Por reparação e pelo bem viver, seguiremos

…Bem viver é nossa potência

A nossa busca é reparação

Bem viver é nossa potência

Nossa conexão

Toda mulher negra move o mundo.

Mete marcha, negona, rumo ao infinito

Bote a base, solte o grito, solte o grito.

“Mete Marcha Negona Rumo ao Infinito”, composta e interpretada pela baiana Larissa Luz,

Jingle da Marcha das Mulheres Negras 2025.

Por Suelen Aires Goncalves (*)

Em tempos de guerra, a esperança segue sendo vermelha. É com orgulho e compromisso coletivo que apresentamos, a partir da Articulação de Esquerda, nossa candidatura à Secretaria Nacional de Mulheres do Partido dos Trabalhadores (SNMPT). Nossa proposta não é apenas um nome, mas um projeto de direção política. O projeto “Feminismos para Tempos de Guerra”, gestado pela AE, reconhece que o Brasil de 2025 nos confronta com as velhas e novas faces do patriarcado, do racismo e da exploração capitalista. Estes não são episódios isolados, mas expressões de um mesmo projeto de poder que busca restaurar o domínio das elites. E é por isso que nós, mulheres petistas — especialmente as negras, indígenas e trabalhadoras — estamos no centro da resistência.

A luta histórica das mulheres negras, que exige Reparação e Bem Viver, é o eixo central do nosso projeto. O Manifesto das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver — que ecoa em nossa tese — aponta que não há possibilidade de democracia e justiça sem reparação. A Reparação, para nós, vai além da compensação financeira. É a implementação de ações coletivas que revertam os impactos da escravidão e da colonização, corrigindo as injustiças que se mantêm no presente. É por isso que defendemos que o Estado brasileiro adote o Paradigma do Bem Viver, baseado em concepções milenares africanas e indígenas. O Bem Viver exige uma crítica radical à lógica de dominação, extrativismo e exploração e a desarticulação da crença antropocêntrica que nos coloca no topo do mundo, quando na verdade somos parte dele.

A luta por Reparação e Bem Viver deve guiar as nossas ações no PT com reconhecimento e reparação da dívida histórica material e imaterial pela União. Com a Criação de um Fundo Nacional de Reparação e com reforma Agrária e Urbana, e garantia de paridade de raça e gênero em cargos eletivos e Tribunais Superiores. Queremos reconstruir a SNMPT como um espaço de mobilização, formação e enfrentamento, e não como mero aparelho burocrático. Defendemos uma Secretaria que reafirme o feminismo petista como expressão da luta de classes e da luta antirracista. Que organize as mulheres nos territórios e nas bases, com núcleos vivos conectados às lutas populares.Que enfrente o patriarcado e o racismo dentro e fora do partido, garantindo paridade real em todas as instâncias de poder do PT. Que coloque a Economia do Cuidado no centro, socializando o cuidado como responsabilidade coletiva e do Estado.

As mulheres negras, em sua pluralidade, saem às ruas para exigir uma transformação radical, afirmando que não há possibilidade de democracia, justiça, igualdade e equidade sem Reparação. A Marcha das Mulheres Negras 2025 se estrutura no reconhecimento de que o Brasil e outros estados americanos se fundaram sobre o aniquilamento de povos indígenas e a subjugação de povos africanos traficados. A escravidão, um crime de lesa-humanidade , subtraiu a humanidade, subjetividade, e expropriou corpos, nomes, famílias, culturas e territórios da população negra por quase 400 anos. A ausência de políticas de amparo e compensação no pós-abolição agravou as hierarquias sociais baseadas em raça, perpetuando as desigualdades abissais mediante os parâmetros da colonialidade.

A Reparação, neste contexto, é a implementação de ações coletivas simbólicas, políticas e materiais que revertam os impactos da escravidão e colonização, corrigindo as injustiças que se mantêm no presente. O movimento exige, portanto, a redistribuição das riquezas e iniciativas sistêmicas que garantam: a) Direito à vida com liberdade e autodeterminação; b) Acesso à educação, seguridade social, segurança e justiça racial e c) Direito à memória, cultura, terra e território, livres da violência policial e narcomilícia. A bandeira do Bem Viver é o “paradigma utópico” e o “farol” do movimento. Baseado em concepções milenares africanas e indígenas , o Bem Viver propõe um novo código sociopolítico em que justiça, equidade, solidariedade e vida digna são valores inegociáveis.

Em cada mulher petista há uma semente de revolução que oferece uma crítica radical ao sistema vigente ao questionar a lógica de dominação, extrativismo e exploração. Em face da crise climática , a Marcha das Mulheres Negras propõe a desarticulação da crença antropocêntrica-colonial no poder absoluto da humanidade sobre o todo , reafirmando que somos parte integrante da cadeia e não seu topo. Reparação e Bem Viver são, assim, inseparáveis, sinalizando que a transformação necessária exige.

Companheiras, em tempos de crise e retrocessos, nossa tarefa é romper com o patriarcado, o racismo e o capital, reconstruindo o PT como um partido de massas, socialista, feminista e popular.  As Mulheres Negras da América latina , do Brasil e em diáspora apresentam uma proposta nítida  por reparação e bem viver como  essência, como um apelo para a instauração de um novo pacto civilizatório. É o anúncio de um projeto político gestado por séculos, que busca não apenas o “fim do mundo” como o conhecemos — o fim de um mundo racista e patriarcal — mas a construção de um novo. As mulheres negras, impulsionadas pelos sonhos de liberdade de Palmares, exigem Reparação para reinventar o mundo.

Seguiremos firmes, organizadas e em marcha!

Sem anistia aos golpistas. Sem anistia ao patriarcado. Sem anistia ao racismo.

Por um PT feminista, negro e popular!

(*) Suelen Aires Goncalves é militante petista, antirracista e feminista.

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