Por Valter Pomar (*)
Está de volta a “bússola do PT”. Com frases deste tipo, muita gente comemorou a recente decisão judicial que acumula para restituir os plenos direitos políticos de José Dirceu, ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores .
A citada decisão foi baseada no mesmo padrão adotado no caso de Lula. Ou seja: as mesmas instituições que, no passado, avalizaram o mérito das barbaridades cometidas pela Lava Jato, agora dizem que houve falhas no método. E, com base nisso, anulam os processos. O mesmo foi feito no caso de Marcelo Odebrecht e outros.
Quem vai pagar pelos danos causados? Quem vai reparar os estragos provocados pelos governos Temer & Cavernícola? Os atuais ministros do STF que foram cúmplices vão continuar julgando??
Aliás, quem vai pagar pela decisão judicial, também de ontem, que garantiu a Moro – aquele mesmo – seu mandato?
Por todos estes motivos, é prudente fazer uma análise mais refletida sobre o papel do judiciário, antes e agora. Talvez esta análise venha a ser feita, futuramente, mas no momento – ao menos em dois grupos de “zap” de que participo, o que mais tenho lido são declarações entusiasmadas pelo “regresso do comandante”, que “precisa voltar a fazer parte do Diretório Nacional do PT”
De fato será muito útil que Dirceu volte ao DN, cabendo ressaltar que se ele não está lá hoje, não é por conta de uma decisão judicial, mas sim por conta da opção que prevaleceu, em determinado momento, em determinada tendência.
Alias, é dos integrantes desta tendência que partem as maiores comemorações.
Compreensível: a chamada “Construindo um novo Brasil” passa por momentos difíceis, com muitas divisões e certa dificuldade, digamos assim, de lidar com alguns dos efeitos colaterais da política adotada nas eleições de 2022.
Zé Dirceu “de volta” gera, em alguns setores do Partido, a ilusão de que “os bons tempos” também vão voltar. Mas é pouco provável que isso ocorra, ao menos no sentido que certas pessoas interpretam.
Primeiro, porque a estratégia defendida por Dirceu naqueles “bons tempos” mostrou seus limites já naquela época. Segundo, porque a situação atual é muito diferente e muito pior. Terceiro, porque a linha atualmente defendida por Dirceu – conforme se pode ler nos seus textos e entrevistas – tem seus méritos, mas tem o grande defeito de bater continência para a política implementada por Haddad, política que é o principal obstáculo para a superação das dificuldades do nosso governo e de nosso partido. Finalmente, cabe lembrar que Dirceu agora “está de volta” aos processos eleitorais; mas sua injusta interdição nunca o impediu de participar, em maior ou menor medida, dos debates da esquerda brasileira.
Um último comentário: temos sim um problema de “bússola”, embora cada um tenha a sua preferida. Mas temos também um problema de velocímetro. Planos de voo do tipo “marcha lenta e segura durante 12 anos”, só servem (mas nem sempre) para quem controla o poder de Estado. Para nós, que nem o governo controlamos, é preciso menos mediocridade e cautela, é preciso muito mais velocidade e audácia.
Foi algo assim que pensei e disse, aliás, quando entrevistei Dirceu, “a long time ago”, para o hoje falecido jornal Brasil Agora. Naquela ocasião tomei contato pela primeira vez com a “teoria” dos sucessivos governos cada vez mais progressistas, que seriam necessários antes que um dia pudéssemos ter um governo verdadeiramente democrático-popular. Como sabemos, antes desse dia chegar, fomos abatidos em pleno voo.
Hoje corremos o mesmo risco. Só não vê quem não quer.