Agora é com Elas: mulheres negras disputam a Câmara

Por Flávia Mey (*)

Osasco, uma das principais cidades da Região Metropolitana de São Paulo, tem uma história política marcada por uma forte presença da esquerda, especialmente durante as décadas de 1980 e 1990. A cidade, com sua tradição operária e movimentos sociais ativos, se consolidou como um verdadeiro cinturão da esquerda na região Oeste da Grande São Paulo.

Durante a década de 1980, a cidade foi um bastião de resistência e mobilização trabalhista. Esse período foi marcado pela ascensão de sindicatos fortes e pela presença de lideranças políticas e sociais que contribuíram para o fortalecimento do PT.

A ligação de Osasco com a esquerda se intensificou na época das lutas contra a ditadura militar e com a redemocratização do Brasil. A cidade foi palco de greves importantes e de movimentos que buscavam a ampliação dos direitos dos trabalhadores, refletindo o perfil progressista de sua população.

A atuação de figuras como o João Paulo Cunha ex-presidente da Câmara dos Deputados, e posteriormente o prefeito Emidio de Souza, ambos do PT, ajudou a consolidar essa imagem de Osasco como um reduto da esquerda. O governo de Emidio de Souza, de 2005 a 2012, é lembrado por suas políticas públicas voltadas à inclusão social, educação, saúde e fortalecimento dos direitos humanos, alinhadas às pautas progressistas.

Entretanto, nos últimos anos, Osasco passou por uma transformação política significativa. A cidade, que antes era vista como um cinturão da esquerda, testemunhou uma mudança de inclinação política, refletida nas últimas eleições municipais e no perfil dos novos gestores públicos. O enfraquecimento dos sindicatos, a ascensão de novas forças políticas de direita e centro-direita, e a crescente insatisfação popular com a administração pública, contribuíram para essa mudança de cenário.

Atualmente, a cidade vive uma conjuntura política alinhada à extrema-direita e às políticas do governo Tarcísio de Freitas, contrastando com o histórico da esquerda que por décadas dominou o cenário político local. Esse novo panorama reflete também as mudanças demográficas, econômicas e culturais que a cidade tem experimentado, resultando em um eleitorado mais heterogêneo e menos previsível.

Essa transição demonstra não só a dinâmica da política em Osasco, mas também os desafios que as forças progressistas enfrentam para manter e expandir sua influência em um contexto cada vez mais polarizado. Em Osasco, Lula foi o candidato mais votado para a Presidência da República. Ele recebeu 222.285 votos, o equivalente a 50,40% do total da cidade. Já Jair Bolsonaro foi a escolha de 49,60% dos eleitores e recebeu 218.756 votos.

O passado como cinturão da esquerda, embora ainda presente na memória política da cidade, contrasta com o presente, em que a disputa por poder se tornou mais acirrada e menos dominada por um único espectro político.

Em Osasco, a eleição do Coletivo Agora é com Elas representará um marco significativo para a cidade, trazendo à tona a importância de uma representação verdadeiramente comprometida com as questões mais urgentes da sociedade. Composto por Zélia, Flávia, Dulceneia, Madalena e Silvia, cinco mulheres negras e afrodescendentes da periferia e dos extremos da cidade, o coletivo simboliza a luta por uma política inclusiva, que não só reconhece, mas também valoriza a diversidade e as experiências de vida de uma parte da população historicamente marginalizada.

A presença dessas mulheres na política local é crucial para fortalecer a luta de classes e de organização sindical, onde parte de suas componentes são a voz ativa da Oposição Sindical dos Servidores Públicos municipais, se contrapondo às políticas de direita dentro da esfera da municipalidade. Principalmente porque Osasco é uma cidade com uma grande desigualdade social. Elas trazem uma perspectiva única, moldada pela vivência nas periferias e pela compreensão profunda das necessidades e desafios enfrentados diariamente por sua comunidade. Essa visão é essencial para criar políticas públicas que realmente atendam à população mais vulnerável de Osasco.

Além disso, o Coletivo Agora é com Elas tem um forte compromisso com a defesa dos direitos das mulheres. Em uma cidade onde o feminicídio tem alcançado níveis altíssimos. E é fundamental promover mudanças estruturais que possam garantir igualdade, a vida e a justiça para todas as mulheres. As integrantes são vozes ativas na luta contra o machismo, o racismo e todas as formas de opressão, trabalhando para construir um ambiente político que reflita essas lutas.

Como educadoras, o Coletivo Agora é com Elas compreende a educação como uma ferramenta de transformação social. Elas lutam por uma educação pública de qualidade, inclusiva e que valorize as histórias e culturas afrodescendentes, proporcionando às crianças e jovens da periferia oportunidades reais de desenvolvimento e cidadania, combatendo o racismo estrutural, mas também promovendo a equidade em todos os aspectos da vida social e econômica de Osasco.

Eleger o Coletivo Agora é com Elas em Osasco significa dar voz a quem, por muito tempo, foi silenciado, significa apostar em uma política que coloca as pessoas em primeiro lugar, que valoriza a diversidade e que luta incansavelmente por justiça social e igualdade racial. Eleger o Coletivo Agora é com Elas é um passo decisivo para uma Osasco mais justa, inclusiva e representativa.

(*) Flávia Mey é professora e integra a Oposição Sindical dos Servidores Públicos de Osasco.

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