Por Janeslei Albuquerque*
O golpe de 2016, mais do que encerrar um período de conquistas para a maioria do povo brasileiro, com as políticas de inclusão social, de promoção de direitos e valorização do trabalho, encerra também mais um curto período de democracia, do ponto de vista da história brasileira.
As batalhas que travamos até o seu desfecho, especialmente a partir das eleições de 2014, nos informam hoje sobre uma nova dinâmica das forças de direita, socialmente organizadas e com muita unidade programática numa aliança economicamente liberal e politicamente conservadora. Mas informam também sobre uma nova dinâmica das forças de esquerda, articuladas unitariamente na crítica ao projeto neoliberal e na defesa da democracia como conquista da classe trabalhadora.
A Frente Brasil Popular é uma das expressões mais concretas dessa dinâmica da esquerda que foi capaz de impor resistência real à locomotiva do golpe, além de simbolizar um espaço de ampla unidade da esquerda frente a uma conjuntura que busca aniquilar nossas conquistas e organizações. Só por isso ela já deve ser saudada e essa unidade, cada vez mais, cultivada. Contudo, novos desafios se impõem à Frente e o sucesso no seu enfrentamento será definidor do seu futuro.
O primeiro desafio diz respeito à construção de um plano de lutas unitário e efetivo, de resistência às iniciativas do golpe, mas também que projetem as transformações que retomem o rumo da inclusão e da soberania e superem os erros e limites que permitiram o golpe. Nesse contexto, a Frente e o conjunto das organizações estão permanentemente desafiadas a inovar nas suas formas de luta e organização, de modo a construir cada vez mais uma mobilização dialógica e pedagógica capaz de significar resistência, mas também organizar o futuro.
Um segundo desafio, para uma Frente que tem como sua protagonista a luta social, diz respeito a uma organização efetiva desde a base. As experiências de luta contra o golpe e das lutas que travamos no primeiro semestre e nos levaram a uma das maiores greves gerais da história ensinam que a unidade se faz a quente, diante da luta concreta. Não apenas em torno das lutas gerais, como aquelas que viemos travando contra as reformas neoliberais, mas também em torno dos seus desdobramentos locais mais perversos, como o desmonte de políticas e serviços públicos vitais para o povo. Por isso a dinâmica de comitês territoriais e setoriais deve ser renovada com base na nossa agenda de lutas e na educação popular em torno dela.
Um terceiro desafio para o qual a Frente, por sua configuração e diversidade, se constitui como oportunidade é o da produção de sínteses da esquerda que apontem para a retomada e o aprofundamento da democracia e para as reformas estruturais em favor do povo brasileiro. A Frente Brasil Popular tem o protagonismo do movimento social e sindical, mas não prescinde ou desconsidera o papel das organizações partidárias, ao contrário exige cada vez mais sua presença, engajamento e a renovação do seu compromisso com as lutas sociais e populares.
Diante dessa formidável diversidade é fundamental deixar nítido os parâmetros e objetivos desse trabalho de síntese programática e não sobrepor o papel e as iniciativas de cada organização, especialmente os partidos. O trabalho é o de convergir e refletir a partir do acúmulo das organizações, a exemplo das plataformas e resoluções produzidas pela CUT; dos programas partidários e iniciativas em curso com vista aos programas eleitorais de 2018; da contribuição da intelectualidade orgânica e progressista; e do acúmulo da própria Frente, manifesto no Plano Popular de Emergência. A Frente poderia assim se propor a atualizar as bases da nossa unidade, de uma agenda comum de resistência a um programa democrático e popular em torno das reformas e desafios fundamentais para projetar um futuro de superação do paradigma capitalista neoliberal de exclusão e desigualdade.
Esse conjunto de desafios só reforça o acerto da aposta na Frente e a necessidade fundamental de sua permanência. Para o conjunto da esquerda está colocada a tarefa imediata de derrotar o golpe, retomar a democracia e um programa de transformações sociais. Lutar pelo direito de Lula ser candidato, com um projeto avançado de transformações está na ordem do dia, compõe nossa unidade e mobiliza nossa central. O lugar da esquerda e a própria esquerda do próximo período será construído na luta do presente.
Vida longa à Frente Brasil Popular!
* Janeslei Albuquerque é professora e Secretária Nacional de Relação com os Movimentos Sociais da CUT.
Fonte: Página 13 n. 174, dez. 2017