é o símbolo mais claro desse novo movimento. Por onde passou, nos Estados do Nordeste e em Minas Gerais, Lula foi recebido por multidões entusiasmadas. Nos olhos das pessoas se percebia a esperança de que o Brasil volte a ser um país governado para a maioria da população, com desenvolvimento, emprego e justiça social.
As caravanas revelaram-se um fato político extraordinário, diante do massacre midiático que tenta varrer do cenário a alternativa popular, democrática e soberana que a candidatura Lula representa. Mostraram que estamos vivos, na luta e dispostos a enfrentar o golpe, sua continuidade e suas consequências nefastas para o país.
Desde então, alarmados também com as pesquisas que confirmam a liderança de Lula e projetam sua vitória em primeiro turno, a pauta dos golpistas e sua imprensa gira em torno da construção de um candidato capaz de enfrentá-lo nas urnas. Nesse esforço, expõem as divisões e contradições internas do golpismo, e a principal delas é que eles não têm um programa para superar a crise econômica, social e política em que mergulharam o país.
A Frente Brasil Popular participou ativamente das caravanas, num grande trabalho de mobilização. Da mesma forma, vem fortalecendo a luta contra a reforma da previdência e a retirada de direitos dos trabalhadores, pela soberania nacional contra a entrega do Brasil a interesses estrangeiros, pela retomada da democracia. São bandeiras que unem amplos setores da sociedade na luta contra a continuidade do golpe.
Em 2017 avançamos também na reconstituição do campo político de centro-esquerda, que vinha se esgarçando desde o processo eleitoral de 2014. PT, PSB, PDT e PCdoB formaram uma frente em defesa da Democracia e iniciaram os debates sobre a construção de um programa comum para o país. Em 28 de setembro, dirigentes das fundações dos quatro partidos realizaram um primeiro seminário sobre o tema em Brasília.
A esta iniciativa deve se somar o PSOL, que recentemente assinou, junto com o PT e o PDT, as representações que apresentamos à PGR, ao Cade e ao antigo Ministério das Comunicações, para que sejam investigadas no Brasil as denúncias de pagamento de propina pela Rede Globo no escândalo internacional da Fifa. A unidade de ação dos nossos partidos também assusta o campo golpista.
Consolidar e ampliar a unidade dos partidos e movimentos é o nosso desafio para 2018, pois não podemos ter ilusões diante dos adversários. Eles vão lançar mão de todas as armas para impedir que o povo brasileiro escolha livremente um governo popular, com legitimidade para revogar, por meio de plebiscito, as medidas tomadas para assaltar os direitos do povo e as riquezas da nação.
O arsenal dos golpistas é amplo: eles têm a mídia para defender o programa entreguista neoliberal e atacar nossas lideranças; têm um sistema judicial com setores partidarizados para criminalizar nossos partidos e candidatos; têm maioria congressual capaz de aprovar violentos casuísmos, como a adoção do parlamentarismo; e têm o poder econômico que patrocinou o golpe, a retirada de direitos e a venda do patrimônio nacional.
Está corretíssima, portanto, a bandeira da “Unidade e luta por Democracia, direitos e Soberania” que a Frente Brasil Popular levanta nesta II Conferência Nacional, porque é imensa a responsabilidade que temos com o país e com o povo brasileiro
* Gleisi Hoffmann é presidenta nacional do PT
Fonte: Página 13 n. 174, dez. 2017