Por Nátali Di Domenico Santos (*)
O cenário no Reino Unido tem se acirrado, muito por conta do desenrolar dos acontecimentos, dentre eles, a fragilidade da economia num pós-Brexit, consequência da infeliz votação que ocorreu no ano de 2020, mudando radicalmente o cenário até então posto no país. Durante o período subsequente, como bem recordamos, mas muitos tentam esquecer, tivemos a pandemia da COVID-19, o que complicou e muito a vida da população, com o aumento disparado do custo de vida, quando salário-mínimo mal dava conta de pagar o aluguel, exponencialmente absurdo em Londres (onde o salário-mínimo por hora é mais alto que o nacional, entretanto, na realidade, os empregadores acabam “optando” por pagar o nacional na capital). Estes e muitos outros acontecimentos acabaram por degradar a já medonha condição de vida, o que acabou gerando de forma intencional — maquinada pelos setores conservadores da extrema-direita — a fragilização do Estado, parte de um plano maior. Com tudo isso, a população continua pagando a alta conta, que ainda vai se arrastar por anos a ver, com o desmantelamento do Estado e a conquista de espaços esvaziados pela fraca esquerda britânica, e a ascensão do fascismo internacional, muito apoiado por figuras de bilionários que não merecem ser citados aqui.
Com o acirramento do cenário de crise e o enfraquecimento da esquerda, as vozes fascistas têm ganhado um impressionante, mas não surpreendente, coro, que em alto som explicita o seu asco pela classe trabalhadora e pelos imigrantes.
No dia 13 de setembro do corrente ano, foi convocado pela extrema-direita britânica um ato anti-imigrantes, tendo como uma de suas figuras de maior impacto um neofascista chamado de Tommy Robinson (de nome verdadeiro Stephen Christopher Yaxley-Lennon). Este homem é um dos maiores representantes de um ideário completamente islamofóbico no Reino Unido, país onde expressiva parte dos imigrantes são adeptos do islamismo. Para a surpresa de ninguém, dito criminoso já teve prisão decretada quatro vezes e, também para surpresa de ninguém, mantém laços firmes com o esdrúxulo governo estadunidense, que irradia ódio e violência imperialista por todos os cantos do mundo.
Está na agenda global fascista um movimento nacionalista de forçar a saída de imigrantes de respectivos países, com slogans como “voltem para casa”, “queremos nosso país de volta”, “limpeza do país”, e, para isso, muito tem-se dificultado a vida dos imigrantes e o número crescente de perseguições assusta quem almeja viver uma vida em paz. Os atos ocorreram de norte à sul do país, reunindo em torno de 100 mil pessoas na capital britânica, número dado pela Polícia Metropolitana. Tal ato foi convocado por alguns expoentes do conservadorismo britânico, como Patriotic Alternative, Homeland Party, Britain First, e mais alguns de menor influência, mas todos confluindo para o mesmo projeto. A violência teve presença marcada durante os atos, há relatos de agressões físicas, danos patrimoniais e prisões, um ponto interessante para refletirmos, a violência da extrema-direita contra um dos grandes órgãos de repressão do Estado, a instituição da polícia. Um dos fatores que levaram a uma onda de violência proveniente dos protestantes foi a tentativa de mudar a rota do ato, o que desaguaria em caos, haja vista o pouco preparo de segurança para o tamanho do ato.
A semiótica merece atenção, muitos símbolos foram trazidos para a rua, como bandeiras do Estado criminoso de Israel, bandeira dos Estados Unidos e propaganda MAGA, e infelizmente, a presença de crianças de todas as idades, em uma vastidão de homens brancos, de classe média e conservadores.
Ainda nesse movimentado verão de 2025, ocorreram diversos atos em favor da Palestina, com o apoio de expressiva parte da população, muitos marcharam e deram voz, trazendo suas famílias, amigos e colegas, todos em atos pacíficos pela Palestina Livre. Estes atos foram uma constante e ocuparam o período, trazendo para Londres uma voz necessária para a liberdade dos povos, em um local onde há muitos holofotes. As marchas ocuparam ruas e marcos públicos, e por onde íamos, mesmo em áreas mais “ricas” da cidade, havia uma multidão dispersando após os atos, com suas bandeiras e cartazes. Mas a repressão policial se fez presente, criminalizando os atos e prendendo manifestantes, sem absolutamente nenhuma justificativa, perpetrando um ódio de classe xenofóbico, mostrando mais uma vez o poder de opressão do Estado burguês. Resistimos.
A ponte de sustentação desses movimentos tem como forte pilar as infames fake news, o que também vemos no Brasil. É uma arma da direita espalhá-las e isso precisamos aprender a combater, já passou da hora de termos aprendido a lição de que espaço vazio se ocupa, e espaço ocupado se disputa. Muitas das fake news tentam popularizar, por assim dizer, um leque extenso de ideias xenofóbicas, racistas e intolerantes para culpar a população imigrante de todo o mal que ronda o país, classificando-os como escória da sociedade. E isso se vê no dia a dia, basta sair de casa que já enfrentamos preconceitos, até mesmo de nossos amigos ou colegas de trabalho, os comentários nunca cessam, e sabemos, nem tão no fundo, que boa parte da população britânica despreza a população imigrante, o que seria cômico se não fosse catastrófico, haja vista que a força motriz da economia, e setores como de hospitalidade, são os pilares que ainda, de certa forma, trazem uma frágil estabilidade à economia, trocando em miúdos, se os trabalhadores imigrantes deixassem o país, não tardaria para o colapso econômico chegar a um ponto hecatômbico.
Devemos marcar presença na luta, seja ela em nossa pátria, seja ela transoceânica, a classe trabalhadora é internacional e também é a luta. Que disputemos cada centímetro das ruas, nosso lugar, e que essas vozes fascistas voltem para os esgotos de onde vieram. Venceremos.
(*) Nátali Di Domenico Santos é militante do PT.