Por AE Mato Grosso
A análise do desempenho do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais de 2024 em Mato Grosso tem como ponto de partida o cenário político que revela um quadro complexo e desafiador, caracterizado por uma série de fatores políticos, sociais e regionais que configuram a trajetória do partido e, sobretudo, do acirramento da luta de classes no contexto de ofensiva da ultra direita no âmbito institucional, resultante do seu espraiamento social que no último período ganhou força pelo viés golpista, haja visto as diversas tentativas de dilaceramento da democracia e de destruição dos direitos sociais pós-golpe de 2016.
Observa-se que no cenário eleitoral dos municípios brasileiros, o PT contabilizou apenas 252 municípios em todo o Brasil, ocupando a posição oitava em uma conjuntura de hegemonia de partidos como o PSD e o MDB, que conquistaram, respectivamente, 891 e 864 prefeituras, conforme o mapa nacional de eleitos por partido: PSD – 891; MDB – 864; PP – 752; União Brasil – 591; PL – 517; Republicanos – 440; PSB – 312; PSDB: 276; PT – 252; Outros partidos: 674 (TSE, 2024).
Em se tratando do contexto regional do Centro-Oeste, a situação é ainda mais crítica em se tratando do resultado eleitoral, o PT conseguiu eleger apenas três prefeituras, em contraste com a União Brasil, que elegeu 155, cenário político-eleitoral esse que aponta para a dificuldade do partido na região, seja pelos fatores do processo de formação sócio-histórico da região, bem como da própria configuração da direita política no contexto regional e as estratégias de violência política e de tentativas de aniquilamento das organizações de trabalhadores na região, associado a isso, no contexto recente, a região foi protagonista em diversas movimentações de apoio à ultradireita como foi a organização dos atos golpistas de 8 de janeiro.
Historicamente, o PT já teve momentos mais promissores em Mato Grosso, como nas eleições de 2004 e 2012, em que os seus candidatos chegaram a obter votações significativas, embora tenha enfrentado candidatos em outro cenário com a direita à época de outras siglas que não a do PL, em 2004 contra a candidatura do PSDB (Wilson Santos) e em 2012 contra o PSB (Mauro Mendes), assim, no cenário atual, embora a disputa eleitoral em que levou Lúdio Cabral na capital, tenha representado uma vitória simbólica ao chegar ao segundo turno, ilustra as dificuldades do partido em desbancar o antipetismo que permeia a política local. A votação de 28,31% no primeiro turno, comparada aos 39,61% de Abílio, mostra uma clara perda de apoio, refletindo um eleitorado dividido e uma estratégia que precisa ser reavaliada.
Em se tratando das últimas disputas eleitorais em que o PT esteve no segundo turno, temos os seguintes resultados:
2004: Alexandre César (PT) – 47,19%; Wilson Santos (PSDB) – 52, 85%
2012: Lúdio (PT) – 45,39%; Mauro Mendes (PSB) – 54,65%
2024: Resultado do primeiro turno: Abílio – 39,61% – 126.944 votos; Lúdio – 28,31% – 90.719 votos; Botelho – 27,77% – 88.977 votos.
Resultado do segundo turno: Lúdio (PT) – 46,20%; Abílio (PL) – 53,80%
Analisando o histórico das eleições em Cuiabá, nota-se uma tendência de queda nas votações do PT ao longo dos anos. Em 2004, o candidato Alexandre César obteve 47,19% dos votos, mas em 2024, Lúdio, representando o PT, conseguiu apenas 28,31% no primeiro turno, em comparação com 39,61% do candidato Abílio (PL). Este retrocesso reflete não apenas uma perda de apoio popular, mas também uma ausência de uma estratégia eficaz de comunicação e de engajamento com o eleitorado.
Cabe aqui, um breve balanço acerca de erros graves, que ao nosso ver, são armadilhas que em outrora também as candidaturas do PT foram vítimas, como por exemplo, as pautas da dita “moral e bons costumes”. Um dado momento, sobretudo do segundo turno, a candidatura da ultra direita, jogou a isca, afirmando que o PT implantaria uma “ditadura de gênero”, e que seria favorável ao aborto, dentre outras pautas, que, em primeiro lugar, não é de ordem do município legislar, algumas delas, já previstas, inclusive na constituição ou em leis já firmadas pela União, e que lamentavelmente, a isca foi mordida e a candidatura do PT demorou em responder, e quando respondido, caminhou para um viés conservador, que mais corroborou para a perda de votos, do que para ganho em um momento que os resultados apontavam para uma ascensão da candidatura petista.
Abaixo temos o resultado eleitoral por região da capital, com o final da apuração do segundo turno em Cuiabá:
Região Oeste: Abílio – 59%; Lúdio – 40%
Leste: Abílio – 54%; Lúdio – 46%
Sul: Abílio – 49%; Lúdio – 48%
Norte: Abílio – 52%; Lúdio – 48%
Fonte: TSE.
