Por João Vitor Meirelles Fernandes (*)
Com a pandemia do Covid-19, um conjunto de fatores sociais e econômicos atingiram a classe trabalhadora. Seja pela negligência do desgoverno Bolsonaro com a falta de políticas de apoio e assistência social ou por sua insistência em contestar as instituições científicas e democráticas, fomos afetados até mesmo pelas limitações das possibilidades de lutas no dia a dia, que se intensificaram durante o período de quarentena.
Entre os diversos problemas, é preciso identificar a situação dos estudantes das faculdades e universidades privadas. A maioria destes estudantes sempre foi submetida a condições mais precárias e frágeis de formação, principalmente por parte dos “mercadores do ensino”, os grandes empresários da educação privada que utilizam os meios educacionais para potencializar a lógica capitalista. Contraditoriamente, a pandemia abriu espaço para profundos questionamentos sobre este modelo, possibilitando o surgimento em diversos ambientes das instituições privadas de luta por direitos estudantis.
Para entendermos esse contexto, é necessário que observemos o início da pandemia, quando a solução rápida e barata dos grandes empresários foi algo que já vinha mostrando suas garras, o famoso “EAD”, agora repaginado em um novo modelo as aulas remotas. A grande oportunidade dessa nova modalidade de ensino para mostrar seu potencial foi o início conturbado da pandemia, em que vivíamos em um mar de incertezas. A solução barata para os grandes empresários não funcionou da forma como idealizaram e logo um fato começou a ser contestado: os valores das mensalidades que não tiveram alterações iniciais, mesmo com a saída da sala de aula física para a virtual.
Na realidade dos estudantes de instituições de educação privadas, podemos fazer uma pequena caracterização, onde encontramos, na maioria das vezes, jovens que já trabalham e estudam buscando uma profissionalização. Fazendo um recorte ainda maior e observando a realidade do estado do Piauí, encontramos um grande deslocamento de jovens do interior que vão estudar na capital e região metropolitana. Com isso surgem diversos tipos de despesas, como aluguel, alimentação e saúde, que dividem diretamente espaço com o sonho de conseguir um diploma. Todas essas questões foram devidamente afetadas com a pandemia do Covid-19.
Podemos observar que é aí que um embate começa a ganhar forma: a realidade do dia a dia dos estudantes começou a ser estruturalmente afetada por uma série de fatores, como desemprego e a falta de políticas públicas. Em contraponto, o monopólio das instituições privadas de ensino só crescia à medida que contornava parcerias com o atual desgoverno, como foi o caso de uma live realizada pelo grupo Ser Educacional (grupo responsável pela UNINASSAU) com ninguém menos que o vice-presidente Hamilton Mourão.
Coincide com este momento o início de uma luta que parecia ser inexistente, mas que começou a ser travada, pois os estudantes deram início a uma mobilização que foi de encontro aos interesses das instituições privadas. A partir daí, uma pequena, porém muito importante mobilização coletiva começou a ser formada, não só no estado do Piauí, mas em diversos outros lugares do Brasil.
Com o apoio de algumas entidades estudantis, a luta dos estudantes nas instituições privadas de educação superior, mesmo que de forma virtual, ganhou forma como não ocorria há bastante tempo. Com isso a luta pela redução das mensalidades, que por muitas vezes parecia ser uma causa que estava com seus dias contados, ganhou muita intensidade. Com a forte mobilização e as pressões feitas nas redes sociais passamos a ter, por todo o país, portarias assinadas pelos governadores dos estados decretando a redução das mensalidades.
Evidente que as bandeiras de luta e grau de organização dos estudantes das instituições privadas ainda precisa melhorar muito. Mas o que aconteceu durante este período de pandemia é um indicativo do potencial existente, que poderia ser muito maior se o conjunto das entidades estudantis tivessem maior presença junto aos estudantes, principalmente aos estudantes trabalhadores das instituições privadas. Como foi e segue sendo com a mobilização em torno da redução das mensalidades e contra a mercantilização da educação, só a luta pode trazer vitórias.
(*) João Vitor Meirelles Fernandes é estudante da Uninassau em Teresina – PI
(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13