Celebrar a militância, refletir sobre a democracia interna e renovar o PT

Precisamos lembrar que o PT nasceu no chão das fábricas, nos campos, nas comunidades e nos movimentos sociais

Por Romênio Pereira (*)

Texto publicado na edição 283 jornal Página 13

O Processo de Eleições Diretas (PED) de 2025 foi mais uma demonstração da robustez e vitalidade democrática do nosso Partido dos Trabalhadores. Com um número expressivo de militantes participando da escolha de nossa nova direção, o PED cumpriu seu papel não apenas como um mecanismo interno de decisão, mas como um símbolo da força política e organizativa do PT, que segue sendo um dos maiores partidos de massas do mundo.

Essa expressiva participação dos filiados é motivo de celebração, pois comprova que, em um momento de grandes desafios para a política e para a democracia no Brasil, o PT mantém sua base ativa e mobilizada. Cada voto depositado e cada debate travado neste processo demonstram que o Partido segue sendo uma referência para aqueles que lutam por igualdade, justiça social e um Brasil mais democrático. No entanto, além da justa comemoração, é importante também aproveitarmos este momento para refletir sobre os caminhos que estamos trilhando como partido e sobre as melhorias que precisamos fazer para seguirmos à altura de nossa história e de nossa militância.

O PED 2025 representou, sem dúvidas, uma grande oportunidade para a militância conhecer melhor as ideias, posições e propostas de cada candidatura. Os debates promovidos ao longo do processo foram espaços ricos de troca, permitindo que os filiados enxergassem com mais clareza os diferentes projetos para o Partido e também os desafios vindouros. Essa pluralidade de ideias é uma das maiores riquezas do PT, um partido que nasceu como convergência de vozes diversas em torno de um único objetivo: transformar a sociedade e construir um Brasil mais justo e inclusivo.

Mas é importante reconhecermos que ainda há muito o que aprimorar. Embora o PT seja um exemplo de democracia partidária no cenário político brasileiro e até mundial, precisamos assumir o compromisso de tornar a disputa interna mais igualitária e justa. É preocupante constatar que, em alguns casos, há condições extremamente desiguais entre as candidaturas, onde certos setores têm acesso a mais estrutura, visibilidade e recursos, enquanto outros enfrentam enormes dificuldades para apresentarem suas ideias e disputarem em pé de igualdade. Não podemos permitir que essas disparidades comprometam o caráter democrático do PED e, principalmente, a confiança que a militância deposita no processo.

Combater as desigualdades internas na disputa e evitar o aparvalhamento institucional do Partido é fundamental para consolidar um PT que seja referência de pluralidade e participação efetiva. Precisamos lembrar que o PT nasceu no chão das fábricas, nos campos, nas comunidades e nos movimentos sociais, não como um aparato burocrático, mas como um instrumento de luta popular. Essa essência não pode se perder. O pragmatismo, que é importante para enfrentar os grandes desafios da política, não pode nos levar a esquecer os nossos ideais fundadores, que se baseiam na construção coletiva e na politização da sociedade.

Nesse sentido, o PED nos sinaliza a necessidade de fortalecer a democracia interna em todos os aspectos. É preciso investir em debates ainda mais amplos e acessíveis, garantir equilíbrio nas disputas internas e aprofundar a participação dos filiados e filiadas não apenas em momentos eleitorais, mas em todas as instâncias de decisão do Partido. Esse movimento é essencial para assegurar que continuemos sendo, de fato, o partido da classe trabalhadora e dos movimentos populares.

Por outro lado, é preciso reconhecer que, nos últimos anos, o PT enfrentou processos de institucionalização que, embora naturais e em certa medida inevitáveis, não podem nos afastar das ruas e dos movimentos sociais. Nossa presença em governos e instituições é uma conquista estratégica, mas não podemos nos acomodar ou permitir que as lógicas institucionais ditem o rumo do partido. O PT deve sempre se guiar pelos princípios da política com P maiúsculo, aquela que transforma realidades e empodera o povo, e não pelo simples jogo de poder interno ou externo. Para isso, é necessário fortalecer nossa base militante e manter vivo o espírito de luta e organização que deu origem ao Partido.

Saudar a realização do PED 2025 é também reconhecer que ele foi um importante exercício de reafirmação da pluralidade do PT, mas que essa pluralidade precisa se traduzir em processos mais equilibrados, onde cada candidatura tenha condições de disputar em pé de igualdade. Esse é um desafio que devemos enfrentar com maturidade e coragem, sempre colocando os princípios do Partido acima de qualquer lógica de manutenção de poder.

Por fim, quero agradecer de coração a todos os filiados e filiadas que participaram deste PED, votando, debatendo e construindo coletivamente os rumos do PT. Cada militante é peça fundamental nesse grande projeto político que não é apenas de um partido, mas de um Brasil mais justo e solidário. O PED 2025 nos mostrou que temos muito a comemorar, mas também a corrigir e avançar. Que possamos seguir juntos, unindo celebração e reflexão, na construção de um PT cada vez mais forte, democrático e comprometido com a transformação social.

(*) Romênio Pereira foi candidato a presidente nacional do PT no PED 2025 e secretário de Relações Internacionais de 2017 a 2025.

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