Por Fausto Antonio (*)
A manchete acima, EUA proíbem vacina russa no Brasil, é uma inferência, objeto e retrato em movimento da disputa geopolítica atual. O artigo, no conjunto, pretende responder, a partir de associações diretas e indiretas, às indagações seguintes: qual a relação da escolha, ou melhor, imposição da vacina Pfizer, o golpe de 2016 e os BRICS? As respostas pedem leitoras e leitores de encruzilhada e aptos ao exercício coautoral. Apresentada a chave interpretativa, vamos aos fatos.
A aplicação da vacina, no contexto brasileiro com mais de 435 mil mortos, potencializa a guerra pelo controle de mercado e, na mesma pauta, a disputa interna e externa, via EUA, para impedir a vacina russa no território brasileiro. A solução, no processo vacinatório, virá para reabilitar eleitoralmente o governo Bolsonaro que, com a mão direta ou direita do imperialismo, viabiliza e viabilizará a vacina Pfizer. Não se trata apenas da sanha financeira da indústria farmacêutica e de medicamentos. As escolhas, no tocante às vacinas, exigem a compreensão retrospectiva e prospectiva do Golpe de 2016 e dos alvos da operação Lava Jato, que atingiu; na esfera nacional, diretamente o governo da presidenta Dilma, o PT e principalmente o ex-presidente Lula e, no contexto mundial, os BRICS.
EUA dirigem golpe contra o Brasil e os BRICS
Ao olharmos para os BRICS, entendemos perfeitamente o que está em jogo no que toca à vacina e à operação Lava Jato. A propósito da Lava Jato, é necessário enfatizar que é e foi uma operação geopolítica dirigida pelos EUA. As elites internas brasileiras, a burguesia nacional branca, seguiram à risca o comando vindo do norte. No núcleo dos interesses de rapina, voltados explicitamente para os recursos petrolíferos e igualmente para neutralizar os avanços econômicos e de resistência ao poder bélico e de opressão da OTAN e dos EUA, o alvo era o governo democrático e popular, que era, com Lula notadamente, o fio condutor dos BRICS.
Posto que o golpe está em marcha, avulta a pergunta: o que impede o Brasil de ser o Brasil? O que significa o Brasil no cenário mundial e especialmente no contexto dos BRICS? A resposta exige uma visada sistêmica, no entanto, a burguesia brasileira entreguistas e o comando imperialista explicam, com exceção ao governo Lula, o Brasil e o seu lugar subalterno na geopolítica mundial. Sendo assim, o golpe de 2016, dirigido pela ação e pelo serviço de inteligência dos EUA, foi conduzido internamente pela Lava Jato. A Rússia, na voz de Vladimir Putin, conforme informação de domínio midiático, avisou a cúpula do PT e a presidenta Dilma, que a operação Lava Jato era a base e o corpo de um golpe de Estado; sem dúvida, orquestrado pela máquina de opressão política e de poder do império estadunidense.´ As razões centrais do golpe precisam ser repassadas e derrotadas; pois não há notícias de derrotas do imperialismo sem processos de luta , contragolpes e revoluções.
O país hegemonizado pelas elites vira-latas, historicamente marcado pela submissão aos acenos e aos domínios dos EUA , experimentou nos governos Lula uma liderança mundial, às avessas dos EUA e OTAn, sem armas, isto é, sem a opressão bélica e intervencionista, que caracterizam a constituição e ação do império EUA e OTAN. A guerra de Lula era contra a fome. O migrante nordestino, operário na origem , não servia ( e não serve) para os interesses conjugados da elite branca boçal brasileira e do imperialismo. O PT histórico, rizoma de tantas lutas dos trabalhadores (as), tinha de ser vencido; e se possível banido, por uma política totalitária comandada pelas empresas de comunicação, pelo sistema jurídico, militar e parlamentar.
A partir dessa base e realidade política concreta e da sua existência sistêmica , há o advento da Lava Jato. Cia, FBI e o estado profundo dos EUA constituem o corpo e alma da Lava Jato. No domínio interno, os sistemas jurídico, militar, policial, parlamentar e midiático, vozes e instrumentos da classe dominante branca brasileira, cumpriram o papel subalterno de mobilização jurídico-midiática e parlamentar contra o PT, o governo Dilma, e especialmente na perseguição e prisão política do ex-presidente Lula. O golpe de 2016, operação política e geopolítica, pensada e dirigida pelos EUA e por colunas como o lesa-pátria Moro, só será derrotada por uma convulsão negro-popular vinda das ruas. Não é difícil compreender que as instituições e o Estado brasileiro estão sob a tutela do imperialismo. No jogo eleitoral de 2022, não há mais tempo para vacilos. Afirmar Lula é, antes de tudo, apostar no chão da sociedade brasileira e num processo convulsionado ,que parta apenas taticamente do eleitoral ; o acesso ao governo, para enunciar a chegada ao poder com um programa radicalmente orientado pelos interesses da classe trabalhadora.
(*) Fausto Antonio é professor da Unilab, escritor, poeta e dramaturgo