Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia da encruza antirracismo, antissionismo e anti- imperialismo
Como intervenção política, o 20 de Novembro pode gerar um processo de organização e de luta representativo espelhado na soberania negro- popular e dirigido por meio de participação, que convulsione outra base na sociedade para reverter as ações políticas racistas no Brasil e na Faixa de Gaza.
20 de Novembro nas ruas e contra o racismo
No limite do Brasil, o 20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, é o ápice da luta contra o racismo e principalmente contra o genocídio de jovens negros. Conforme nos revelam as chacinas e o número assustador de mortes de negros por ano no país, outro foco homólogo de luta, correlacionado ao desmonte do sistema prisional medieval e racializado, é a luta contra as ações do esquadrão da morte.
De acordo com o histórico de luta dos movimentos negros brasileiros contra o apartheid na África do Sul, ação que contribuiu com o fim do regime racista, o 20 de Novembro é artefato de luta contra o racismo no Brasil, dimensão interna, o é também, no contexto geopolítico global, contra o sionismo e a política de limpeza étnica na Faixa de Gaza. Os atos do 20 de Novembro devem cerrar as forças políticas contra a atuação do Estado colonizador e racista de Israel.
A questão nuclear, tarefa do movimento negro antirracismo, passa pela compreensão do papel simbiótico do imperialismo e do sionismo no plano geopolítico global e local. No Oeste da Ásia, o chamado Oriente Médio, as ações bélicas e opressoras do imperialismo e do sionismo são indissociáveis. A limpeza étnica e a segregação histórica da população palestina visa ao projeto de manutenção de privilégio coloniais e racistas, no saque-roubo de recursos energéticos, minerais e territoriais, a serviço dos EUA.
No contexto conjuntural brasileiro, as relações são articuladas pelos bolsonaristas racistas e fascistas, por quadros diversos da extrema direita financeira, jurídica e militar , pelos defensores das políticas neoliberais, pelas cúpulas evangélicas e suas bases alienadas e manipuladas pelas igrejas e pastores do dinheiro e, não por fim , mas para garantir a visão totalitária, pelo PIBRG, que repete copiosamente as notícias fabuladas pelas agências controladas pelo imperialismo e sionismo.
Sionismo e imperialismo no centro das opressões mundiais
Nossa hipótese tem a seguinte formulação básica, imperialismo e sionismo são expressões políticas opressoras de espectro global. O povo palestino e a população do chamado Oriente Médio correm riscos. No entanto, sem limites, a parelha indissociável sionismo e imperialismo controlam, com a violência armada, o sistema-mundo.
Pensamento único ou totalitário como objeto de consumo
O pensamento único, produção do imperialismo e sionismo, é objeto de consumo. Há, assim, a soma de dois totalitarismo, o de pensamento único e do consumo desse produto e/ou objeto.
Na base material existem ações conjuntas e coordenadas de violência do sionismo e do imperialismo e, na realidade sistêmica, há a violência do pensamento único e do seu consumo como verdade impostada ou imposta pelo domínio dos sistemas de comunicação e informacionais. Desse modo ou a partir dessa realidade, podemos entender a atuação do PIBRG.
As notícias veiculadas pelo PIBRG não falam da segregação de palestinos, do conteúdo colonial, racista e bélico do Estado de Israel.
No território brasileiro, o Partido da Imprensa Branca , Racista e Golpista, o PIBRG, é um dos braços da opressão que sustenta, com os sistemas policiais e jurídicos, as políticas racistas de extermínio de jovens negros . O PIBRG , além de atuar midiaticamente na naturalização do racismo é, numa comunhão perversa com a burguesia branca brasileira, contra a soberania nacional. O PIBRG defende, de modo descarado e vergonhoso, as formulações econômicas e geopolíticas que galvanizam unicamente os privilégios estadunidenses assegurados por guerras, golpes de Estado, sanções criminosas e imposição monetária do dólar, que é a moeda despótica do império.
Contra o racismo e a violência policial
Considerando a conjuntura nacional e a mundial, a luta contra o racismo exige mudanças estruturais no Brasil e no mundo . No caso brasileiro, a crise política e institucional , derivada do modo como se deu o fim do trabalho escravizado em 1888, foi reafirmada após a chamada abolição. No regime ditatorial militar de 1964, a atualização do racismo foi responsável pelo advento da mão branca, que iconizou, com a ação das forças armadas , sistema policial e a chancela da imprensa, o esquadrão da morte. A resposta dos movimentos negros resultou na criação , em 1978, do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, que denunciou e lutou contra a violência policial e esquadrão da morte. Os golpes são sucessivos no Brasil. O golpe de 2016 aponta como tarefa para os movimentos negros intervenções transformadoras do país. A mobilização do 20 de Novembro de 2023 é um meio para ativar a luta política e fertilizar o envolvimento organizado do campo negro-popular nas reformas revogatórias as reformas revogatórias das privatizações, da CLT, do teto de gastos, da ficha limpa, da previdência e de mobilização permanente contra as políticas de extermínio e/ou do esquadrão da morte em ação no Brasil. As mudanças no sistema prisional são outro foco inadiável da luta contra o racismo.
Considerando as desigualdades estruturais, a violência policial e o sistema prisional , qual política é eficaz para a superação do racismo? A crise política no Brasil , de ordem estrutural e sistêmica, sustentadora das desigualdades raciais e sociais, não pode ser superada através dos instrumentos ou instâncias jurídicas e do Estado burguês. Os atos do 20 de Novembro de 2023, instrumento para atualizar a luta contra o racismo, precisam e devem enunciar uma pauta negro- popular derivada de unidade convulsionada pelas ruas e congressos. Como intervenção política, o 20 de Novembro pode gerar um processo de organização e de luta representativo espelhado na soberania negro- popular e dirigido por meio de participação, que convulsione outra base na sociedade para reverter as ações políticas racistas no Brasil e na Faixa de Gaza.
(*) Fausto Antonio – Escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab – Bahia