Por Maria Carlotto (*)
Texto publicado na rede social da autora
A política externa brasileira vinha apostando na neutralidade frente ao conflito EUA vs. China. Nós, críticos, dizíamos que seria impossível, sobretudo pós-Trump. A prova veio.
Negociações com Trump serão muito difíceis. Basta dizer que ele mente sobre um déficit comercial que não existe e sugere ao Brasil “produzir nos EUA” quando nossa pauta de exportação são bens primários. Ou seja, o que ele quer, o Brasil não pode entregar: soberania não se negocia.
Por isso, no curto prazo, o mais provável é o Brasil estreitar laços com a China, seu maior parceiro comercial, que esperava do Brasil maior engajamento. A hora é agora. Teria sido melhor uma cúpula do BRICS mais robusta, mas o Brasil queria equidistância.
Como dizíamos, não adianta o Brasil querer ser low prolife nas relações internacionais. As respostas viriam mesmo assim e não podemos correr o risco de ter nossos aliados afastados. Lula sabia disso, mas estava pressionado a não se afastar demais do “ocidente”. Dilema falso.
Diferente do que defende o Itamaraty e o liberalismo local, não se trata de evitar “alinhamos automáticos” seja com os EUA; seja com a China. O que os EUA querem de nós é subordinação, não alinhamento. O que a China quer de nós é parceria estratégica, não alinhamento.
Não seria uma escolha difícil, mas o Brasil não vai precisar escolher um lado porque já foi “ladeado”. Ainda bem que o lado que nos colocaram, o do sul global, favorece nossa soberania, nossa autonomia, nosso desenvolvimento e, com isso e por tabela, nossa democracia.
Lula é um cara de sorte.
(*) Maria Carlotto é cientista social. Professora de Relações Internacionais. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Economia Política Mundial da UFABC.