ANDES: Precisamos de mudanças estruturais em nosso Sindicato

Por Mariuza Guimarães (*) e Maria Caramez Carloto (**)

Texto publicado na edição 283 do jornal Página 13

Aconteceu em Manaus (AM), de 11 e 13 de julho, o 68˚ CONAD do ANDES-SN, que reuniu 71 delegados/as e cerca de 300 observadores/as e convidados/as. A grande expectativa em relação ao CONAD era a atualização do plano de lutas do ANDES-SN à luz das mudanças da conjuntura. Porém, a própria organização do CONAD restringiu a sua função e a conjuntura e a agenda de lutas dela decorrente foram pouco discutidas.

Justamente por isso, da pauta, além da posse da nova diretoria eleita em maio e da rotineira prestação de contas, o centro do CONAD foi a discussão sobre o seu modo de funcionamento que precisa ser repensado.

O Movimento Confluência Democrática, que se sagrou na última eleição como a segunda força político-sindical do ANDES, propôs um conjunto de mudanças organizativas no CONAD, incluindo limitar o CONAD a oito horas de trabalho diários para, justamente, qualificar debates tão importantes. A posição da diretoria do ANDES, de início, foi negar a possibilidade de qualquer mudança no modus operandi do CONAD, mas, por fim, a diretoria precisou aceitar um Seminário Urgente (ainda em 2025) para discutir o funcionamento do CONAD e de outras instâncias de deliberação do ANDES-SN, uma enorme vitória para todos os que defendem mudanças estruturais no ANDES-SN.

O diagnóstico é que, na prática, o CONAD tornou-se um minicongresso, realizado em três dias, nos três turnos, ou seja, das 9h às 22h, podendo ser estendido até 23h, o que, na prática, inviabiliza o debate qualificado. E, ainda assim, não conseguiu dar conta das demandas, inclusive porque, na sua pauta, havia temas dos 12 Grupos de Trabalho do ANDES, inclusive temas que não foram vencidos no 43º Congresso.

Além do debate organizativo, realizou-se uma discussão sobre a atualização da análise de conjuntura que tratou, em especial, da relação entre o sindicato e o governo. A principal divergência se deu quanto à posição do ANDES-SN em relação ao governo. Em um momento de significativo avanço das forças de direita e extrema-direita no Brasil e no mundo, um conjunto de forças defende disputar o governo ao passo que outros defendem que o governo de “conciliação” deve ser combatido e não cabe ao sindicato apoiar, tensionar ou disputar o governo. Como esta é uma pauta que não vai a voto, permanecem as diversas posições que representam as forças políticas que compõem o ANDES Sindicato Nacional.

Das discussões sobre a atualização do plano de lutas, destacam-se:

1.No plano de lutas do setor das estaduais ganharam destaque duas situações paradigmáticas: a luta da estadual de Minas Gerais (UEMG) contra a privatização e a luta da Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) contra um grupo de bolsonaristas que sequestrou o processo eleitoral do sindicato;

2.No plano de lutas das federais, o destaque foi a mobilização para garantir o cumprimento integral do acordo de greve e a luta contra atrelar o pagamento do auxílio transporte ao controle de frequência, comprometendo a dedicação exclusiva, a pesquisa e a extensão;

3.No plano geral de lutas, três destaques: a) fortalecer a luta em defesa do povo palestino, inclusive com um seminário internacional de solidariedade; b) se engajar no Plebiscito Popular pela taxação dos super-ricos; e c) participar do debate do Plano Nacional de Educação, que tramitará no segundo semestre, aprovado mesmo com a defesa enfática da diretoria do ANDES que era a favor de rejeitar o Plano como um todo ao invés de disputar a sua melhoria.

Diversas questões foram discutidas, mas as polêmicas em torno do próprio funcionamento do ANDES acabaram por se sobrepor tamanha a crise político sindical. Nesse contexto, continuamos em luta pela educação pública, gratuita, laica, socialmente referenciada, a despeito das divergências das forças políticas que compõem o sindicato.

(*) Mariuza Guimarães é dirigente da AE, ex-presidenta da ADUFMS Seção Sindical do ANDES.

(**) Maria Caramez Carloto é presidenta da ADUFABC.

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