Defender Lula Livre é defender a educação e a democracia!

por Roberto Nery e Lucas Bomfim

Durante os dias 20 a 22 de Julho, a UNE realizou seu  66º Conselho de Entidades Gerais (CONEG), na Universidade Nove de Julho, em São Paulo. Com mote ‘Educação, Liberdade e Democracia’, foram aprovadas três resoluções na plenária final: conjuntura política,  educação com plataforma eleitoral a ser apresentada aos candidatos destas eleições e de movimento estudantil, além de uma carta e moções, que podem ser encontradas no link a seguir: http://www.une.org.br/noticias/66o-coneg-reafirma-luta-em-defesa-da-democracia-e-da-educacao-publica/.

Na sexta, 20, foi dada a largada com a abertura do evento no auditório da UNINOVE. Porém, dias antes no credenciamento, foi possível ver algumas atas fraudadas e DCEs surpreendentemente criados na semana sendo apresentados, enquanto um DCE legítimo era recursado mesmo apresentando grande parte da documentação lavrada em cartório. Esse mesmo DCE teve cerceado seu direito de apresentar uma carta na plenária final, assim como vimos depoimentos de outras e outros estudantes que tiveram impedidos direitos de fala e afins, numa infeliz situação para uma entidade que já teve militantes mortos em decorrência da luta contra a censura.

No dia seguinte, tivemos mesas pela manhã e pela tarde, que iniciaram no horário, sendo oito eixos no total: Autonomia e Financiamento das Universidades Públicas; Precarização do Ensino Superior Privado e os Impactos da Reforma Trabalhista; Pesquisa, Ciência e Tecnologia: desafios e perspectivas; Políticas de permanência estudantil; Segurança pública e o genocídio da juventude negra; Perspectivas de trabalho para a juventude e economia nacional; Políticas públicas para a juventude e o combate às opressões; Democracia, participação e ativismo judicial.

Grande parte das intervenções da militância da Juventude da Articulação de Esquerda foram centradas na defesa da liberdade de Lula e seu direito de ser candidato, pois somente dessa forma teremos condições para revogar as medidas golpistas e avançar na construção de uma sociedade mais igualitária. Como pudemos ver nos nomes dos eixos, alguns temas foram unidos e isso contribuiu para que a grande parte dos debates fossem superficiais, apesar de serem sobre assuntos fundamentais.

Infelizmente, essa característica tem ficado recorrente nas atividades, além da falta de mobilização. Conforme escrito no texto de Movimento Estudantil que apresentamos, a UNE realizou uma tentativa frustrada de reconexão com as/os estudantes […] somente nos maiores polos das universidades, a UNE Volante chegou nos locais com atividades definidas e pouco flexíveis, não conseguindo atingir de fato as entidades de base e a comunidade estudantil.”

Porém, o Campo Majoritário que dirige a UNE, nomeado “a unidade é a bandeira da esperança”, não teve essa mesma impressão. Ao colocar nas suas falas que a UNE Volante foram grandes eventos e que a entidade liderou os últimos enfrentamentos ao governo golpista e a ofensiva neoliberal, desconsidera totalmente a desmobilização de boa parte das e dos estudantes do Brasil e, mesmo quando estes estiveram na resistência, como nas ocupações estudantis, tanto a UNE quanto a UBES foram expulsas de certos espaços, tendo até mesmo suas bandeiras queimadas. Esquece também que nos últimos tempos a entidade aparece somente em campanhas de marketing com adesivos e notas, sem uma resistência real perante os cortes nas universidades, contra a Emenda Constitucional 95 ou mesmo a nomeação de Mendonça Filho para o Ministério da Educação.

Importante também frisar que a dissolução do Campo Popular – que se apresentava como alternativa consequente para a direção da União Nacional dos Estudantes – pela ‘esperança’ que compor a ‘unidade’ poderia render frutos e mudar a entidade por dentro, ainda não se demonstrou acertada. A UNE esteve, nesse primeiro período de gestão, ainda mais imobilizada que se comparada com épocas anteriores, mesmo com a realização do 8º Encontro de Mulheres Estudantes em Juiz de Fora (MG) e o recente 3º Encontro LGBT da Une em Salvador (BA).

Tudo isso ficou nítido durante a plenária final, que logo após uma mesa com expressões políticas dos partidos que compõem a UNE e movimentos populares parceiros, com  discurso rebaixado, inclusive com falas condescendentes com a perseguição jurídica e a criminalização da política. Parece até mesmo que não temos o líder das pesquisas em QUALQUER CENÁRIO e Presidente da República entre 2003 e 2010 como preso político numa cela em Curitiba, além de se orgulhar em “não apoiar nenhum candidato no 1º turno”, como se não tomar posição não fosse estar do lado da classe dominante – ‘não posição’ que mesmo alguns jovens militantes do PT defenderam.

Ainda foi lançada campanha “Bolsonaro NÃO”, colocando que “as soluções à crise que vivemos passam pelo aprofundamento da democracia e não pelo retorno de ditaduras” ou com avanço do fascismo. Temos acordo com tal perspectiva, porém, ao agitar o nome do candidato do PSL à Presidência da República – inclusive fazendo todo material de divulgação da campanha antes mesmo da aprovação da mesma pelo CONEG – presta um desserviço ao contribuir para a difusão do mesmo e ao não nomear o inimigo central: o neoliberalismo. Diremos não a Bolsonaro, assim como a Alckmin, a Meirelles, a Rodrigo Maia, a Alvaro Dias, entre outros. Por isso defendemos uma campanha que seja contra o fascismo, contra o conservadorismo e contra o grande capital! Em todas suas expressões!

Por fim, devemos considerar os acertos desse CONEG. A aprovação da “Semana em Defesa da Educação e Democracia”, dos dias 06 a 15 de agosto, que culminará em Brasília na marcha para a garantia do direito ao registro da candidatura de Lula, é fundamental para retomada da UNE para próximo das pautas nacionais com uma luta efetiva na defesa dos direitos. Elogios também à JPT, pela capacidade de articulação conjunta para colocação desse ponto.

Também a aprovação do Conselho de Entidades de Base (CONEB) para o início de 2019 é fundamental. Como diz a resolução que o aprovou, “Retomar esse espaço é fundamental para fortalecimento da democracia interna da UNE e para a consolidação do movimento estudantil a partir das entidades de base, instâncias fundamentais da rede do ME com maior proximidade do dia a dia dos estudantes brasileiros”. Porém, essa instância somente funcionará se tiver caráter deliberativo com um modelo participativo e encaminhativo e com ampla mobilização das entidades de base, diferente dos seus últimos encontros.

O Brasil e a juventude necessitam de entidades que de fato sejam representativas e que efetivamente pautem a luta real das e dos estudantes. A UNE tem tudo para se manter como uma dessas entidades, não apenas pelo saudosismo dos seus 80 anos de história, mas pelas necessidades e contradições que a conjuntura apresenta. Mas para isso precisa de sair das negociatas e partir pra rua, com a base. Viva a União Nacional dos Estudantes!

Roberto Nery é graduando em Ciências do Estado na UFMG e Diretor da UEE/MG
Lucas Bomfim é graduando em Engenharia Química na UFS e Diretor da UNE

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