Tendência mantém dois membros na CEE
Por Adilson Santos, Mariuza Guimarães e Walter Queiroz (*)
Texto publicado na edição 283 jornal Página 13
Consolidados os dados de apuração do PED 2025 em todas as esferas, pode-se, claro, tirar-se várias análises a depender da conveniência. Em nosso caso, tratando-se especificamente da análise do processo eleitoral em Mato Grosso do Sul (MS), vamos nos valer da metodologia do realismo esperançoso de Ariano Suassuna.
De partida, o número que salta é o aumento do comparecimento. No dia da votação, pelo menos em listas e documentos, compareceram para votar 8.127 (oito mil cento e vinte e sete) pessoas, número 41,24% maior do que o registrado no PED 2019, seja ele 5.754 (cinco mil setecentos e cinquenta e quatro) pessoas. Considerando que o aumento de filiados aptos a votar foi de apenas 4.443 (quatro mil quatrocentos e quarenta e três) filiados aptos — de 48.446 (quarenta e oito mil quatrocentos e quarenta e seis) para 52.889 (cinquenta e dois mil oitocentos e oitenta e nove) petistas aptos, o que equivale a um aumento de 9,17% —, percebe-se aqui um tímido aumento no percentual de comparecimento da ordem de 3,49%.
A média de comparecimento às urnas neste ano foi de 15,37%, mas com destaque especial para os seguintes municípios onde o comparecimento foi notável:
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Infelizmente, destes oito municípios com maior comparecimento no estado, ganhamos apenas um deles. Sobre estes municípios, recorremos
à Comissão Executiva Estadual (CEE/MS) para que pudéssemos entender melhor a prática local para que esta fosse replicada nos demais municípios durante os próximos PEDs. Infelizmente, tivemos nosso pleito indeferido, assim como todos os outros quatro recursos específicos em que pedimos informações específicas ou apontamos incongruências durante a votação.
Trazendo a análise para o contexto da articulação política local, participaram do PED 2019 cinco chapas (411 DS, 420 AE, 450 MPT, 480 CNB e 499 PT da Base). Neste ano, o processo de construção para as eleições internas contou com a investida permanente de lideranças da Resistência Socialista (RS) e da CNB (Construindo um Novo Brasil) para que se formasse uma unidade em torno do nome do deputado federal Vander Loubet e de uma chapa única para o diretório estadual.
A base da Articulação de Esquerda (AE) decidiu em processo congressual por manter candidatura e chapa para a eleição. Durante esse processo, perdemos alguns quadros mobilizadores que se aliaram à construção da pretensa unidade. É o caso de Ponta Porã, onde tivemos uma dissidência em nossa base que nos custou 299 (duzentos e noventa e nove) votos. Também é importante registrar que, nos cinco anos entre as eleições, deixou a AE o deputado estadual Pedro Kemp e quadros próximos a seu mandato, mas mantivemos o mandato do vereador Elias Ishy e ganhamos o mandato da deputada Gleice Jane, ambos de Dourados.
A matemática do PED em MS nos mostra duas coisas de imediato. Apesar das baixas que se somaram no percurso, a Articulação de Esquerda manteve seu tamanho, mesmo disputando contra um adversário unificado. Afinal, entraram na cantilena da pretensa unidade na majoritária todas as demais tendências (Avante, CNB, DS, RS, MPT), exceto parte do MPT, que se lançou como chapa independente (430). Em números absolutos, nossa votação na chapa varia 11,5%. Acrescentamos 147 (cento e quarenta e sete) votos em relação ao PED 2019, saindo de 1.275 (mil duzentos e setenta e cinco) para 1.422 (mil quatrocentos e vinte e dois) votos. Em termos percentuais em relação aos votos válidos, decrescemos 3,59%, caindo de 23,77% em 2019 para 20,18% dos votos válidos. Ou seja, crescemos, mas não tanto quanto precisávamos. Compensamos as perdas, não conseguimos imprimir o crescimento necessário para impor um crescimento real em nossa representação no Diretório Regional (DRPT/MS) ou na Comissão Executiva Estadual (CEE/MS). Mantivemos nossos dois membros na CEE/MS.
