A eleição da nova direção do SindCT

Por Gino Genaro (*)

O Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT) reúne servidores do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com exceção da AEB, todos com sede em São José dos Campos-SP. O SindCT foi fundado em 1989 e, desde então, tem sido conduzido por um único grupo político. Entre os dias 19 e 22 de fevereiro ocorrerá eleição da nova diretoria da entidade, e desta vez, ao contrário do que vinha ocorrendo ao longo de anos, membros da atual gestão se dividiram entre duas chapas: Chapa 1- Continuar na Luta, Renovar as Forças (de situação) e Chapa 2 – Renova SindCT (de oposição).

A disputa da diretoria por duas chapas pode deixar transparecer que um racha político dentro do grupo que vinha conduzindo a entidade praticamente desde sua fundação tenha ocorrido agora, às vésperas da eleição, o que não condiz com a realidade. Na verdade, divergências políticas vinham se acumulando dentro do atual grupo desde pelo menos 2011, quando passei a compor, pela primeira vez, a diretoria da entidade. Desde então, ao longo dos dois mandatos em que atuei na direção (período 2011-2017) –primeiro, na condição de secretário de Formação Sindical, e, em seguida, como responsável pela Secretaria de Comunicação e Cultura– já eram claros os sinais de divergência de fundo entre os membros da diretoria.

Tais divergências se apresentavam em diferentes campos, envolvendo desde maneiras distintas de se administrar a entidade, até questões relacionadas à própria concepção do que vinha a ser um movimento sindical combativo, autônomo e representativo. Desde então, a maioria do atual grupo dirigente do sindicato vem limitando sua atuação às articulações em Brasília, junto ao governo e ao Congresso, praticamente deixando de lado qualquer iniciativa de mobilização dos servidores da categoria. Claro que as conquistas salariais e trabalhistas via de regra sempre passarão pela celebração de acordos com o governo federal, muitas vezes com o apoio decisivo de lideranças parlamentares de diferentes partidos, não há divergência quanto a isso. A divergência está sobre o que fazer para além dessas articulações em Brasília, afinal, a experiência tem mostrado que justo as categorias de servidores que possuem os melhores salários são também aquelas que mais se mobilizam, seja por meio de paralisações, atos públicos, propaganda e greves.

A adoção, ao longo dos anos, desta tática que se limita ao lobismo em Brasília, tem afastado mais e mais o sindicato de sua base, já que são mínimas as atividades envolvendo a participação da categoria. Não há cursos e debates que propiciem a formação política e sindical dos filiados, quase não há canais de comunicação da diretoria com a base, sendo que as poucas iniciativas existentes foram criadas no passado muitas vezes a contra gosto dessa maioria hoje na direção da entidade, como foi o caso do Jornal do SindCT, da RádioCT, do programa Brasil com Ciência, dentre outras iniciativas. Também não se investe, há anos, em qualquer campanha de filiação, fazendo com que a maioria dos servidores que ingressaram no serviço público a partir dos últimos concursos não tenha se filiado à entidade. As assembleias, via de regra mal divulgadas e organizadas, além de contarem com baixíssima participação dos servidores, são formatadas para desestimular ou até inibir a participação dos presentes, onde o diretor (invariavelmente o presidente) fala quase que o tempo todo, com longos e desgastantes informes que não levam a nada, reservando ao final 10% ou 15% do tempo para quem quiser usar a palavra.

Nas campanhas salariais, como se pode observar atualmente, a atuação do SindCT vem se restringindo a uma ação conjunta com o chamado Fórum de CT, entidade informal que reúne sindicatos e associações de servidores ligados à Carreira de C&T junto a diferentes ministérios. Trata-se de um espaço importante que precisa ser mantido, valorizado e aperfeiçoado, já tendo conquistado muitas vitórias importantes para a carreira ao longo dos anos, no entanto, não há nem nunca houve por parte do SindCT uma ação mais firme e sistemática junto às entidades gerais dos servidores federais, como a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) e o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), entidades às quais o SindCT é filiado, paga suas contribuições, mas que não participa e nem contribui politicamente no seu dia a dia, não enviando delegados aos seus congressos e sem contribuir na direção dessas entidades que, ao fim e ao cabo, são as que mais mobilizam a categoria e abrem portas às negociações com o governo.

Trata-se, portanto, de uma direção pouco politizada, pouco atuante, com uma visão burocrática do movimento sindical, que não se esforça por atrair e aproximar os servidores do sindicato, centralizadora, que atua no sentido de se descolar do restante do movimento dos servidores públicos federais, como se a carreira de C&T fosse algo apartado das demais carreiras federais, sem se preocupar em atuar de forma conjunta e solidária junto às demais categorias do funcionalismo público.

Tudo isso levou à formação de uma chapa de oposição à atual diretoria do SindCT, a Chapa 2 – Renova SindCT, formada por servidores pioneiros do sindicato, servidores que, como eu, já compuseram diferentes gestões à frente da entidade, além de muitos novos servidores que pela primeira vez terão oportunidade em contribuir com a construção e fortalecimento de nossa entidade. Em comum este grupo apresenta uma outra visão do sindicalismo, focada na participação da base, na solidariedade de classe, no entendimento de que o papel do sindicato extrapola as conquistas salariais mais imediatas, buscando também  melhores condições de trabalho, o fortalecimento dos órgãos públicos, em particular dos ligados à educação e à ciência e tecnologia, a defesa do meio ambiente, enfim, na luta por uma sociedade mais justa e democrática.

(*) Gino Genaro é servidor do Inpe, militante da AE e membro do Diretório Municipal do PT/São José dos Campos.

 

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