Por Hilton Faria da Silva (*)
O Estado do Tocantins sofre influência do latifúndio desde antes de sua fundação. A concentração de terra, de riqueza e de poder deixou marcas históricas. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais que sempre foram a maioria da população foram reprimidos e manipulados pelas oligarquias rurais.
Quando o estado foi criado em 1988, a influência dos grandes fazendeiros se manteve, agora em conjunto com as grandes empresas do agronegócio. Até hoje todos os governadores foram eleitos baseados nessa aliança. Os grandes comerciantes e industriais do Estado ainda têm pequena influência na política estadual.
O coronelismo se repete na compra de votos que é comum em todas as eleições municipais ou estaduais. Ainda assim, a classe trabalhadora mostra sua resistência votando com independência para Presidente da República, pois desde 2002 todos os candidatos do PT foram vitoriosos no estado do Tocantins. A mudança que houve foi que enquanto os trabalhadores rurais votam em massa nos candidatos do PT a presidente, nas últimas três eleições os trabalhadores das grandes cidades se dividiram e isso tem garantido a vitória dos candidatos de direita nessas cidades.
Nas eleições municipais desse ano, vemos claramente a força da direita, pois têm a imensa maioria dos candidatos a prefeito/a e também a vereador/a.
O PT do Tocantins tem o menor número de candidatos a prefeito/a e vereadores/as desde a eleição do ano 2000. São apenas 15 candidatos a prefeito e 180 candidatos a vereador. Em 2020 tivemos mas de 20 candidatos a prefeito e mais de 400 candidatos a vereador.
Nas dez maiores cidades, só temos candidato e prefeito do PT em Tocantinópolis. A extrema direita tem candidatos nas dez e tem chance de vitória na capital com uma candidata que não esconde sua posição política, ao mesmo tempo que faz uma campanha de “esquerda” denunciando as desigualdades sociais de Palmas. Lula não tem nenhum candidato que sequer cite seu nome nessas dez cidades, com exceção de Alaor em Tocantinópolis. O companheiro Zé Salomão é candidato do PT à reeleição em Dianópolis que é a 12ª cidade em eleitorado.
Ao mesmo tempo, a direita conseguiu filiar petistas que agora são candidatos, pois em muitas cidades não há mais chapa do PT. Houve um processo de desistência de candidaturas praticado pelo Diretório Estadual desde 2023, quando o presidente estadual percorreu os municípios dizendo que não deveria haver candidatos sem viabilidade eleitoral e que o Diretório Estadual não iria bancar as despesas dessas campanhas. Esqueceram das lições da história. Primeiro: o PT sempre cresceu participando de todo tipo de eleições, sindicatos, associações, conselhos, movimento estudantil, municipais, estaduais e nacionais; segundo: não existe previsão de vitória se não houver participação na disputa; terceiro: como projetar novas lideranças sem participar de todo tipo de eleição, mobilização e luta?; quarto: de onde sairão nossos candidatos nas eleições do futuro?
O resultado é que a direita está criando novas lideranças e se fortalecendo. E nós, do PT?
O PT vence eleições quando há mobilização e organização popular. Um exemplo foi a eleição do Lula em 2022 quando milhões de pessoas foram para as ruas e se mobilizaram para garantir essa vitória. Quando existe um aumento de greves, ocupações e mobilizações populares o PT também cresce.
O problema é que esse processo de discussão, avaliação e organização não é mais feita na maioria dos diretórios municipais e nem no Estadual do PT, pois não há reuniões regulares e o Diretório Estadual não faz reuniões há dois anos.
Sem discussão da linha política, sem mobilização, sem organização e sem trabalho cotidiano no meio da classe trabalhadora, sem articulação com as organizações de trabalhadores e trabalhadoras não existe crescimento da organização da classe e portanto não há crescimento do PT.
Quem não é visto não é lembrado.
(*) Hilton Faria da Silva é secretário de Formação do PT – Tocantins