Por Francisco Fernandes Ladeira (*)
Nas atuais eleições municipais, o Partido da Causa Operária (PCO) não elegeu ninguém, tampouco influenciou o debate público, porém nos ofereceu exemplos curiosos (e até engraçados) de candidaturas a prefeitos e vereadores.
Durante a campanha, os militantes do partido, com a habitual megalomania, bradavam que o PCO, entre a extrema esquerda, era a organização que mais apresentou candidatos, que mais cresceu em número de filiados, com os maiores índices de intenção de votos, com a melhor comunicação etc.
No mundo real, com o fracasso nas urnas – como era esperado, diga -se de passagem – , vieram as mais variadas desculpas. O PCO é perseguido pelo judiciário burguês, pela grande mídia, pela imprensa alternativa, pelo imperialismo e pela própria esquerda. Haja mania de perseguição.
O caso mais emblemático de postulante a vereador ou prefeito no PCO é o que tem a candidatura indeferida, como ocorreu em Campinas, Recife e Aracaju, entre outros municípios.
Não se trata de defender aqui o processo burocrático para o registro de um candidato. No entanto, espera-se que todo partido que participe das eleições conheça as regras do jogo. É o básico. Mas não o caso do PCO (pelo menos é o que parece).
Assim, nos últimos meses, não foi raro lermos notícias sobre candidaturas indeferidas do partido. Evidentemente, isso foi usado como argumento para a tese de partido perseguido.
Em Campo Grande, a chapa do PCO foi indeferida porque o candidato a vice-prefeito da legenda, Thiago Assad, tinha irregularidades na prestação de contas. Sobre o fato, o cabeça da chapa, Jorge Batista, deu uma curiosa declaração ao portal Campo Grande News: “Nem queria esse vice, o partido que escolheu, está um rolo danado”.
Também há as candidaturas que sumiram durante a campanha.
Segundo informações do site 7 segundos, a candidata à prefeitura de Maceió, Nina Tenório, se manteve ausente das atividades de campanha. Até o dia 23 de setembro, não realizou nenhum comício, caminhada ou carreata, e seu perfil de Instagram permaneceu fechado para novos usuários. O motivo: foi proibida de fazer campanha por ordem da mãe e da avó (a primeira, inclusive, identificada com o conservadorismo bolsonarista).
Do mesmo modo, conforme informou o site O Fator, a candidata a vice-prefeita em Belo Horizonte, Marília Garcia, não foi à capital mineira até meados de setembro. Optou por ficar em São Paulo, onde nasceu e mora, para “ajudar a arrecadar recursos”.
Além das candidatas que sumiram durante a campanha, também há o candidato que sumiu no dia da eleição. Silvano Alves, candidato a prefeito de Salvador, ficou em São Paulo no último 6 de outubro e não recebeu o próprio voto. “Achei mais fácil justificar”, alegou o candidato que disse não estar na capital baiana há um bom tempo.
Com tantas candidaturas inusitadas, não poderiam faltar propostas esdrúxulas. Em sabatina promovida pela Rede TV!, o candidato a prefeito de São Paulo, o nepo baby João Pimenta, afirmou que, se eleito, faria possível e o impossível para dar ao jornalista Glenn Greenwald (atual ídolo dos bolsonaristas) o título de cidadão honorário da cidade de São Paulo pelo serviço que ele está fazendo pelas liberdades democráticas.
Para o próximo pleito, o PCO anunciou que terá candidato à presidência da República. Será que vai debater com Pablo Marçal? Dificilmente o partido elegerá alguém. Mas, como dito no início deste artigo, certamente vai protagonizar situações hilárias. Eventuais críticas serão perseguições do judiciário burguês, da grande mídia, da imprensa alternativa, do imperialismo e da própria esquerda. Enfim, o mundo persegue o PCO.
(*) Francisco Fernandes Ladeira é doutor em Geografia pela Unicamp e especialista em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu