Por Valter Pomar (*)
O Poder360 divulgou, no dia 20 de agosto, novas declarações de Boulos sobre a situação na Venezuela.
A fonte está aqui:
Não é a primeira declaração de Boulos sobre a Venezuela.
Há declarações antigas e há, também, pelo menos uma outra declaração recente, além da supracitada.
Segundo Boulos, haveria “indícios fortes de fraude na eleição da Venezuela”.
Não sei o que Boulos efetivamente sabe, nem o que realmente pensa a respeito.
Até porque no último período ele mudou de opinião sobre diversos assuntos importantes, numa velocidade difícil de acompanhar.
A respeito de algumas de suas antigas posições, ler aqui: Valter Pomar: Comentários sobre a entrevista de Boulos ao Valor
Ademais, ao falar na condição de candidato, Boulos é obrigado a fazer mil e uma mediações.
Por tudo isso, melhor deixar para outro momento o debate de mérito sobre os tais “indícios fortes”.
Entretanto, exatamente por estar falando como candidato, no meio de uma guerra eleitoral muito importante para toda a esquerda brasileira, custa entender por qual motivo afirmar que haveria “indícios fortes de fraude na eleição da Venezuela”.
Explico.
O movimento que a direita faz a respeito envolve três lances combinados: i/dar destaque ao assunto, ii/afirmar que houve fraude e iii/associar a esquerda com a fraude.
A resposta dada (“indícios fortes de fraude”) contribui para a direita executar os três lances.
Se for mesmo impossível se desvencilhar da manobra diversionista feita pela direita, a melhor opção (até mesmo para quem acredita nos “indícios fortes”) segue sendo defender a soberania das instituições venezuelanas (claro que não precisa ser com o mesmo entusiasmo com que alguns defendem o STF e o Xandão).
Já a opção adotada (“indícios fortes”) é, na minha opinião, a pior possível.
Óbvio que, no curtíssimo prazo, parece ser um movimento esperto. Afinal, não confronta a opinião dos 79% dos eleitores paulistanos que, supostamente, acreditam ter havido fraude (ao menos segundo o Datafolha de 12 de agosto).
Mas há “indícios fortes” de que aceitar este tipo de “senso comum” forjado pela direita tem, como efeito, contribuir para o crescimento da direita.
Parafraseando algo dito por alguém, em outra época e a respeito de outro assunto: há fortes indícios de que “a partir do momento que entramos nessa lógica, passamos a aceitar muitas coisas”.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT