Militantes e dirigentes do PT em Fortaleza lançam Manifesto em Defesa da Democracia Partidária, em que denunciam manobra de ala minoritária adesista à gestão do PDT na prefeitura da capital do Ceará. O episódio provocou uma verdadeira intervenção local para demover a decisão soberana do Diretório Municipal do Partido no sentido de se manter na oposição
Na noite de 29 de dezembro, o Diretório Municipal (DM) do PT de Fortaleza decidiu em reunião, manter-se na oposição à administração do PDT na cidade. Um grupo formado por correntes internas que discorda desta posição resolveu utilizar de uma artimanha política e deliberadamente boicotar a reunião. Em seguida, entrou com um recurso contra a decisão, o qual foi apreciado e acatado em tempo recorde, por maioria de votos, no dia seguinte pela Executiva Estadual do PT Ceará.
Para tal recurso, alegaram que teria havido o cerceamento do debate. O que de fato não ocorreu, pois as ditas forças, lideradas pelos deputados federais José Guimarães e José Airton, o deputado estadual Acrísio Sena e o ex-vice-governador Prof. Pinheiro (CNB, MPT, MS e EPS, respectivamente), foram atendidas quando solicitaram mais tempo para o debate interno, provocando o adiamento da convocação da reunião do DM por duas vezes. Também foi atendido o pedido para que o prefeito eleito fosse ouvido. Além do próprio governador Camilo Santana que também foi ouvido.
Em reunião da Executiva municipal, com a participação de todas as forças políticas e a Bancada da Câmara, a maioria das lideranças e dirigentes se manifestaram no sentido de se manter na oposição que desenvolve há 8 anos. Com a disposição de prosseguir a discussão, ali se deliberou por consenso convocar a reunião do DM do dia 29.
Recapitulando-se os acontecimentos, pode-se concluir que, os adesistas, percebendo que os debates realizados já delineavam qual a posição seria majoritária, resolveram, de forma premeditada, não comparecer à reunião do DM, tramando, na surdina, um boicote inédito, uma manobra inaceitável para tentar deslegitimar a decisão. O roteiro do plano foi o de construir uma narrativa de interdição do debate pela Executiva Municipal, publicar na imprensa nota contra a decisão do DM e interpor recurso junto a Executiva Estadual.
A tal nota alega que teria havido uma deliberação “afrontosa ao diálogo democrático” supostamente, segundo consta no recurso, sem “exaurir o debate político interno”. A verdade é que boicotaram o debate que tanto reivindicam porque anteviam ser sua posição minoritária. Mesmo assim, houve quórum para a reunião ser instalada e pudesse deliberar.
O DM aprovou uma resolução que afirma “a responsabilidade do PT em defender seu programa na Câmara, através de uma oposição qualificada, pela esquerda, e aberta ao diálogo com o campo progressista e com a administração, sempre que o enfrentamento de pautas ultrarreacionárias no parlamento e o interesse comum da cidade assim exigirem”.
Diferentemente do que pensam os autores da manobra, a defesa de que o PT se mantenha na oposição ao governo Sarto, tem como base a crítica do partido à continuidade elitista e excludente do PDT na capital, contida na plataforma política, apresentada pelo PT, por meio de sua candidatura própria na eleição.
Da mesma forma, a declaração de apoio a Sarto no segundo turno foi entendida como uma ação reativa à candidatura bolsonarista na capital e não como adesão aos conteúdos e métodos de governança pedetista em Fortaleza.
Naturalmente, conforme a missão confiada pela expressiva votação do PT nas urnas, nossa bancada de oposição apreciará as matérias enviadas pelo Executivo sempre no seu mérito, votando conforme os interesses populares e dos trabalhadores e trabalhadoras.
A narrativa, portanto, de que a decisão foi tomada unilateralmente e sem debate tenta esconder justamente o fato de que os boicotadores buscaram interditar e proibir a discussão. Esses são os fatos.
A trama urdida contra a autonomia e independência de uma instância partidária legitimamente autorizada a deliberar sobre as questões políticas de âmbito municipal, estabelecendo diretrizes para a atuação dos vereadores e das vereadoras do Partido na Câmara Municipal tem dois propósitos claros:
O primeiro é atender ao projeto político pessoal do governador Camilo Santana que, instrumentaliza o partido para tentar assegurar o apoio da família Ferreira Gomes a suas pretensões particulares. Para tal, conta com seus aliados internos, que ao invés de cobrarem o papel conivente de Camilo, ao apontar o candidato a vice na chapa adversária que protagonizou um festival de mentiras, baixarias e ataques misóginos à candidatura petista no primeiro turno, passam a atropelar a construção histórica de seus militantes para se manterem nos espaços institucionais de que se beneficiam.
O segundo é a avidez por cargos, benesses e empregos que uma adesão incondicionada pode proporcionar para seus defensores. E, por isso, a pressa para poderem acomodar aliados e lideranças afeitos ao jogo político tradicional.
