Por Valter Pomar*
Em recente entrevista à Monica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, Lula disse o seguinte:
“Não abro [brecha para a discussão de uma outra candidatura]. Não abro. Se eu fizer isso, minha filha, eu tô dando o fato como consumado. Eu vou brigar até ganhar. E só vou aventar a possibilidade de outra candidatura quando for confirmado definitivamente que não sou candidato. (…) Quando chegar o momento certo, o PT pode discutir todas as alternativas. Eu sou contra boicotar as eleições.”
Na entrevista, são delineados quatro grandes cenários/subcenários:
1. Lula tem sua candidatura registrada e deferida normalmente, podendo fazer campanha, ganhar ou perder as eleições;
2. Lula é registrado candidato e faz campanha, mas sua candidatura é cassada em algum ponto entre o final da campanha e a diplomação;
3. Lula tem seu registro de candidatura negado previamente, podendo participar da campanha apenas enquanto apoiador;
4. Lula tem seu registro de candidatura negado previamente e, além disso, é preso e impedido de participar da campanha, nem mesmo enquanto apoiador.
Quando saberemos qual destes cenários vai prevalecer?
No que diz respeito à existência formal & legal da candidatura, há basicamente duas possibilidades:
1. Se o sistema judiciário cumprir a lei e a jurisprudência. Neste caso, a decisão final sobre o deferimento do registro da candidatura sairia entre o final das eleições e a diplomação do eleito. E caberia ao PT debater, no melhor dos casos, o que fazer para que prevaleça a vontade das urnas;
2. Se o sistema judiciário não cumprir a lei e desrespeitar a jurisprudência, a decisão final poderia sair a qualquer momento. Neste caso, muito provavelmente antes de 15 de agosto, o TSE cometeria a barbaridade de informar antecipadamente que não aceitaria a inscrição da candidatura.
É principalmente nesta segunda possibilidade que se colocaria para o PT – nas palavras de Lula – discutir “todas as alternativas”.
Esta discussão seria uma, se Lula puder ao menos participar da campanha.
E seria outra, se Lula não puder nem mesmo participar da campanha.
No primeiro caso, é provável que fale mais alto o sonho Peron/Campora ou Vargas/Dutra/JK. Ou seja, o sonho de quem acredita que seria possível eleger Lula indiretamente, através da transferência de votos.
Entretanto, caso Lula seja impedido até mesmo de fazer campanha, é muito pouco provável que a esquerda e a centro-esquerda consigam vencer e/ou nem mesmo estar num segundo turno.
Pior: se a esquerda não tiver forças para estar num segundo turno, é possível que tenhamos um segundo turno entre direita e extrema-direita.
Muito pior: imagine-se um desfecho em que, para impedir a vitória da extrema direita, setores da esquerda decidissem apoiar, num eventual segundo turno, a candidatura da direita.
E pior que tudo: o novo presidente reclamaria a legitimidade que faltou a Temer, para aplicar um programa mais radicalmente neoliberal, antipopular e antinacional.
Evidentemente, tudo o que citamos anteriormente também poderia ocorrer nos cenários em que Lula fosse legal e formalmente candidato ou pelo menos pudesse participar da campanha. Mas é evidente que, na ausência de Lula como candidato ou apoiador, o mais provável é o pior dos mundos.
O que fazer neste hipotético cenário em que Lula fosse totalmente impedido de participar das eleições?
Há três grandes possibilidades:
1. Participar ainda assim da eleição;
2. Lançar uma “anticanditatura”;
3. Chamar o eleitorado a votar no Lula 13 para presidente, mesmo sabendo que isto seria contabilizado como voto nulo.
Em qualquer dessas possibilidades, o resultado da eleição já estaria pré-definido: seria a eleição de um presidente golpista.
Então, neste caso, a melhor tática a adotar nas eleições seria aquela que melhor nos posicionasse para fazer oposição ao governo de direita que, na hipótese que citamos acima, sairia da eleição.
Seja como for, portanto, neste caso, a melhor tática seria aquela que nos permitisse deslegitimar desde sempre o governo resultante de uma fraude eleitoral.
Falando em tese, tanto uma anticandidatura, quanto chamar o voto 13 poderiam ser táticas compatíveis com este objetivo de deslegitimar antecipadamente um futuro governo golpista.
Mas uma anticandidatura só teria este efeito se toda a esquerda e o campo democrático adotassem uma tática unitária, de apoio a esta anticandidatura.
Caso o contrário, a anticandidatura seria, na prática, apenas mais uma a disputar. E, sendo assim, o PT se veria, na prática, diante de duas variantes:
1. Participar do processo, mesmo correndo o risco de o legitimar;
2. Chamar o voto Lula 13.
Vale ressaltar que esta segunda alternativa não é um “boicote” às eleições, mas sim uma materialização da tese de que “eleição sem Lula é fraude”.
Vale ressaltar, também, que esta segunda alternativa poderia e deveria ser acompanhada de fortes campanhas petistas para os parlamentos estaduais e nacional, bem como para governos de estado.
Quais implicações positivas haveria, nesta situação extrema, em orientar o voto no “Lula 13 confirma”, mesmo sabendo que estes votos seriam considerados nulos?
Algumas destas implicações são citadas aqui: https://pagina13.org.br/plano-e-projeto-lula-e-as-eleicoes-2018/
A elas vale acrescentar o seguinte:
1. Orientando votar em “Lula 13 confirma”, teremos uma vacina contra quem, na direita ou na esquerda, trabalha para que o eleitorado que hoje apoia Lula seja conduzido para legitimar uma fraude;
2. Com esta orientação, prepararíamos melhor o Partido e a classe trabalhadora para o novo padrão da luta de classes, padrão inaugurado pelo golpe e que será predominante no próximo período.
* Valter Pomar é professor e militante do PT
Fonte: blog do autor
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