Por Jandyra Uehara (*)
Defender a vida é sobretudo um compromisso político e de luta com 60 milhões de desempregados, informais e desalentados por um auxílio emergencial decente que permita isolamento social, com 30 milhões com carteira assinada, que são obrigados a aglomerar no transporte públicos todos os dias, pois temem mais o desemprego do que o vírus. Compromisso com a defesa da vida de milhões de mulheres, a maioria delas negras, que perderam trabalho e renda e que sofrem literalmente na carne os efeitos colaterais da tragédia da pandemia dentro dos seus lares. Compromisso com a vida de milhares de jovens negros assassinados pela matança policial, com a juventude que diante do desemprego, da falta de perspectiva, de futuro e de utopias, extravasa e abarrota os pancadões da periferia em plena pandemia.
Os infortúnios, as tragédias, a doenças, as mortes e as consequências da crise e seus efeitos concretos têm impacto desigual mesmo no interior da classe trabalhadora, a cadeia de opressões e desigualdades mostra a cara, sem disfarces durante as crises – as mulheres e principalmente as negras seguem suportando sobre os seus ombros o peso maior das violências, da doença, das mortes, da perda do trabalho e da renda. Racismo se realiza – e sem possibilidade de punição legal – na situação de vulnerabilidade econômica e social da população negra, especialmente das mulheres negras.
Somos um país de 210 milhões de pessoas, com um fosso de desigualdades, pobreza e miséria e não venceremos a pandemia sem a inclusão da maioria da classe trabalhadora numa estratégia de enfrentamento. A política do salve-se quem puder, não salvará ninguém, enganam-se os que acreditam que conseguindo melhores condições de isolamento e vacina para determinados segmentos estarão a salvo. No ritmo que estamos, se não detivermos Bolsonaro e com ele o vírus do COVID, as consequências da falta de vacinas para todos, das novas cepas que se multiplicarão podendo inclusive atingir os poucos vacinados, os efeitos colaterais da violência social, da miséria, da desagregação familiar, do medo, da depressão, vai de alguma forma entrar na casa de cada um de nós.
Não tem salvação individual, nem de grupos ou de corporações. Só a luta de classes salva e possibilita as condições de enfrentamento global da pandemia e das crises.
Vacinação e testagem em massa, campanhas de conscientização, lockdown e medidas de isolamento social são impossíveis sem condições concretas de isolamento para a maioria do povo. Esforço nacional para o enfrentamento da pandemia dependem da injeção de recursos nos serviços públicos de saúde, assistência e educação. Como assegurar isto com um Congresso que prioriza a destruição destes serviços? É possível vacina, testagem, lockdown sem derrubar Bolsonaro e sua corte militar?
É possível derrubar Bolsonaro sem luta social, sem luta nas ruas? O “Fique em Casa” – que é correto para a vida cotidiana durante a pandemia- serve também para as lutas sociais? Salvaremos vidas somente com lives, atos simbólicos, manifestos, articulações nos bastidores do Congresso Nacional? Ficaremos na expectativa paralisante de setores da esquerda pela unidade com alguma fração da classe dominante que venha nos salvar? Se nós, dos partidos de esquerda, movimentos sociais e sindical e Frentes populares não chamarmos o povo para dar um basta e defender a vida, quem e quando o fará?
As eleições 2022 podem ser vencidas sem uma grande onda de luta social que altere a correlação de forças? E mesmo que fosse. É possível esperar longos 20 meses, até janeiro de 2023, com o governo Bolsonaro? Quantas vidas serão perdidas até lá?
Quantas vidas o povo americano que saiu às ruas em plena pandemia durante o Lives Matter salvou criando as condições para a derrota de Trump e uma reorientação política para o enfrentamento da pandemia?
Quantas vidas salvaram no Chile milhões de pessoas que foram às ruas? Haveria plebiscito por uma nova Constituição? O Chile seria hoje o líder da vacinação contra o Covid na América Latina?
E no Paraguai, qual será o efeito prático da faísca de rebelião lançada dos jovens que em manifestações de rua pedem renúncia do presidente por causa da omissão frente à pandemia?
Que nós mulheres, façamos do mês de março um grito de revolta, de luta e de esperança ecoar por este país. Nossa prioridade deve ser uma só: defender a vida do povo brasileiro, tudo para derrotar Bolsonaro, o maior aliado do vírus que existe no planeta.
Defenda a vida, fique em casa, só saia para lutar! Uma coisa depende da outra.
Em defesa da vida, nas ruas pelo Fora Bolsonaro!
(*) Jandyra Uehara é da direção executiva nacional da CUT e integra o Diretório Nacional do PT