Por Valter Pomar (*)
Cabe aos palestinos responder se aceitam ou não o plano Trump.
Mas não vejo como aplaudir a proposta feita pelo presidente dos Estados Unidos no dia 29 de setembro.
Quem não leu a proposta, leia abaixo (na versão traduzia por El Continent e disponível aqui: El plan de Trump para Gaza: texto íntegro – El Grand Continent).
Ao final faço um comentário.
1. Gaza será una zona desradicalizada, libre de terrorismo, que no representará ninguna amenaza para sus vecinos.
Agora o comentário.
Deixarei de lado o estilo, a pegada de incorporador imobiliário, o passar o pano nos crimes cometidos pelo Estado de Israel e o desequilíbrio geral.
Deixarei de lado, também, o estilo ultimatum.
E, principalmente, deixarei de lado a pegada chantagem de gangster (“tenho uma pistola na tua nuca, se você não concordar, atirarei”).
Vou me focar só numa questão de princípio: a soberania.
O que Trump está propondo é estabelecer um protetorado sob sua gestão pessoal.
Leiam: “Gaza será gobernada en el marco de una gobernanza transitoria temporal por un comité palestino tecnocrático y apolítico, encargado de garantizar el funcionamiento diario de los servicios públicos y los municipios para la población de Gaza. Este comité estará compuesto por palestinos cualificados y expertos internacionales, bajo la supervisión y el control de un nuevo órgano internacional de transición, el «Consejo de Paz», dirigido y presidido por el presidente Donald J. Trump, con otros miembros y jefes de Estado que se anunciarán más adelante, entre ellos el ex primer ministro Tony Blair. Este organismo establecerá el marco y gestionará la financiación de la reconstrucción de Gaza hasta que la Autoridad Palestina haya completado su programa de reformas —tal y como se describe en diversas propuestas, entre ellas el plan de paz del presidente Trump de 2020 y la propuesta franco-saudí— y pueda retomar el control de Gaza de forma segura y eficaz. Este organismo aplicará las mejores normas internacionales para crear una gobernanza moderna y eficaz, al servicio de la población de Gaza y capaz de atraer inversiones”.
O controle sobre Gaza não será da população palestina, não será da Autoridade Palestina.
Será de um “Conselho de Paz”, dirigido e presidido por Trump.
Um “novo órgão internacional de transição”, constituído a la carte, que controlará as coisas até que a Autoridade Palestina tenha feito o dever de casa e possa “retomar o controle de Gaza de forma segura e eficaz”.
Trata-se de um protetorado.
Ou seja, é uma espécie de regresso ao princípio da história.
Aliás, ter o “poodle” Tony Blair à cabeça da coisa só reforça a lembrança do protetorado britânico sobre a Palestina.
Que o ministro Mauro Vieira tenha dito que o Brasil “aplaude” este plano e que ele estaria “alinhado com posições históricas do Brasil” só demonstra como são diferentes os critérios adotados para avaliar o que é soberania nacional.
Cabe aos palestinos, que estão na linha de fogo, decidir o que fazer.
Mas não há como não dizer que a proposta de Trump perpetua a causa de fundo da situação: a ocupação colonial.
ps. a interceptação da flotilha que rumava em direção a Gaza, feita em águas internacionais, é mais um dos inúmeros crimes cometidos pelo Estado terrorista de Israel, a maior “amenaza para sus vecinos” que existe na região.