Grande vencedor
É certo que o condomínio (chapa da unidade) cresceu exatos 9%, mas o destaque de crescimento nesse PED é disparado o número de votos brancos, que salta de 273 (duzentos e setenta e três) em 2019 para 916 (novecentos e dezesseis) em 2025. Crescimento de 235,5%, enquanto a participação líquida em votos válidos diminuiu 7%. Ou seja, mais pessoas compareceram, votaram e talvez sem entender a dinâmica partidária ou a importância das chapas votaram somente para os presidentes.
Cada caso é um caso
Em 2019, vencemos em nove municípios (Amambaí, Mundo Novo, Ponta Porã, Nova Alvorada do Sul, Terenos, Dourados, Itaquiraí, Nova Andradina e Três Lagoas). Já em 2025, a Esperança Vermelha venceu em apenas sete (Batayporã, Mundo Novo, Dourados, Vicentina, Eldorado, Paraíso das Águas e Três Lagoas) das 64 (sessenta e quatro) cidades onde houve o pleito.
Para este período, perdemos espaço em municípios onde a AE tinha presença histórica, é o caso de Ponta Porã (de 71% para 9,2%) e de Terenos (de 97% para 10,5%). O primeiro já explicado anteriormente, e o segundo em razão de não ter havido disputa municipal e nossos quadros que ficaram fora da composição local terem optado por não comparecer.
Novas e velhas consolidações
Reafirmamos nossa presença nos municípios de Mundo Novo e Dourados, com crescimento de 6% e 3,6% respectivamente, e estreamos vitória nos municípios de Batayporã (62%), Corumbá (49%) e Vicentina (100%). Em todos os casos, fruto da construção local, de quadros orgânicos da AE, cada um em uma situação diferente. Batayporã em uma disputa entre chapas, sendo uma das chapas pura, a Esperança Vermelha. Corumbá, com membros da AE em aliança com ambas as chapas, e, em Vicentina, com chapa única da Esperança Vermelha.
Isto posto, fica manifesta a necessidade de fortalecermos a presença da Articulação de Esquerda em construções locais. Estabelecer um calendário permanente de participação no Partido e na tendência dos membros da chapa que estiveram nos municípios em que a chapa 420 fez entre 10% e 35% (Aquidauana, Maracaju, Miranda, Nova Andradina, Selvíria e Sidrolândia), convidando-os para as atividades partidárias e para os debates.
Estabelecer um calendário permanente de visitas e formação para os acompanhamentos dos novos municípios (Batayporã, Corumbá e Vicentina) em que a relação local com a direção estadual da tendência está em processo de consolidação, preparando o processo para a eleição de direções municipais nestas localidades.
O PED 2025 possibilitou que as tendências de esquerda do PT em MS demonstrassem que existe ainda uma significativa audiência aos posicionamentos mais à esquerda na base do Partido em nosso estado ao conquistar mais de 20% dos votos sem ter o peso da máquina institucional de mandatos que se unificaram no entorno da chapa de unidade (sejam eles 2 deputados federais, dois deputados estaduais, maioria absoluta de vereadores e quadros superiores da administração pública federal no estado, além de quadros ocupados no governo estadual de direita (PSDB) e em prefeituras, das quais nenhuma do PT.
Alcançar mais de 20% dos votos para a esquerda petista apenas com a base na militância, apresentando uma posição crítica à atual direção majoritária do PT, que se manteve no mesmo rumo adotado nos últimos tempos, estabelecendo um tom mais moderado, ocupando espaços institucionais nas esferas de governo, limitado à institucionalidade como forma de viabilização de políticas públicas, porém, com baixa relação com os movimentos sociais, com sindicatos e com as lutas populares.
Isso tem se demonstrado insuficiente para que o PT sustente o crescimento que vinha ocorrendo entre os anos 1990 e a primeira década do atual século, quando conquistamos prefeituras, estabelecemos um crescimento nos espaços de vereança, governo do estado, parlamento estadual e federal e uma vaga no Senado, além, também, de ter muito mais relevância na opinião pública estadual
(*) Adilson Santos, Mariuza Guimarães e Walter Queiroz são dirigentes estaduais da Articulação de Esquerda no MS