Por Valter Pomar (*)
É extensa a lista dos que estão opinando sobre as eleições venezuelanas.
De fato, não devemos desperdiçar a experiência.
É fato que numa disputa apertada entre duas pessoas – Bolsonaro e Lula, Dilma e Aécio, Maduro e Capriles – é preciso apurar grande parte dos votos, antes de poder fazer uma projeção segura de quem venceu.
É fato, também, que numa disputa entre várias candidaturas, a depender da distância entre o primeiro e o segundo colocado, bem como a depender da votação das demais, é possível fazer uma projeção segura a partir de uma apuração menor.
No caso da Venezuela, por exemplo, eles apuraram 80%.
Quem está falando em 70% é a direitista Corina, que disse que seu candidato venceu por este percentual.
Talvez por isso Tarso tenha vinculado o percentual “70” com o nome de Bolsonaro.
Pois é disso que se trata, na Venezuela: quem está reclamando de fraude é a extrema-direita, não os democratas.
Mas o problema principal que vejo na declaração de Tarso é que não se trata do TSE, nem do Brasil.
Se trata do CNE e da Venezuela.
Ninguém é obrigado a reconhecer o resultado.
Mas exigir a um poder independente de outro país que forneça provas de lisura é, na minha opinião, roçar o alambrado da ingerência.
Tenho a mais absoluta certeza de que muitos destes que acham normal pedir atas, como se fiscais da oposição fossemos, reagiriam indignados se tal pedido fosse feito por uma chancelaria de um país estrangeiro e dirigida ao nosso TSE.
Seja como for, Tarso tem razão: não devemos desperdiçar a experiência.
E a experiência demonstra que a extrema-direita – vide Trump e Bolsonaro – também sabe gritar “fraude” e pedir por “democracia”.
Engane-se quem quiser.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT