Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia de preto velho exusístico na encruzilhada
“No papel duplo, a terceira via disputa a presidência e, na impossibilidade de vitória, dará apoio político-eleitoral, no segundo turno e com os golpistas unificados, para garantir a recondução de Bolsonaro à presidência.”
“Para vencer o PT e Lula, de acordo com o processo de 2018, a direita usa e usará a extrema direita, pois a extrema direita é a única força , na conjuntura atua brasileira, capaz de enfrentar, com base social, o PT e Lula.”
Nas ruas, com Lula e por um governo dos trabalhadores (as)
Bolsonaro é o pior governo da história recente brasileira. Mesmo assim e de acordo com pesquisas eleitorais, a despeito de ser antipreto, pobre e classe trabalhadora, o fascista tem 30% de apoio de eleitores (as). O que nos revelam os números das pesquisa? O fascismo e/ou o governo fascista não será vencido sem um forte, organizado e radical movimento de rua e convulsionado pelas ruas. Numa síntese, sem as ruas, os trabalhadores (as) e o campo negro-popular organizados, teremos dificuldades e não derrotaremos o golpe, os golpistas de 2016 e igualmente o fascismo encabeçado pelo governo Bolsonaro. O risco de fracasso eleitoral, sem a derrota do golpe, dos golpistas e dos fascistas pelo campo negro-popular e operário, é uma realidade, que será, é o que confiamos, contrariada pelas mobilizações, luta e hegemonia impulsionada pelas ruas.
Cresce a centralidade das ruas quando analisamos a composição ideologicamente fiel aos projetos fascistas.
A base fascista tem, na sua composição de classe média branca e branqueada, pastores e hegemonia em setores de base evangélica, de iniciados de variadas matrizes teosóficas, maçônicas e espiritualistas. A fração da burguesia branca, que sustenta Bolsonaro do ponto de vista da orientação fascista, é a mesma que desfruta dos privilégios racistas. Além dessa base social, que tem alcance popular e de fração da burguesia branca, há a adesão tática do conjunto da burguesia branca , racista e alojada, do ponto de vista de representação midiática, na Rede Globo e, no que concerne ao comando político e eleitoral, no DEM, PSDB , PMDB e nos partidos de aluguel que orbitam e ficam sob o comando dessa tríade. Há ainda, no núcleo duro de apoiadores (as) de Bolsonaro, o sistema policial militar e civil; quase um partido, o jurídico, as forças armadas, o agronegócio e alguns canais e veículos de informação que agem de modo direto na defesa e notadamente na campanha para a recondução de Bolsonaro ao comando do Brasil em 2023.
O medo para paralisar as ruas e Lula
O assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT, da cidade de Foz do Iguaçu, exige uma resposta organizada e forte da esquerda brasileira e não tão-somente o luto. A propósito do ocorrido, o luto não resolve e não responde à violência materializada pelo crime. A única maneira de reagir é a luta, a organização e autodefesa dos trabalhadores (as) e dos seus sindicatos e espaços de organização de classe. A violência tem, de um lado, um papel agregador para os fascistas; por outro lado, a violência fascista pretende intimidar o PT, sua base social e a esquerda em geral. Por expressar uma posição política e de comando, a violência passa sentimento, significado e sentido objetivo de força do bolsonarismo. Desse modo, um erro básico da esquerda e do campo negro-popular é fugir das ruas .
A violência é produção do bolsonarismo e da extrema direita
No Brasil, a violência não é produto da polarização, é de responsabilidade total do bolsonarismo. Ela é instrumento eficaz para o avanço da extrema direita e para a direita que conta com a extrema direita para vencer Lula e PT.
Não há polarização da extrema direita e da esquerda no que toca à violência, no entanto, a teorização antiPT e antiLula diz que existe no país uma polarização. Há, a rigor, um polo de extrema direita apenas pautando e praticando a violência. Não há discurso e ação da esquerda que sustentem essa interpretação falsa, que pretende igualar a força reacionária fascista, envergada por Bolsonaro e pelo Bolsonarismo, ao campo de luta e organização social de esquerda, que está com Lula. Leitura falsa da violência no Brasil, no país há via única; a violência deve ser creditada exclusivamente ao bolsonarismo e ao arco de extrema direita.