Assim, a Executiva Estadual, convocada às pressas, fez sem cerimônia aquilo que reclama falsamente que a instância municipal teria praticado: resolveu sua maioria, num ato de violência política, anular a decisão do DM e ordenar a reabertura do processo de discussão. Soube-se disso pela imprensa, posto que nem comunicado oficial houve, revelando seu desprezo e desrespeito inaceitáveis, não apenas ao Diretório Municipal, mas a todos/as militantes de Fortaleza a quem a direção local representa.
Eis porque consideramos imprescindível uma nova reunião imediata do Diretório Municipal, como resposta ao ataque arbitrário sofrido de integrantes que hegemonizam o PT estadual. Se querem que o partido refaça o debate, o convite é para que compareçam, argumentem e convençam a favor do que defendam, para que possamos construir posições comuns, em respeito à democracia, à soberania das instâncias e de acordo com os interesses democrático populares na capital.
Nossas posições estão respaldadas pelos princípios que regem nossos estatutos e Código de Ética do PT, construídos pela classe trabalhadora brasileira. Não aceitamos o mandonismo dos coronéis oligárquicos. Quem quiser o debate qualificado seja bem-vindo. Quem quiser impor suas farsas vai seguir enfrentando a resistência da militância petista.
Fortaleza, 11 de janeiro de 2021
Assinam (aberto a adesões):
Aila Marques – Diretório Municipal do PT Fortaleza
Alfredo Pessoa – Professor Economia UFC, PT Fortaleza
Ana Lucia Alves – Professora, PT Fortaleza
Angelo Roncalli Alencar Braynes – Professor, membro do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Antonio Elias Soares – Bancário aposentado e Suplente da Comissão de Ética do Diretório Municipal do PT de Fortaleza
Antonio Ibiapino – Radialista, PT Fortaleza
Antonio José Andrade – Movimento popular, PT Fortaleza
Antonio Sancho Filho – Bancário, diretor da SEEB-CE, filiado ao PT
Antonyo Oliveira – Membro do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Assis Ribeiro – Assistente social, PT Fortaleza
Benedito Cunha – Secretário de Meio Ambiente do PT-CE
Caio Baima – Membro do Diretório Municipal do PT de Fortaleza
Célia Nobre – Aposentada, PT Fortaleza
Daniele Alencar – Professora, PT Fortaleza
Deodato Ramalho – Advogado, Executiva do PT Fortaleza
Ecila Meneses – Professora e atriz, integrante do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Élida Maciel – Professora, PT Fortaleza
Etelberto Almeida de Castro – Eletricitário, PT Fortaleza
Eudes Baima – Ex-dirigente sindical, membro da Executiva Municipal do PT de Fortaleza
Fábio Antonio Zuntini – Ex-funcionário da Caixa Econômica Federal
Francimarie Teodósio – Membro do Diretório Municipal do PT de Fortaleza
Geraldo Bandeira Accioly – Sociólogo, integrante do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Hebert Lima – Sociólogo, historiador, membro do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Jairo Oliveira – Militante Mov. Popular, PT Fortaleza
Joélton Maia Bezerra – Bancário/CEF, integrante do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
John Kennedy Ribeiro – Militante, PT Fortaleza
Jorge Queiroz – Advogado, PT Fortaleza
José Alfran – Eletricitário, filiado ao PT
Leda Vasconcelos – Membro do Diretório Estadual do PT Ceará
Lourival (Zito) Almeida de Aguiar – Administrador, PT Fortaleza
Marcos Afonso – Ex-deputado federal pelo PT-AC
Mário Mamede Filho – Médico, integrante do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Max Swell Veras Ribeiro – PT Fortaleza
Neuma Lopes – Socióloga, PT Fortaleza
Newton de Menezes Albuquerque – Professor da Faculdade de Direito da UFC, membro Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Odilo Almeida – Arquiteto e urbanista, filiado ao PT
Onézimo Guimarães – Membro da Executiva PT CE
Paulinho Oliveira – Jornalista, escritor e suplente de vereador do PT Fortaleza
Prudente Filho – Aposentado da Caixa, filiado ao PT
Rafael Tomyama – Jornalista e ambientalista, PT Fortaleza
Rita Sá – Presidente da 3ª Zonal do PT de Fortaleza
Roberto Gimenes – Filiado ao PT
Roberto Luque – Coordenador Geral do Sintsef-CE, membro da Executiva Estadual da CUT e filiado ao PT
Roza Rodrigues – Bancária aposentada da Caixa, PT Fortaleza
Teresinha Maciel – Professora, PT Fortaleza
Valton Miranda Leitão – Médico psicanalista, membro do Núcleo Américo Barreira PT Fortaleza
Vaumik Ribeiro da Silva – Membro da Executiva do PT Fortaleza
Zélia Franklin de Albuquerque -Socióloga, advogada, membro do Coletivo da Secretaria de Meio Ambiente PT CE