Nota-se que em se tratando do desempenho nas regiões de Cuiabá, após a apuração do segundo turno, foi que perdemos em todas as regiões, inclusive aquelas que tradicionalmente o PT tem desempenhos melhores e até já vencemos em outras ocasiões, como são as regiões sul e norte da capital. É preciso observar dois movimentos – 1°: a ofensiva da ultradireita nessas regiões, inclusive denotando a tímida capilaridade política da esquerda nessas regiões, podendo ser levado em consideração ainda o fator de apoio de grande parte de setores evangélicos, setor esse que tem se espraiado nos mais diversos bairros e rincões da capital do estado de Mato Grosso e 2°: o impacto da velha política que por hora, se apresenta como “novidade”, o que é uma verdadeira falácia, uma vez que o mesmo programa político, as mesmas práticas se perpetuam na posição que saiu vitoriosa após o resultado do segundo turno das eleições em Cuiabá.
Outro fato curioso e que cabe destaque, foi que, o 1º turno das eleições para prefeito e vereadores em Cuiabá, teve 102.186 abstenções, o número representa 22,95% do total do eleitorado apto a votar na capital (445.070). E no segundo turno, o número foi mais de 114 mil pessoas em abstenção, que chegou a 25,73%, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O que significa que, uma parcela significativa está alheia ou apática às disputas eleitorais e até mesmo à participação política, ainda limitada à via eleitoral.
Por sua vez, em se tratando da câmara municipal de Cuiabá-MT, temos o cenário de Partidos que elegeram Vereadores/as em Cuiabá, que foram: PL; REPUBLICANOS; PV; União Brasil; PSB; PSDB; MDB; CIDADANIA; PODEMOS; SOLIDARIEDADE; PP; PSD e PMB. Temos ainda o mapa de desempenho do PT para vereadores que foi: Prof. Robinson Cireia – 2.281; Leo Rondon – 1.970; Rose Barranco – 1.585; Edna Sampaio 3 pretas Day e Neusa – 1.488; Professor Reginaldo Araujo – 1.409; Julier – 1.087; João Custódio – 1.061; Emídio de Souza Acdham – 506; Professora Enelinda Scala – 299; Rosileni Soares – 271 e Fanize Albuês – 263, somando o total de votos: 12.220.
Observa-se que no cenário da Federação PT-PC-do B e PV, mais uma vez o partido carrega o ônus da federação, obtendo na somatória, um maior número de votos, contribuindo apenas para a eleição de vereadores do PV, partido que obteve um desempenho menor, na somatória total de votos, mas que concentrou a maioria de votos nos três vereadores eleitos pelo partido.
Temos assim, o balanço em que, um dos principais desafios enfrentados pelo PT em Mato Grosso é a prevalência do antipetismo, que se manifesta em narrativas profundamente enraizadas que associam o partido à corrupção e à ineficácia, assim como articula programaticamente à valores conservadores para ganho eleitoral da direita política. Esse conjunto de estigmatização, promovida pela elite política e econômica local, tem raízes históricas e se intensificou nos últimos anos, e por outro lado, o PT, que deveria ser uma voz para os trabalhadores e uma alternativa ao coronelismo agrário, não consegue se movimentar com a capilaridade para desmantelar a narrativa negativa que o cerca.
No cenário dos municípios de Mato Grosso, em menor ou maior grau seguiu a mesma risca, o PT elegeu cerca de 20 vereadores e nenhuma prefeitura ou vice-prefeitura, que desde, pelo menos duas legislaturas que o partido não consegue avançar para protagonizar novamente as gestões municipais, em grande medida, isso se dá pela linha política que o campo majoritário do PT direciona a maioria desses municípios e por outro lado, a grande ofensiva da ultra-direita nessas regiões de Mato Grosso.
A análise do processo eleitoral também evidencia uma mudança paradigmática na política local, com a direita se apropriando de temas sociais e por outro lado, a esquerda não consegue ganhar força, ainda que dirigindo o poder central no Brasil, não impulsiona o tema dos programas sociais e outras pautas estruturais e articulada às dos trabalhadores/as. Em suma, o desempenho do PT nas eleições de 2024 em Mato Grosso é um reflexo das dificuldades que a esquerda enfrenta em um cenário político adverso, marcado por uma forte polarização e um antipetismo arraigado.
Diante desse cenário, cabe às reflexões sobre o futuro do PT e da esquerda na capital e nos municípios do estado de Mato Grosso. Diante dessa conjuntura desafiadora o que nos cabe, é muito trabalho de base e luta política e mobilizações populares em defesa dos/as trabalhadores/as!