O texto abaixo foi referendado pela direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, como editorial da próxima edição do jornal Página 13. A foto abaixo foi divulgada no blog O Cafezinho.
EDITORIAL
“Golpista bom é golpista preso!”
As manifestações realizadas em todo o Brasil contra a “PEC da bandidagem” e contra a “anistia para golpistas” confirmaram que o povo brasileiro está disposto a ir às ruas lutar pelas liberdades democráticas. Demonstrando, portanto, que não precisamos ficar eternamente reféns da correlação de forças existente no Congresso Nacional. Pelo contrário: se queremos mudar o resultado das votações e se queremos mudar a composição do Congresso, é essencial travar a disputa na sociedade.
As manifestações mostraram, também, que a militância de esquerda acredita no ditado popular: “Quem com porcos se mistura, farelo come”. Os petistas que compareceram às manifestações criticaram duramente a postura dos petistas que votaram a favor da PEC da bandidagem. Lembrando que foram ao todo 14 parlamentares do PT (13 homens e uma mulher) que colocaram suas digitais em algum trecho da PEC da bandidagem.
As manifestações foram poderosas em todo o país, entre outros motivos porque a militância petista e as direções locais se engajaram na mobilização. Mas é preciso dizer explicitamente: nem todo mundo cumpriu seu dever. Destacamos o bom exemplo da governadora Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, que esteve pessoalmente nas manifestações. E destacamos, em sentido oposto, a postura da Comissão Executiva Nacional do PT, que conseguiu o prodígio de fazer duas reuniões (uma delas presencial) sem conseguir aprovar e divulgar uma resolução a respeito do tema.
A postura da Executiva Nacional tem uma óbvia explicação: setores da direção apoiaram ou pelo menos foram cúmplices passivos da atitude dos parlamentares que votaram favoravelmente à PEC da bandidagem. Não são maioria na Executiva Nacional do PT, mas ocupam cargos estratégicos e têm força suficiente para bloquear a aprovação de uma resolução. Isto preocupa não pelo ocorreu no passado, mas pelo que precisa ser feito para vencermos no presente e no futuro.
A batalha contra a anistia para os golpistas, a luta pela pauta do povo, a vitória nas eleições de 2026 exigem uma tática de polarização. A tática do mal menor e dos acordos com a direita vai nos levar à derrota. Portanto, é imprescindível debater abertamente o ocorrido na votação da PEC da bandidagem para tentar evitar que o mesmo erro se repita.
A luta pelas liberdades democráticas — que inclui punição para os golpistas, mas também inclui impedir que o parlamento se transforme em refúgio de criminosos — não esgota a pauta do povo. Para a imensa maioria da população, a democracia só ganha sentido se estiver a serviço da defesa do fim da escala 6×1, da redução da jornada, de que os ricos paguem impostos, da redução dos juros, da ampliação dos recursos para as políticas públicas. Por isso, ao mesmo tempo que devemos comemorar o êxito das manifestações de 21 de setembro, devemos pressionar o governo para que mude o rumo da política econômica.
A Polícia Federal demonstrou os vínculos entre o PCC e a Faria Lima. Mas a verdade é bem pior: o conjunto do capital financeiro assalta cotidianamente o povo brasileiro. O Banco Central comandado por Galípolo, ao manter uma taxa de juros de 15%, está a serviço de estrangular a economia, prejudicar o povo e nos derrotar nas eleições de 2026.
A tática da polarização está contribuindo para que Lula melhore nas pesquisas. Mas não devemos nos iludir. A eleição do próximo ano não será um passeio. Estão e estarão contra nós o governo Trump, a aliança entre o agro e o capital financeiro, as duas direitas, tudo junto e misturado. Venceremos se, entre inúmeras outras coisas, lembrarmos que colheremos nas urnas o que tivermos plantado nas ruas. Até porque não é com flores e negociatas que se combate o fascismo!
Os editores