Por João Simas (*)
A diversidade é uma característica inerente à humanidade, que se manifesta em múltiplas formas de expressão cultural, religiosa, étnica, sexual, política e social. No entanto, a diversidade também é fonte de conflitos, discriminações, violências e injustiças, quando não é reconhecida, respeitada e valorizada como um direito humano fundamental.
As lideranças espirituais, que deveriam ser agentes de paz, harmonia e fraternidade, muitas vezes se tornam instrumentos de ódio, intolerância e exclusão, ao defenderem uma visão dogmática, sectária e absoluta da verdade, que nega e condena as diferenças e as minorias. Essas lideranças se baseiam em uma interpretação literal e descontextualizada de textos sagrados, que foram escritos em épocas e culturas distintas da atual, e que não levam em conta as transformações históricas, sociais e científicas que ocorreram ao longo dos séculos.
Essas lideranças se arrogam o direito de julgar e oprimir aqueles que não seguem os seus preceitos, ignorando o princípio da liberdade de consciência e de crença, que é garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Elas também se opõem aos avanços dos direitos civis, sociais e políticos das minorias, que buscam a igualdade de oportunidades, a dignidade e a cidadania plena. Elas se aliam a forças conservadoras e reacionárias, que querem manter o status quo de privilégios e de dominação de certos grupos sobre outros.
Essas lideranças espirituais, ao invés de promoverem o diálogo, o respeito e a convivência pacífica entre as diferentes crenças e culturas, alimentam o fanatismo, o fundamentalismo e o extremismo, que geram violações dos direitos humanos, conflitos armados, terrorismo e genocídio. Elas se esquecem de que a espiritualidade é uma dimensão que transcende as religiões, e que se expressa na busca de sentido, de valores, de ética e de transcendência, que são comuns a todos os seres humanos, independentemente de suas filiações religiosas.
As autoridades e os legisladores, que deveriam ser responsáveis pela garantia e pela promoção dos direitos humanos e da diversidade, muitas vezes se omitem, se corrompem ou se submetem aos interesses e às pressões das lideranças espirituais, que exercem uma influência política e econômica significativa na sociedade. Eles não cumprem o seu papel de representar e de defender os interesses e as demandas de todos os cidadãos, especialmente dos mais vulneráveis e marginalizados. Eles não elaboram e não implementam políticas públicas efetivas, que assegurem a educação, a saúde, a segurança, a cultura, o trabalho, a moradia, a participação e a inclusão social das minorias. Eles não fiscalizam e não punem os casos de violação dos direitos humanos e da diversidade, que ocorrem cotidianamente no país.
Diante desse cenário, é preciso questionar, criticar e resistir às práticas e aos discursos das lideranças espirituais, das autoridades e dos legisladores, que atentam contra os direitos humanos e a diversidade. É preciso também buscar, construir e fortalecer alternativas e movimentos sociais, que defendam e promovam a diversidade como um valor, um direito e uma riqueza da humanidade. É preciso, enfim, cultivar uma espiritualidade crítica, libertadora e solidária, que reconheça e celebre a pluralidade e a beleza das diferenças, que se comprometa com a justiça e a paz, e que se abra ao diálogo e à cooperação entre as diferentes tradições religiosas e culturais.
(*) João Simas é militante petista