Na conjuntura atual brasileira , a violência desnuda a natureza criminosa do bolsonarismo. A política do medo e da agressão criminosa é meio para consolidar o terror fascista, que pretende ocupar sozinho as ruas e os sistemas de discurso. Não é um dado fora desse contexto, apesar de ser um fato isolado, o assassinato de Marcelo Arruda. O crime revela uma política e tendência emblemática e, sobretudo, intimitadora do fascismo. Imprensa e direita dizem que é resultado da polarização; negrito, assassinato não é confrontação ou polarização, não bate com a leitura da realidade; o sistema de discurso da direita, que fala recorrentemente do mito ou da fábula dos dois demônios, isto é, da equivalência, no que tange à violência, da esquerda e da extrema direita. O extremismo no Brasil tem nome, corpo, endereço social e é veículo e veiculado pelo bolsonarismo, que recebe apoio da direita e das instituições asseguradoras dos privilégios para a burguesia nacional e branca.
É fundamental enfrentar o projeto fascista sem recuos e ocupando as ruas, com Lula, e defendendo um governo dos trabalhadores (as) e para os trabalhadores (as) .
Neste sentido, sem medo e nas ruas, os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos de esquerda precisam de organização para autodefesa dos seus filiados (as), simpatizantes e igualmente para a proteção e uso dos seus espaços orgânicos e sedes.
A terceira via e o seu duplo papel no cenário político e eleitoral
Existe uma efetiva polarização no contexto político e eleitoral brasileiro. De um lado, temos Lula e o governo dos trabalhadores (as) como possibilidade, do outro lado, na extrema direita, Bolsonaro é um governo antipovo e antisoberania nacional. Ao lado e não contra a extrema direita, emerge a terceira via. O discurso nuclear da pré-candidata do PMDB , Simone Tebet , apresenta a mesma versão utilizada para igualar a violência do fascismo aos processos de luta dos trabalhadores (as).
A tática eleitoral e ordinária da frente ampla tenta igualar Lula a Bolsonaro. No texto de Simone Tebet (PMDB) , o país não avançará assim. No dizer dela, o avanço , na superação da polarização Lula e esquerda x Bolsonaro e extrema direita, virá dos golpistas e da terceira via. Setores da imprensa branca capitalista repetem a mesma toada. No percentual de voto de Simone Tebet, a imprensa no cômputo tem os votos de Ciro Gomes, que é voto chancelado pela tarja ideológica e de classe antiPT e antilula e, por equivalência, é voto da base fragmentada do PSDB. O jogo está aberto e a terceira via , que tem duplo papel no processo eleitoral e no político de longa duração, mostra que tem importância substantiva para o projeto político e eleitoral antiPT, antiLula e a serviço da burguesia brasileira e principalmente do imperialismo. No papel duplo, a terceira via disputa a presidência e, na impossibilidade de vitória, dará apoio político-eleitoral, no segundo turno e com os golpistas unificados, para garantir a recondução de Bolsonaro à presidência.
Direita histórica e extrema direita estão na conjuntura e estrategicamente contra PT e Lula
Para vencer o PT e Lula, de acordo com o processo de 2018, a direita usa e usará a extrema direita, pois a extrema direita é a única força , na conjuntura atua brasileira, capaz de enfrentar, com base social, o PT e Lula. O acúmulo de força da extrema direita se dá pelo canal da violência e pelo apoio contínuo que recebe da direita brasileira. A hegemonia bolsonarista no Congresso e Senado, é exemplar, conta com os chamados “democratas” de direita, que são apoiadores (as) e sustentadores da extrema direita. A PEC do Estado de Emergência é um retrato dinâmico da histórica articulação da direita, que se apresenta como democrática, com a extrema direita . A aprovação da PEC do Estado de Emergência que, antes de socorrer os pobres, é instrumento notadamente orientado para a compra de votos, revela o papel das instituições burguesas no apoio tático-eleitoral ao bolsonarismo. A direita e a burguesia historicamente e na História, no desenvolvimento da luta de classe , se apresenta como é, classe socialmente antípoda à classe trabalhadora.
Para fechar a reflexão, registro que foi errado e lamentável o papel e “intervenção” da esquerda eleitoral no processo.
(*) Fausto Antonio – Escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab- Bahia